Correio da Cidadania

“Temos de exigir políticas públicas condizentes com o tamanho da encrenca"

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Múltiplas crises como as que a população gaúcha enfrenta desde a última enchente, que atingiu 447 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, deixando mais de 538 mil pessoas desalojadas, demandam posicionamentos e desafiam a sociedade a enfrentar politicamente os efeitos das mudanças climáticas, juntamente com outra questão antiga: o planejamento das cidades. Este foi o alerta feito pela arquiteta e pesquisadora dos espaços urbanos, Luciana Ferrara na videoconferência “Cidades neoliberais no contexto da mutação climática. Conflitos e desafios psicossocioambientais”, promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU na quinta-feira, 09-05-2024.

Segundo ela, “as cidades mantêm uma forma de produção de desigualdades. São criados espaços de qualidade em alguns bairros e empreendimentos, enquanto o restante da cidade, a parte que concentra maior população, principalmente de baixa renda, vive em condições de incompletude de infraestrutura, maior exposição aos riscos de deslizamento e hidrológicos, que dependem mais da política pública”. Da mesma forma, sublinha, “o tratamento dos conflitos ambientais é muito diferenciado quando se trata de territórios ocupados por populações de baixa ou alta renda”.

Apesar de o Rio Grande do Sul ter sido afetado por três enchentes nos últimos oito meses, Luciana destaca o grau de incerteza sobre novos eventos climáticos e a necessidade de enfrentar os efeitos psicossociais conhecidos. “Os impactos psicossociais são enormes, acarretando traumas e perdas. Essa situação afeta enormemente o cotidiano das pessoas que perdem tudo. Tem pessoas que vivem nessa situação de perder tudo há muitos anos. (...) O Estado tem que se envolver na participação social pela busca de soluções em todos os momentos desse processo, seja na urbanização das cidades fora de contexto de emergência, seja em contexto de emergência, atuando para que as pessoas saibam agir e possam se proteger. Temos que exigir políticas públicas condizentes com o tamanho da encrenca em que estamos metidos”, adverte.

A conferência completa está publicada a seguir, no formato de entrevista. A programação completa do ciclo de estudos Ebulição global. O Novo Regime Climático e seus desafios psicossocioambientais no Brasil está disponível aqui.