Correio da Cidadania

Em memória de Pedro e Vagner

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Em 16 de fevereiro de 2005, 14 mil pessoas foram brutalmente despejadas da Ocupação Sonho Real, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia (GO), através da Operação Noturna Criminosa da Polícia Militar, provocando inclusive o assassinato de Pedro e Vagner (Livro-Agenda Lat.-americana Mundial 2022).

A data - por representar uma das piores barbáries humanas não só da história de Goiânia, mas também do Brasil e do mundo - entrou, há anos, no calendário latino-americano mundial, para que sua memória não seja esquecida e nunca mais se repita uma barbárie como essa. Fazer sua memória - ou seja, torná-la presente - fortalece a resistência e a luta do povo por seus direitos.

O direito à moradia digna é um direito fundamental e sagrado de toda pessoa humana e, consequentemente, o direito à ocupação de terras sem função social, “largadas” para fins de especulação imobiliária.

A desocupação ocorreu através da cinicamente chamada Operação Triunfo, que contou com a mobilização de 1,8 mil militares. A ação policial durou cerca de uma hora e trinta minutos e - pelo seu nível de maldade e crueldade - foi uma verdadeira operação de guerra nazista contra os pobres. Durante o massacre, Pedro Nascimento da Silva, de 27 anos (companheiro da lutadora Eronildes) e Wagner da Silva, de 20 anos, foram mortos a tiros. 40 pessoas foram feridas a bala (ficando uma paraplégica) e 800 foram detidas. Várias pessoas desapareceram e, por isso, levantou-se a suspeita de mais vítimas fatais não identificadas.

Antes da Operação Triunfo, a Polícia Militar realizou - de 0 às 6h e por 10 dias - a também cinicamente chamada Operação Inquietação com o intuito de assustar os moradores (muitas crianças ficaram traumatizadas) e desmobilizá-los. Pelo requinte de crueldade e perversidade, foram duas Operações diabólicas. Os responsáveis pela Operação Triunfo tiveram o descaramento de dizer - citando São Paulo - que os militares “combateram o bom combate”: uma verdadeira blasfêmia.

Após o despejo, durante a permanência dos Sem-Teto nos Ginásios do Novo Horizonte e da Capuava (três meses) e no Acampamento provisório do Grajaú (três anos), várias pessoas morreram por causa das condições insalubres de vida. Não dá para entender como tamanha barbárie humana possa ser até hoje impune! É realmente inacreditável! Os principais responsáveis por essa barbárie foram o Governador Marconi Perillo com seu Secretário de Segurança Pública, Jonatas Silva e o Prefeito Iris Rezende Machado.

Acompanhei pessoalmente a diabólica operação de guerra, abraçando os Irmãos/as e partilhando sua dor. O lado de Jesus de Nazaré é o lado dos Pobres e o lado dos Pobres é o nosso lado. Unidos e unidas lutamos pelos três “T” (papa Francisco): Terra, Teto e Trabalho. Pedro e Vagner: PRESENTES!

                       
Frei Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Goiânia, 16 de fevereiro de 2022

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