A mentira administrativa de Tarcísio
- Detalhes
- Raquel Rolnik
- 26/06/2024
"Sinto-me num filme de ficção científica, no qual vejo na televisão uma propaganda de prédios exuberantes, que não dialogam com a arquitetura, uma ficção científica em cima da minha vida, enterrando a minha história, literalmente. Aqui no Brasil a gente apaga muitas histórias e isso é ruim. Me sinto mal, não durmo, estou abalado, porque não tem nada claro para nós”. O relato é do professor da rede pública estadual de São Paulo Odair Paulo, que há mais de duas décadas trabalha no bairro Campos Elíseos, no Centro de São Paulo, onde, encantado pela região, comprou um apartamento próximo à Praça Princesa Isabel.
No local onde construiu sua história, teceu relações e imaginava seguir no futuro, Odair Paulo soube pela imprensa que seria desapropriado, ou “literalmente despejado de seus sonhos”, como compartilhou comigo e dezenas de pessoas que acompanhavam audiência pública realizada na última quinta-feira (6) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Odair é um dos 800 moradores que correm o risco de perder suas casas para o projeto do governo de São Paulo de transferência de sua sede para a região central. Um plano repleto de ilegalidades, que ignora a população local para promover terra arrasada sob o argumento de que uma suposta concentração de órgãos promoverá economia e revitalizará o Centro. Mas o que o governo do estado de São Paulo não tem revelado é que dos 54 órgãos estaduais localizados na capital de São Paulo – entre secretarias, empresas e autarquias, com exceção de universidades e hospitais – 27 deles já estão instalados na área central, como expõe levantamento do pesquisador Pedro Lima do LabCidade.