Correio da Cidadania

Qual liberdade de imprensa?

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A característica essencial da “liberdade de imprensa” na maioria dos países latino-americanos é que o jargão não permite distribuição de tempo equânime aos dois lados da notícia. Este padrão de comportamento pode ser visto quando comparamos o tratamento jornalístico destinado ao presidente Bush em comparação com o presidente Chávez, por exemplo. É verdade que as críticas a Bush são freqüentes em função da invasão no Iraque e Afeganistão, mas nada ou muito pouco se diz sobre o funcionamento real do sistema político estadunidense.

 

No mesmo diapasão, W. Clinton é, segundo o padrão dominante, muito melhor que o texano Bush, mas se criticam exclusivamente seus excessos amorosos, enquanto predominou o silêncio sobre sua obra política. A deposição de J.B. Aristide e a posterior intervenção no país caribenho – decisões tomadas no mandado do democrata – não despertam a mesma atenção crítica que os atos de Hugo Chávez, Evo Morales ou Rafael Correa. A regra é que, enquanto se vilipendiam as personagens, o sistema político estadunidense fica imune à crítica e o padrão de informação sobre o que ocorre nos Estados Unidos é muito ruim: quase nada se divulga sobre a intervenção do executivo no sistema judicial, as prisões ilegais, a violação da correspondência eletrônica, as prisões sem mandato judicial, o fim do habbeas corpus pela primeira vez em 200 anos de vida constitucional, as prisões ilegais da CIA na Europa e Guantánamo, a fraude eleitoral em Ohio e Miami, que levou duas vezes os republicanos à Casa Branca etc. A informação sobre o que ocorre nos EUA é parcial, fragmentada e de péssima qualidade, de tal forma que podemos condenar a Clinton ou Bush por razões distintas, mas não o sistema político que os criou e que seguirá criando figuras semelhantes nas próximas eleições presidenciais.

 

Em oposição a este tratamento benevolente dispensado ao sistema político estadunidense – sempre tomado como sinônimo de democracia –, observa-se que na, análise e informação sobre a Revolução Bolivariana, não somente a personagem interessa, mas igual atenção os jornalistas e escritores destinam ao sistema político e à preservação do “regime democrático”. Neste caso, é fácil constatar que “o outro lado” (os bolivarianos) raramente é escutado ou, quando se respeita a regra liberal básica, tudo sugere que é apenas para constar nos autos: tão esporádica que representa apenas um formalismo. Assim, podemos observar uma profusão de editoriais contra qualquer manifestação nacionalista que tenha origem na Venezuela, Bolívia ou Equador.

 

A crítica é geralmente pouco inteligente, razão pela qual podemos supor que não está em curso a tentativa de fornecer boa informação para que a opinião pública tenha cada dia melhor condição de exercer o livre arbítrio, mas simplesmente o funcionamento de um sistema de propaganda, algo completamente oposto ao que deveríamos entender por liberdade de imprensa. O resultado necessário é que mesmo aqueles que reconhecem os avanços sociais ocorridos na Venezuela após 2002 afirmam categoricamente que tudo está sendo realizado à custa do sacrifício da “democracia”. Neste contexto, não é possível encontrar uma análise crítica sobre a democracia participativa, mas abundam manifestações sobre as virtudes da ameaçada democracia representativa que, entre nós, implica no exercício permanente do ceticismo como “virtude necessária” para suportar a impunidade, a concentração da riqueza e o monopólio do prestígio social.

 

 

 

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