Correio da Cidadania

O 30M

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Continuam fortes e enérgicos os atos pela educação. Como se pode imaginar, o domínio do ambiente é de variados grupos de esquerda, com pautas diversas, uns mais outros menos radicais. Quem era governo continua entendendo pouco ou nada do que querem as ruas e as pessoas sem vínculos com aparelhos e burocracias.

Depois de andar no chão em condições iguais aos manifestantes “comuns” nos atos de 15 de maio, a UNE, que tem processo eleitoral interno antes do chamado de greve de 14 e junho, não resistiu à tentação e voltou aos caminhões. Monopolizou a voz o ato inteiro e falou mais alto do que cabia à sua representatividade real.

Irritou a praticamente todos, até que os autonomistas começaram a tensionar. Paravam na frente do caminhão para distanciá-lo da frente do ato, vaiavam e cantavam músicas provocativas.

“Chega de baboseira, eu quero o fim da esquerda cirandeira!” e “Greve geral não é palanque eleitoral!” são os exemplos mais eloquentes, enquanto do alto do caminhão adolescentes com discursos bem ensaiados tentavam insinuar “sectarismo” dos críticos, saída retórica bastante desgastada quando vinda daqueles que governaram com alianças espúrias e ignoravam completamente toda a esquerda dita radical, institucional ou não.

É preciso reiterar: há muita gente sem paciência com o modo antigo de fazer atos e monopolizar a voz. Cadeira cativa pra grupos como DCE Livre da USP e sindicatos que sumiram das lutas sociais e populares por décadas não é bem vista por quase ninguém. A insistência no expediente só reafirma as desconfianças.

Sobre os discursos em altíssimo som, eram muito manjados e até desideologizados. “Não pode cortar”, “investe na educação”, “os estudantes vão passar em cima do seu governo”, uma musiquinha ou outra mal ajambrada que não contagiava. Nenhuma palavra contra o modelo de sociedade engendrado pelo neoliberalismo, ou contra o capital (inclusive da educação privada) que financia este governo e visa esvaziar tudo que é público. Bolsonaro, eleito à base de financiamento ilegal, é um alvo tão fácil quanto descartável pelo próprio esquema que o elevou a presidente.

Deve-se reconhecer que a conjuntura é difícil e defender no imediato o ensino público é sempre necessário. Aliás, a monumental faixa apresentada pela UNE em defesa da educação não trazia a palavra “pública”. E não era por falta de pano.

De todo modo, como reivindicar algo para um governo que simplesmente declara guerra a todos e deseja a destruição geral? Como pedir favor pra um grupo político recheado de lunáticos e corruptos de quinta linha com vínculos econômicos mafiosos? Como lidar com um ministro da Educação obscurantista, mentiroso e que usa as redes sociais para incentivar o assédio moral contra os professores?

A impressão que fica é que muitos setores presentes nas ruas continuam reféns do cálculo eleitoral. Para muitos, parece que a estratégia é sangrar o governo e ocupar mais cadeiras nas próximas eleições - a despeito da destruição que não se disporão a reverter adiante.

Ofendida com a crescente acusação de não passarem de neoliberais de esquerda, o fato é que a turma do caminhão não tem discurso antissistêmico. Amanhã vai ser maior?


Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania.

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