Correio da Cidadania

A reconstrução de um contrapúblico da oposição de esquerda (2013, 2023 e além)

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Todos os eventos, presenciais ou virtuais, sobre os 10 anos de Junho de que eu participei no decorrer do intenso mês de junho de 2023 (seja como ouvinte, seja como palestrante) tinham duas características em comum, em termos de tentar: 1) resgatar e intensificar a circulação de uma memória alternativa sobre Junho de 2013 (alternativa com relação ao senso comum "ovo da serpente", sobre o qual não vou perder tempo aqui (1)); 2) reconstruir um contrapúblico que eu chamaria de oposição de esquerda.

Ideias não circulam em um vazio, mas sim em públicos, isto é, redes ou arenas criadas pela interação de pessoas, instituições e textos ou discursos. Quando esta rede entra em uma relação de choque, fricção, repulsa ou transgressão com as normas, valores e significados propalados por públicos maiores e dominantes, estes públicos menores e subordinados podem, portanto, ser chamados de "contrapúblicos" (2). E "oposição de esquerda" ao PT, obviamente (3). Trata-se hoje, como há 10 anos, de uma frente ampla, que reúne pessoas e instituições com inúmeras divergências, mas que se unem, de um modo ou de outro, pela atribuição de um significado positivo à revolta (que pode atender por diferentes nomes: levante, rebelião, insurreição, insurgência etc.). A corrente majoritária do PT, por sua vez, tem repulsa e horror à revolta, por motivos que não importa aqui desenvolver, apenas constatar (o que pode ser sintetizado no termo Esquerda da Ordem); contudo, ressalvo que na organização de eventos e coletâneas nesta efeméride de 2013, existe uma vertente minoritária da esquerda do próprio PT que aceita debater, conviver e colaborar com anarquistas, autonomistas, socialistas e comunistas, uma vez que não atribui significado negativo à revolta (4).

O evento que durou um dia inteiro (24 junho de 2023) na Casa do Povo organizado por uma frente ampla da esquerda e extrema-esquerda (MPL-SP, Jacobin Brasil, Autonomia Literária e outras editoras e instituições) foi bastante paradigmático deste contexto de públicos e ideias, além de seus nada desprezíveis dissensos, desafios e dilemas. A seguir, resumo de modo parcial alguns dos principais temas das mesas que ocorreram, relacionando com alguns dos argumentos que tenho buscado desenvolver em intervenções no debate público. Ou seja, minha intenção aqui não é propriamente realizar mais um balanço sobre o passado histórico, seja do acontecimento de Junho de 2013, seja dos seus desdobramentos posteriores, mas sim, partindo da descrição de um evento singular sobre os seus 10 anos, vislumbrar alguns dos bloqueios e dos potenciais para o avanço das lutas sociais na passagem do presente para o futuro.

De saída, a primeira mesa era composta por (co)autores e (co)organizadores de livros sobre Junho de 2013 eleitos por este contrapúblico da oposição de esquerda como relevantes (5). Minha leitura foi que as múltiplas divergências entre os debatedores ficaram apenas latentes (só sendo explicitadas um pouco mais na última mesa) e o ponto em comum entre todos os debatedores foi a defesa de que Junho de 2013 precisa necessariamente ser analisado e explicado pela chave da luta de classes (mesmo que a luta de classes tenha sido concebida de modos diversos em cada intervenção, dando ênfase na degradação neoliberal do mundo do trabalho ou na reprodução social fora dos locais de trabalho como o solo a partir do qual nascem os movimentos sociais populares), o que contrasta com as leituras que circulam mais intensamente na grande mídia (mais centradas no sistema político, como crise de representação) ou no público lulista (de modo geral centradas em uma espécie de determinação geopolítica, em última instância, com os protestos sendo reduzidos a uma fabricação estrangeira que manipulou pessoas a fim de desestabilizar um regime político supostamente não-alinhado aos EUA).

Mesmo sem ser capaz de desenvolver mais profundamente aqui minha perspectiva, tenho defendido que, embora a luta de classes seja inescapável para a interpretação do ciclo de protestos dos anos 2010 no Brasil (afinal de contas, testemunhamos um verdadeiro ciclo de greves (6) que durou, no mínimo, entre 2012 e 2016, mas que poderia ser identificado como tendo seus primeiros sinais em 2011 e seus últimos suspiros em 2017), existem pautas e lutas que não podem ser facilmente reduzidas a ela.

Em seu livro recém-publicado, Angela Alonso (7) cria uma explicação que identifica os protestos de junho de 2013 como a culminação do acirramento de três “zonas de conflito”: 1) redistribuição (de renda, de recursos e de terras); 2) moralidade (moral privada – “costumes” – e moral pública – “corrupção”); 3) violência legítima do Estado (seja pela via da segurança pública, seja pela via do confronto em torno da memória da ditadura militar). Se, por um lado, ela amplia o foco analítico, por outro, ela não parte de um quadro teórico que integre estas três zonas de conflito: por que estas e não outras? Tratou-se de procedimento indutivo a partir de um banco de dados de eventos de protesto?

O último livro de Nancy Fraser (8) avança exatamente no sentido de integrar a multidimensionalidade de fenômenos, processos e lutas em um quadro teórico-crítico que revela uma raiz única, no capitalismo entendido como uma ordem social e não apenas uma esfera econômica. Ao apresentar uma sistematização original de múltiplas vertentes de marxismos heterodoxos (marxismo negro, marxismo feminista, ecomarxismo etc.), ela demonstra que as crises de hegemonia dos regimes históricos de acumulação de capital não decorrem apenas da luta de classes, mas também do que ela chama de lutas de fronteira. Isto é, lutas sociais nas quais grupos sociais dominantes e subalternos entram em conflito para reinterpretar simbolicamente e redesenhar institucionalmente quatro fronteiras com o que ela chama de panos de fundo ou condições de possibilidade da acumulação do capital, que são sistematicamente obscurecidos pelo marxismo ortodoxo: 1) exploração e expropriação; 2) produção e reprodução; 3) sociedade e natureza; 4) economia e política. Com este quadro teórico complexo, Fraser mostra que os diferentes sistemas de opressão (classe, raça, etnia, gênero, sexualidade, “especismo” etc.) tem bases estruturais no capitalismo, mas sem se comprometer com qualquer abordagem funcionalista, já que ela coloca no centro de sua análise as disputas simbólicas: a construção, desconstrução e reconstrução de significados contestados (hegemônicos vs. contra-hegemônicos).

Vejamos, então, como os debates posteriores do evento na Casa do Povo acabaram tensionando o ponto de partida do consenso de que a luta de classes tem uma capacidade explicativa totalizante, o que acaba por expor as limitações desta tese economicista e, assim exige uma ampliação do marxismo ortodoxo em direção aos marxismos heterodoxos, com a irrupção das lutas de fronteira, mesmo que esta não fosse a intenção original e explícita de seus debatedores.

A mesa seguinte cumpriu uma função de combater o apagamento histórico de desdobramentos à esquerda de Junho de 2013, destacando os efeitos positivos da revolta popular nos movimentos sindical, indígena, secundarista e nas torcidas organizadas. Além destas lutas terem sido potencializadas de diferentes modos (sempre em uma chave da esquerda radical), ficou evidente como Junho de 2013 não foi composto por uma massa amorfa e acéfala de jovens despolitizados de classe média (termos que circulam impunemente entre acadêmicos e jornalistas), mas foi, do contrário, um processo de politização, de criação de consciência política em pessoas que não se sentiam representadas ou confiavam na política institucional tradicional (ou seja, no sistema político-partidário como um todo e no PT em particular) por motivos absolutamente justificáveis.

Como Heudes Cassio, ex-secundarista, sintetizou muito bem, Junho de 2013 foi para ele um aprendizado de como a política pode ser feita fora dos gabinetes. Esta "política das ruas" aposta em ações diretas para lutar por direitos sociais (como nas revoltas de 2013 em torno do transporte público ou nas ocupações secundaristas de 2015-16 em torno da educação pública) (9). A criação de uma causalidade simplista, linear e mecânica entre Junho, o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a eleição de Bolsonaro em 2018 depende da invisibilização desta luta e de diversas outras que ocorreram nos anos posteriores a 2013 (10).

A terceira e a quarta mesas resgataram temas cruciais para a oposição de esquerda, em especial para a vertente composta por autônomos, autonomistas e anarquistas que hegemonizaram este campo no início do ciclo de protestos que vivemos na década passada: 1) a Polícia Militar; 2) a questão urbana.

Houve uma leve divergência entre debatedores se a atuação violenta e repressiva da PM em Junho de 2013 teve um caráter singular (com relação ao que havia sido estabelecido no pacto de 1988, separando violência e política) ou se foi tão somente uma reprodução de um padrão histórico que vem desde o século 19 (11). De qualquer modo, para mim ficou explícito que um dos elementos centrais para se interpretar a violência da PM é o processo de racialização, uma vez que o argumento de um dos debatedores foi que o contexto de surgimento da PM é a passagem do controle privado de pessoas negras escravizadas para o controle público da população negra liberta. Se esta hipótese está correta, além do imbricamento entre questão urbana, transporte público e luta de classes como raiz explicativa de Junho de 2013, precisaríamos levar em consideração a luta de fronteira entre exploração de classe e expropriação racializada, tal como concebida pela última Fraser.

A última debatedora desta mesa, uma representante do Intervozes, trouxe a função que a grande mídia cumpre ao legitimar a violência policial com os programas policialescos; e ela também trouxe a hipótese, com a qual eu concordo, que a virada na cobertura da mídia entre 13 e 17 de junho de 2013 foi muito menos um plano político de manipular a direção dos protestos e muito mais uma reação corporativa diante do paradoxo de que os editoriais dos grandes jornais clamaram durante dias pela intensificação da repressão aos manifestantes, mas no exato momento em que a PM atende a este pedido autoritário, seus próprios funcionários são atingidos com violência e balas de borracha (e a negação por eles exigida da liberdade de manifestação se torna negação da liberdade de imprensa para si próprios).

A quarta mesa debateu a questão urbana sujacente a Junho de 2013 (12). Tanto (ex-)ativistas do MPL quanto especialistas (do urbanismo ou dos transportes) sempre insistem que a fagulha da revolta ter ocorrido com base na questão do transporte público não é aleatória, mas tem uma razão de ser, destacando que as revoltas populares urbanas são parte da realidade histórica brasileira desde o final do século 19. Tenho defendido (13) que este histórico de revoltas – a Revolta do Vintém em 1879-80, os quebra-quebras em São Paulo em 1947, a paralisação dos bondes no Rio de Janeiro em 1956, a Revolta das Barcas em Niterói em 1959, o quebra-quebra em Salvador em 1981 e muitos outros episódios – são, mais do que exemplos de espoliação urbana, indicativos da existência de uma economia moral (14) em torno do transporte público. Aqui eu não poderia deixar de homenagear o saudoso Lúcio Kowarick, cientista social incontornável para o estudo crítico das lutas sociais urbanas. Em um exemplo de sua grandiosidade intelectual, ele apresentou em um evento de homenagem (15) à sua obra clássica uma verdadeira autocrítica de que quando ele cunhou inicialmente a noção de espoliação urbana – a soma de extorsões refletidas na precariedade ou inexistência de serviços de consumo coletivo socialmente necessários para a reprodução dos trabalhadores no espaço urbano – ele ainda não havia lido a obra de E. P. Thompson; por este motivo, sua abordagem da questão urbana ainda era excessivamente estruturalista, determinista e dedutivista.

Ao entrar em contato com a obra do historiador marxista britânico, Kowarick percebeu que não era possível deduzir as lutas sociais a partir de condições objetivas e macroestruturais. O que faltava em sua análise eram as mediações entre as estruturas e a ação coletiva: a produção de experiências, sentidos, significados e subjetividades (16). Como defendeu Lucas Monteiro, ex-militante do MPL-SP em uma live (17), tal produção de experiências passou, em grande parte, por um intenso e microscópico trabalho de base do movimento nos 8 anos anteriores à eclosão da revolta de 2013, voltado em especial para secundaristas de escolas públicas e privadas espalhadas por toda a cidade de São Paulo.

Além da dimensão do passado histórico de revoltas populares urbanas (sejam elas na longa duração entre os finais do século 19 e do 20, sejam elas na média duração do pós-2013), também foi debatido no evento da Casa do Povo o futuro da luta por transporte público, diante da surpreendente adesão de prefeitos que majoritariamente não são de esquerda à proposta da tarifa zero; por que isto está acontecendo e o que isto significa para os movimentos sociais que lentamente construíram a legitimidade desta pauta na esfera pública? Como explicar que, em 2016, o então prefeito Fernando Haddad (PT) citava o economista neoliberal Milton Friedman (“there is no free lunch”) para comparar a tarifa zero a uma viagem gratuita à Disney (18), buscando deslegitimar os ativistas do MPL por meio da sua infantilização e, hoje, o atual prefeito da mesma cidade de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), aventa a possibilidade de propor a tarifa zero a fim de barrar a eleição de Guilherme Boulos (PSOL) (19) em 2024? Para mim, este deslocamento discursivo em apenas 7 anos é um enorme indício de que as fronteiras entre os poderes políticos públicos e os poderes econômicos privados estão sendo atualmente redesenhadas para além do senso comum neoliberal, o qual entrou em crise (20). Destaco, a seguir, as falas de dois debatedores no evento da Casa do Povo.

Raquel Rolnik, urbanista, apresentou a interpretação de que a base estrutural do modo de funcionamento do sistema político (21) é a questão urbana; é por meio da negação dos direitos sociais de cidadania para as classes populares que se cria o clientelismo e o fisiologismo, pois os profissionais do sistema político em âmbito municipal negociam tanto com o grande capital do setor imobiliário quanto "entregas" para os excluídos, que lhe retribuem com votos. Ao final de sua fala, ela explicita que esta "economia política da corrupção" (meus termos) não foi enfrentada pela esquerda institucional e, portanto, nem se articulou uma reforma política com uma reforma urbana, nem foi capaz de disputar a construção simbólica deste fenômeno real com a direita (que simplificou a corrupção em uma chave antipetista e antiesquerda) (22).

Já Paique Santarém, militante do MPL-DF, fez uma brilhante fala que articulou de modo sociologicamente complexo a estrutura (a economia política do transporte público urbano) e a agência (dos movimentos sociais), concluindo que a recente adesão da direita à Tarifa Zero não é um "sequestro da pauta", mas sim uma vitória histórica do movimento, uma vez que a ação direta das revoltas de 2013 elevou o custo político do aumento da tarifa. Não sei o quanto a sua leitura é tributária do operaísmo italiano (que articula o desenvolvimento das forças produtivas com a luta de classes), mas foi neste quadro que eu situei a complexidade de sua intervenção (23). Um ponto que não foi debatido diretamente na mesa foi: o que significa então esta mudança estrutural pós-2013 para o futuro, não apenas das pautas e táticas dos movimentos em torno do transporte público, mas também das revoltas populares urbanas no Brasil contemporâneo?

Estas reflexões sobre a economia política da corrupção e a economia política do transporte mostram, no meu entender, que a luta de classes novamente não esgota a explicação da gênese de Junho de 2013, muito embora ela seja, repito, fundamental. Novamente, a noção de luta de fronteira de Fraser – desta vez voltada para a fronteira entre economia e política – pode ser mobilizada para avançarmos na compreensão multidimensional da gênese da revolta popular, inclusive de como se conectam o que sempre aparece nas análises como fenômenos díspares ou até mesmo opostos (a pauta pela revogação do aumento da tarifa e a pauta anticorrupção).

Por fim, a última mesa explicitou aquelas divergências que tinham ficado apenas latentes no início do evento. O título da mesa prometia respostas à questão formulada classicamente por Lênin: "Esquerda e poder: o que fazer frente um levante popular" (meu grifo). E mesmo que o clima respeitoso e diplomático entre os debatedores tenha sido mantido (afinal, este é o espírito de uma frente ampla como a da oposição de esquerda), as discordâncias eram evidentes se você prestasse atenção nos termos, pressupostos, horizontes e propostas.

De um lado, a visão anarquista ou autonomista atribui um tal significado positivo à revolta popular que, de certa forma, esvazia a legitimidade da pergunta "o que fazer"; a inevitabilidade da revolta anda lado a lado com a probabilidade de sua repressão (seja pelas forças policiais, seja pela esquerda institucional). Como defendido por Mayara Vivian, a revolta tem um significado positivo por conta da alegria da ocupação das ruas e pelo vislumbre de uma revolução das formas de vida e do modo de produção. A abordagem anarquista não almeja “dar direção” a esta energia das ruas; uma das tiradas de um dos debatedores (Paulinho Albuquerque, ex-coordenador do MST) foi que o melhor a se fazer é buscar não atrapalhar.

De outro lado, a visão socialista ou leninista, mantém, obviamente, a centralidade da pergunta "o que fazer?" e responde com noções como "organização", "estratégia", "direção" e "liderança" (diferentes termos que sempre remetem a necessidade de uma vanguarda). Breno Altman usou um vocabulário originado no século 20 para criticar que o PT foi fundado com um espírito insurgente, mas que, ao substituir a estratégia insurrecional pela estratégia democrático-popular e, em seguida, esvaziar até mesmo o que ele enxerga como um radicalismo de longo-prazo desta estratégia, o partido ficou incapaz de reconhecer e dirigir as energias insurgentes das ruas de 2013.

Já Rodrigo Nunes teve a responsabilidade de fechar o evento, estando engajado em um projeto intelectual de atualizar esta discussão para o século 21, no que ele já chamou em outras ocasiões de "leninismo em rede". E apresentou um horizonte um pouco mais arejado, que pode ser sintetizado na ideia de que esquerda institucional e esquerda autônoma podem conviver em uma tensão produtiva caso seja estabelecida uma dialética na qual a energia das ruas é estabilizada em instituições que permitam em momentos posteriores novas lutas sociais nas ruas e assim por diante (24).

Aparentemente, socialistas prometem entregar respostas sem muitas vezes levar em consideração as questões historicamente contingentes que estão em jogo; e foram os anarquistas que conseguiram formular no passado recente as melhores perguntas, que costumam gerar novas perguntas, sem necessariamente chegar a respostas. Além disso, é preciso reconhecer que socialistas e anarquistas têm, em última instância, discordâncias de princípios que são mutuamente irredutíveis e inegociáveis, o que não quer dizer que não se possa produzir alianças contingentes para avançar lutas sociais concretas.

Mesmo que nenhum dos debates naquele dia na Casa do Povo tenha tido suas divergências explicitadas até o fim e, portanto, não se tenha avançado tanto em como esta diversidade de diagnósticos, pautas, táticas e estratégias possa ser articulada de modo que a oposição de esquerda ao PT seja efetivamente reconstruída, o evento na Casa do Povo cumpriu múltiplos papeis. Permitiu que as pessoas se reencontrassem face a face depois de anos de repressão, desmobilização, depressão e pandemia, além de ter feito circular discursos que são invisibilizados por redes e instituições com muito mais recursos, prestígio e poder (como a grande imprensa e os públicos lulistas). Circularam discursos fundamentais sobre luta de classes, violência racializada da PM, repressão estatal à ação direta e à desobediência civil, questão urbana, transporte público, tarifa zero e como as revoltas populares urbanas do passado e do futuro se relacionam com a política (seja ela pensada em uma chave mais institucionalista e estatocêntrica, seja ela pensada de modo extra ou até anti-institucional).

É do futuro destes debates que depende a reconstrução de uma oposição de esquerda que seja capaz de produzir novas unidades de ação entre socialistas e anarquistas sem apagar suas diferenças e divergências a fim de incidir tanto na luta de classes quanto nas quatro lutas de fronteiras (que produzem de modo estrutural respectivamente: a exploração de classes, a opressão racial, a dominação de gênero e heterossexual, a devastação da natureza e a hegemonia do presente regime de acumulação capitalista).

Como tem insistido Agnes de Oliveira Costa, intelectual travesti e autonomista, até nos meios autônomos os balanços sobre os 10 anos de Junho de 2013 pecaram pela ausência da temática da dissidência de gênero (25); ou seja, nem todas as lutas de fronteira foram tematizadas publicamente nesta efeméride, muito embora elas também tenham sido estruturantes da eclosão da revolta – o mesmo poderia ser dito sobre a fronteira entre sociedade e natureza, muito embora em eventos no Rio de Janeiro e em São Paulo, lideranças indígenas tenham sido convidadas, por exemplo, para participar dos debates.

Por último, a reconstrução de uma oposição de esquerda também vai necessariamente precisar se defender da sanha repressiva e violenta vinda de múltiplas direções: das forças de segurança, do sistema político e de quase todo o espectro político-ideológico. Estamos, hoje, em uma tal situação paradoxal que, enquanto a extrema-direita se apropria da ação direta (26) para criar “revolta”, “baderna”, “caos” e “desordem” (com um horizonte reacionário de fundir militarismo e fundamentalismo religioso e de restaurar a Lei e a Ordem), a centro-esquerda é empurrada por forças externas e abraça por motivação interna cada vez mais a posição política de Esquerda da Ordem. É absolutamente impossível a esquerda construir uma hegemonia pós-neoliberal sem antes ela resgatar seus impulsos antissistêmicos e contra-hegemônicos – do contrário, a esquerda estará limitada e, pior ainda, condenada a uma defesa oca das ruínas do neoliberalismo progressista à la brasileira.

Na atual toada, é fácil visualizar a desconcertante convergência entre, de um lado, os aplausos do campo progressista a Alexandre de Moraes (exatamente o mesmo que reprimiu as ocupações secundaristas com inventividade jurídica autoritária (27)) e, de outro, a simplificação corrente nos públicos lulistas da gigantesca complexidade de todos os temas em torno de Junho de 2013 aqui abordados, como se fossem meros produtos de uma "revolução colorida". Tal convergência implica que, se a revolta ousar surgir novamente nos próximos meses ou anos sob a guarda da Esquerda da Ordem, haverá uma legião de webativistas prontos para legitimar que ela seja violentamente perseguida e esmagada, de modo muito mais intenso do que já ocorreu no pós-2013. Convoco todas as pessoas que estão lendo este texto a se incluírem fora dessa.

Notas:

* Agradeço a todas as pessoas com quem interagi e conversei sobre o tema nas semanas em torno de junho de 2023 em eventos, reuniões, corredores, entrevistas, posts, mensagens, lives, cafés e bares: amigos, familiares, colegas, jornalistas e interlocutores políticos e intelectuais – uma comprovação da minha tese defendida neste texto de que as ideias são produzidas publicamente no interior de redes de indivíduos e instituições, tanto nas esferas públicas formais quanto nas informais; são tantas pessoas e em tantas circunstâncias diferentes que preferi não as nomear sob o risco de excluir alguém.

1) Como defendi na mesa "Movimentos Operários e Sociais no Brasil e no Mundo no século 21" (em 05 jun. 2023) do evento 10 Anos Desde as Jornadas de Junho: Reflexões Críticas, organizado por Sean Purdy e realizado na FFLCH/USP, dois termos são bastante precisos para descrever a famigerada tese da “caixa de pandora” ou do “ovo da serpente”: “terraplanismo de esquerda” e “antijunhismo: a doença infantil do petismo”; para suas origens, cf. respectivamente Andreza Delgado. "Terraplanismo da esquerda". Folha de S. Paulo, 15 jan. 2020; e Marcos Nobre. "Como Junho de 2013 levou culpa pelos desastres do país". Folha de S. Paulo, 03 jun. 2023.

2) A referência teórica para esta definição específica do conceito de contrapúblico é: Michael Warner. Publics and Counterpublics. New York: Zone Books, 2002; para uma recepção para interpretar o caso brasileiro com foco na extrema direita, cf. Camila Rocha e Jonas Medeiros, “'Vão todos tomar no…': a política de choque e a esfera pública”. Horizontes ao Sul, 27 abr. 2020. Disponível em: https://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/04/27/vao-todos-tomar-no-a-politica-do-choque-e-a-esfera-publica . Ainda está para ser feito um aprofundamento da reflexão de como o conceito de contrapúblico pode ser útil para interpretar tanto o que eu já chamei em textos passados de contrapúblico comunista (“marxista-leninista” para quem tem a perspectiva interna de construí-lo e defendê-lo, “neostalinista” para quem tem uma perspectiva externa de denúncia ou critica – um fenômeno que eu aproximo da contrapublicidade não-subalterna: o humor memético em torno do grande líder Stalin é, por exemplo, muito próximo do humor memético em torno do bolsomito) quanto o que estou nomeando agora de contrapúblico da oposição de esquerda (do qual os comunistas eventualmente participam, mas aqui estou enfatizando linhas de continuidade tanto analítica quanto normativa com o contexto cultural e político do início dos anos 2010 na qual conviviam autonomistas, anarquistas e trotskistas – um fenômeno que eu diagnostico como uma contrapublicidade subalterna).

3) Ano passado publiquei dois artigos acompanhando a reconfiguração das relações de conflito e colonização entre o campo democrático-popular e a oposição de esquerda, diante de deslocamentos e reconfigurações que eu pude observar em dois atos nas ruas da cidade de São Paulo: “11 de agosto de 2022: uma noite de distanciamentos e realinhamentos na esquerda brasileira (uma nova oposição de esquerda e um renovado campo democrático-popular?)”. Contrapoder, 17 ago. 2022. Disponível em: https://correiocidadania.com.br/brasil-nas-ruas/15197-11-de-agosto-de-2022-uma-noite-de-distanciamentos-e-realinhamentos-na-esquerda-brasileira?highlight=WyJyZWFsaW5oYW1lbnRvcyJd/ ; e “10 de setembro de 2022: entre uma renovação feminista do campo democrático-popular e uma oposição de esquerda masculinizada”. Contrapoder, 20 set. 2022. Disponível em: https://contrapoder.net/artigo/10-de-setembro-de-2022-entre-uma-renovacao-feminista-do-campo-democratico-popular-e-uma-oposicao-de-esquerda-masculinizada/ . Para uma reconstrução de maior fôlego do processo de duração mais longa em que parte da oposição de esquerda passou pós-2013 por uma “neolulização”, cf. Marco Antonio Perruso. 10 anos de junho de 2013: da crise do Lulismo à derrota de Bolsonaro. Rio de Janeiro: Mauad X, 2023.

4) A seguinte coletânea é um exemplo fora da curva do senso comum que se instalou nos públicos lulistas: Breno Altman e Maria Carlotto (Org.). Junho de 2013: A rebelião fantasma. São Paulo: Boitempo, 2023. Contudo, a noção de frente ampla subjacente à diversidade de interpretações sobre Junho de 2013 neste próprio livro implica tamanha amplitude a ponto de dar visibilidade pública à famigerada tese da guerra híbrida e da revolução colorida aplicada às revoltas de 2013 em um de seus capítulos. No meu entender, a diversidade de opiniões a serem debatidas no campo da esquerda deveria seguir o limite que separa, de um lado, teses e argumentos com aspirações científicas (articulando sistemas teórico-conceituais e evidências empíricas) e, de outro, teses baseadas em conspiracionismos. Eu escrevi uma resenha que revela o pano de fundo da “teoria da guerra híbrida” tanto em públicos da direita cristã russa quanto na propaganda de legitimação da política externa de Putin, sem contar as suas consequências nefastas e intrinsecamente autoritárias para a liberdade de manifestação exercida por meio da ação direta e da desobediência civil: Jonas Medeiros. “‘Guerras Híbridas’, um panfleto pró-Putin e demofóbico”. PassaPalavra, 28 jan. 2020. Disponível em: https://passapalavra.info/2020/01/129676/ 

5) Eram os seguintes livros: Laura Erber e Frederico Ravioli. Eu protesto! São Paulo: GLAC, 2023; Carolina Freitas, Douglas Barros e Felipe Demier (Org.). Junho e os dez anos que abalaram o Brasil (2013-2023). São Paulo: Usina, 2023; um grupo de militantes na neblina. Incêndio: trabalho e revolta no fim de linha brasileiro. São Paulo: Contrabando, 2022; Tainã Góis; et alli. O enigma das ruas: 10 anos de junho de 2013. São Paulo: LavraPalavra, 2023 (no prelo); e a última edição da revista Jacobin (“Esquerda e poder”. Jacobin Brasil, n. 6, inverno de 2023).

6) Camila Rocha, Esther Solano e Jonas Medeiros. The Bolsonaro Paradox: The Public Sphere and Right-Wing Counterpublicity in Contemporary Brazil. Cham: Springer, 2021. p. 83; cf. também Luciana Tatagiba e Andreia Galvão. “Os protestos no Brasil em tempos de crise (2011-2016)”. Opinião Pública, v. 25, n. 1, p. 63-96, jan./abr. 2019.

7) Angela Alonso. Treze: a política de rua de Lula a Dilma. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.

8) Nancy Fraser. Cannibal Capitalism: How Our System is Devouring Democracy, Care, and the Planet and What We Can Do About It. London: Verso, 2022. Defendi que este livro é produtivo para interpretar 2013 no Seminário Junho de 2013, 10 anos, organizado por Marco Antonio Perruso e Giuseppe Cocco no Rio de Janeiro, em sua mesa "Junho de 2013 e as insurreições que desafiam a geopolítica mundial", que ocorreu em 13 jun. 2013, com a fala “Guerras híbridas, ciclos de protesto ou lutas de fronteiras: como conceitualizar os anos 2010?”.

9) Surpreendentemente, até um setor da grande mídia foi intelectualmente mais honesta do que parte dos públicos lulistas, ao abrir espaço para esta interpretação, cf. p. ex. “Atos de junho: qual legado dos protestos que levaram milhares às ruas?”. SBT Brasil, 23 jun. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uR4G-O6Y0Q8 

10) Para três conexões concretas entre Junho de 2013 e as ocupações secundaristas, cf. Adriano Januário, Antonia M. Campos, Jonas Medeiros e Márcio M. Ribeiro. “As ocupações de escolas em São Paulo (2015): autoritarismo burocrático, participação democrática e novas formas de luta social”. Revista Fevereiro, n. 9, p. 166-198, 2016; já para conexões no interior do campo discursivo feminista entre o antes (as Marchas das Vadias surgidas em 2011-12), durante (os atos contra o Estatuto do Nascituro em junho de 2013) e depois (a Primavera Feminista em 2015) de 2013, cf. Jonas Medeiros e Fabiola Fanti. “Recent Changes in the Brazilian Feminist Movement: The Emergence of New Collective Actors”. In: Juan Pablo Ferrero, Ana Natalucci e Luciana Tatagiba (Ed.). Socio-Political Dynamics within the Crisis of the Left: Argentina and Brazil. Londres: Rowman & Littlefield, 2019. p. 221-242.

11) A perspectiva histórica de longa duração é apresentada no livro lançado neste mesmo dia na Casa do Povo: Almir Felitte. A história da polícia no Brasil: Estado de exceção permanente? São Paulo: Autonomia Literária, 2023.

12) A reconstrução, salvo engano, de maior fôlego disponível até o momento que articula a questão urbana e Junho de 2013 não estava aparentemente no radar da maioria de organizadores, palestrantes e espectadores do evento na Casa do Povo: Roberto Andrés. A razão dos centavos: crise urbana, vida democrática e as revoltas de 2013. Rio de Janeiro: Zahar, 2023. Só depois que eu estava finalizando este texto que descobri que Andrés também parte do conceito de “lutas de fronteira” de Fraser para interpretar as revoltas de junho de 2013.

13) Desde antes, aliás, da publicação de Camila Rocha, Esther Solano e Jonas Medeiros. The Bolsonaro Paradox: The Public Sphere and Right-Wing Counterpublicity in Contemporary Brazil. Cham: Springer, 2021. p. 86. Que eu me lembre, a primeira vez que eu apresentei publicamente esta ideia foi na mesa "As diferentes dimensões de 2013 e seus desdobramentos" do Ciclo de Debates Junho 2013+5 que ocorreu na UFRGS em 27 ago. 2018.

14) Edward P. Thompson. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

15) "CEBRAP 50 anos, obras fundamentais: 'A espoliação urbana: impactos e desdobramentos'". Cebrap, 12 set. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wPumPzoj1cE 

16) Lúcio Kowarick. “Sobre a construção de um instrumento de análise: a espoliação urbana”. Novos Estudos Cebrap, v. 39, n. 3, set./dez. 2020.

17) “A questão urbana e os transportes”. TV Boitempo, 26 jun. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FJF5QkPDKFc 

18) Dimitrius Dantas. “Haddad compara pedido por tarifa zero com ida à Disney”. O Globo, 21 jan. 2016. Disponível em: https://oglobo.globo.com/politica/haddad-compara-pedido-por-tarifa-zero-com-ida-disney-18517997 

19) Hyndara Freitas. "'Ou fazemos a tarifa zero ou Boulos ganha a eleição', diz Milton Leite". Veja São Paulo, 13 jan. 2023. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/cidades/ou-fazemos-a-tarifa-zero-ou-boulos-ganha-a-eleicao-diz-milton-leite 

20) Diagnóstico da última Fraser, aliás.

21) O que Marcos Nobre chama de “pemedebismo”; cf. seu Imobilismo em movimento. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

22) Salvo engano, este diagnóstico apresentado por Rolnik é fruto de um diálogo com Andrés, o que foi cristalizado no capítulo escrito por ambos: “Desculpe o transtorno, é sobre a caixa preta das cidades”. In: Breno Altman e Maria Carlotto (Org.). Junho de 2013: A rebelião fantasma. São Paulo: Boitempo, 2023. p. 17-26.

23) Segundo o próprio autor me contou após a mesa, seu argumento foi apresentado e desenvolvido em: Paíque Duques Santarém. “Ensaio sobre o incontornável: do ciclo vicioso da tarifa ao ciclo virtuoso da Tarifa Zero”. Journal of Sustainable Urban Mobility, v. 3, n. 1, p. 21-32, 2023.

24) Os argumentos do autor estão desenvolvidos de forma mais profunda em: Rodrigo Nunes. Nem vertical nem horizontal: uma teoria da organização política. São Paulo: Ubu, 2023. Entendo que, ao se referir à esquerda institucional, Nunes está convidando tanto o contrapúblico da oposição de esquerda quanto os públicos lulistas que hoje estruturam o campo democrático-popular a entrarem em diálogo, interação e colaboração, mesmo que tensa, no que pode ser descrito como uma ecologia de múltiplas organizações.

25) Agnes de Oliveira Costa. “10 anos de Junho de 2013 e as desobediências ingovernáveis de gênero”. Quilombo Invisível, 15 jun. 2023. Disponível em: https://quilomboinvisivel.com/2023/06/15/10-anos-de-junho-de-2013-e-as-desobediencias-ingovernaveis-de-genero/ 

26) Acompanhei a mobilização pela extrema-direita de repertórios de ação coletiva que podem ser interpretados tanto como ação direta quanto desobediência incivil (conceito que eu devo à interlocução com Lilian Sendretti; cf. seu paper “Desobediência Civil, Contestação e Legitimidade Pública”. VII Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência Política, Belo Horizonte, 16-23 fev. 2022) em uma série de cinco artigos publicados entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, com base em uma etnografia dos patriotas: “Ato por intervenção em SP: da desobediência civil ao golpe?”. Poder360, 03 nov. 2022. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/ato-por-intervencao-em-sp-da-desobediencia-civil-ao-golpe/ ; “Ato na Proclamação da República: o eterno retorno do golpismo militar”. Poder360, 16 nov. 2022. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/ato-na-proclamacao-da-republica-o-eterno-retorno-do-golpismo-militar/; “Depois do dia D da diplomação: da espera passiva à violência ativa?”. Poder360, 14 dez. 2022. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/depois-do-dia-d-da-diplomacao-da-espera-passiva-a-violencia-ativa/ ; “O fim de um mundo: os patriotas na oposição ao governo empossado”. Poder360, 03 jan. 2023. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/o-fim-de-um-mundo-os-patriotas-na-oposicao-ao-governo-empossado /; “O ‘Capitólio brasileiro’ se consumou: da profanação à lei e ordem”. Poder360, 09 jan. 2023. Disponível em: https://www.poder360.com.br/opiniao/o-capitolio-brasileiro-se-consumou-da-profanacao-a-lei-e-ordem/ .

27) Para a atuação de Alexandre de Moraes na repressão às ocupações secundaristas, cf. Bianca Tavolari, Marília Rolemberg Lessa, Jonas Medeiros, Rúrion Melo e Adriano Januário. "As ocupações de escolas públicas em São Paulo (2015-2016): entre a posse e o direito à manifestação". Novos Estudos CEBRAP, v. 37, n. 2, p. 291-310, 2018. Já para uma comparação entre o autoritarismo contra a campanha dos secundaristas e o autoritarismo no interior da campanha dos patriotas, ambas com Alexandre de Moraes no centro do confronto político, cf. Bianca Tavolari e Jonas Medeiros. “Protesto, propriedade e autoritarismo: dos secundaristas (2015-16) aos patriotas (2022-23)”. Instituto Humanitas - UFRN, 24 mai. 2023. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=rJ6naBxGPZw

Jonas Medeiros é Cientista social e pesquisador do CEBRAP.

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