Correio da Cidadania

A maldade mater universitária em Honduras

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O Secretário Geral adjunto das Nações Unidas para Direitos Humanos, Andrew Gilmour, visitou Honduras nesta semana em meio a uma crise humanitária que atravessa a Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), produto do trato cruel, desumano e degradante que está vitimando estudantes. Está claro que a justiça social no mundo não cumpre com sua função quando deixa de ser cognitiva. É o que vemos quando a Alma Mater da universidade regride para a condição de “maldade mater”.

Em Honduras, a lógica dos pseudointelectuais é guiada pelo montante salarial que recebem nas altas esferas do poder universitário, interno ou externo à academia. O cognitivo não existe. Este é o caso da UNAH, onde funcionários autoinvisibilizados por sua lógica de oferta e procura assessoram as autoridades, fazendo uso do orçamento universitário estatal para satisfazer interesses privados.

As demandas dos estudantes universitários colocadas a partir das suas estratégias de luta, em essência, exigem uma maior valorização da sociedade e dos conceitos humanistas. Estudar para servir a sociedade e os seres humanos que vivem neste território chamado Honduras. Em reiterados discursos, os universitários da UNAH refletem seu desejo de ter uma formação de qualidade que inicie um processo de sanar as necessidades básicas dos cidadãos do país, tais como saúde, educação, moradia e alimentação, mediante sua participação ativa na tomada de decisões nos órgãos da gestão universitária.

Fica claro que a luta dos estudantes é pelo desenvolvimento da academia mediante o rompimento do esquema global que se limita a formar universitários como empregados de uma firma, limitando assim o desenvolvimento das suas capacidades cognitivas. Na UNAH a precarização é tão grande que estão utilizando planos de estudo datilografados na longínqua década de 70 do século passado.

Estudar por um futuro salário que será parte da engrenagem neoliberal, para manter em dia os lucros de uma pequena classe dominante em Honduras, que não é maioria nem sequer entre os estudantes da UNAH, é a formação que têm obtido os estudantes nas últimas décadas. Observados como mero capital humano, o aluno é formado em detrimento do desenvolvimento científico e social que deveria prevalecer.

Em essência, o conflito atual é determinado por esta variável social que marca a desigualdade humana, a mesma que situa Honduras como o segundo país mais pobre da América Latina, um Estado falido que é reiterado pelas autoridades universitárias – aqueles que são os responsáveis em produzir ciência, conhecimento, desenvolvimento e uma academia que funcione no sentido de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos do país e seus cidadãos.

As altas esferas que dirigem a UNAH são os promotores desde procedimento odioso. Em 2016 e 2017 apenas reproduziram seu conhecimento em requerimentos fiscais, repressão física e psicológica, encarceramento dos estudantes, contratação de mercenários e paramilitares para perseguir estudantes, torturá-los, expulsá-los e assim por diante. Tudo parte do que hoje engrossa o Estado falido de Honduras.

Internacionalmente, Honduras é observada como um violador de direitos humanos, um Estado que pratica assassinatos ao estilo “falso positivo” do paramilitarismo colombiano, entre outras variáveis sociais e econômicas que estimulam uma séria crise humanitária cujo epicentro, hoje, se encontra na UNAH.

Justo na entrada principal das instalações da Alma Mater de Honduras está instalada uma greve de fome que nos próximos dias completará um mês. Contudo, este protesto pacífico foi difamado pelas autoridades e um grupelho de mercenários da informação (recuso-me a chamá-los “jornalistas”), cuja linguagem ‘cognociva’ foi tirada da lata do lixo – posto que se prostituem para cumprir com seu trabalho de distorcer a informação.

Ignorando esta mancha, um certo setor do “jornalismo” desta nação, os estudantes fazem uso da dignidade nesta luta, a greve de fome cumpriu uma função social de tornar a crise pública para as demais comunidades universitárias em prol da emancipação da educação superior, especialmente no que se refere a sua finalidade social em detrimento da atual finalidade mercadológica criticada pelos estudantes.

Países vizinhos com Panamá, México, Costa Rica, El Salvador e nações irmãs como Brasil, Argentina e Chile já se pronunciaram em apoio aos estudantes hondurenhos, colocando em destaque o movimento social de Honduras.

Pese o processo judicial pelo qual passam 33 estudantes universitários, com o qual tentam encarcerá-los, além de medidas administrativas contra os mesmos, como a recente expulsão de 19 estudantes, a luta estudantil hondurenha mantém firme sua convicção de enfrentar as maldades que governam esta casa do povo, a UNAH.

Em torno deste movimento na UNAH, os líderes estudantis foram vítimas de perseguições em veículos desconhecidos, vigilância nos arredores de suas casas de moradia e todo um aparato de repressão neofascista dirigido por aqueles que na década de 80 se autoproclamavam ‘líderes do progressismo’ no país e que hoje são empregados de um regime autoritário dentro da UNAH.

Como jornalista e correspondente internacional, também sou perseguido por estes altos comandos da ‘maldade mater’ como resultado destes escritos e transmissões ao vivo, que realizo há oito anos em coberturas de pautas relacionadas à UNAH. Com isso, minha vida está em constante perigo; também estou sendo alvo de perseguição e vigilância e ainda respondo a um processo judicial.

De toda forma, os atores interiorizados neste crise humanitária dentro da UNAH não medem esforços para diminuir os contornos desta realidade, já que através de sua verborragia “sociológica” aplicam os dispositivos de poder a fim de assassinar a verdade e formar a mentira, aplicando contra os estudantes métodos de fazer inveja a Goebbels.

Até momento a lógica estudantil está vencendo a lógica dos pseudointelectuais nesta guerra de narrativas. Mas isso ocorre graças às apoteóticas mobilizações que puderam desenvolver e toda a gama de lutas validada pela Carta Universal dos Direitos Humanos.

As exigências dos estudantes na construção de um novo governo universitário são válidas e efetivas na formação da construção social que busca resgatar a pisoteada qualidade de vida dos cidadãos hondurenhos. Fica claro que o ressurgimento da justiça social cognitiva dos estudantes está se tornando história, esperamos que como um preâmbulo do desenvolvimento por vir, iniciado nesta Alma Mater.


Qualquer atentado ou ameaça contra a vida deste autor é de responsabilidade daqueles que representam e governam o Estado de Honduras, seus invasores ou as autoridades mencionadas neste presente artigo.


Para entender melhor a crise na UNAH, leia os artigos anteriores de Ronnie Huete Salgado traduzidos pelo Correio da Cidadania:

A Universidade Nacional “Penitenciária” de Honduras

Honduras: jornalista torturado pede auxílio e solidariedade internacionais

Honduras: contingente policial e militar reprime greve de fome

“O grande roubo”

Honduras: o verde oásis da paz?


Ronnie Huete Salgado, hondurenho, é jornalista e militante dos Direitos Humanos.
Traduzido por Raphael Sanz, para o Correio da Cidadania.

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