Correio da Cidadania

Quem usa o aeroporto de Congonhas já está de novo correndo risco: na semana passada um piloto em operação de aterrissagem teve que fazer uma rápida manobra porque detectou a presença de outra aeronave na mesma rota. Quem usa Congonhas com freqüência percebe claramente que o volume de operação já voltou ao nível pré-desastre da TAM. Os lucros dos capitais que se valorizam com a exploração do aeroporto voltaram ao normal. Em outras palavras: os seres humanos voltaram a correr altos riscos.

Os lulistas levantam a questão do futuro do Brasil mais em termos de ameaça aos que divergem da sua posição do que de esperança de grandes avanços, pois sabem que no pós-Lula as políticas econômicas não serão muito distintas das atuais. Fica valendo, assim, apenas a ameaça: se a esquerda assumir postura divisionista, os tucanos vencerão e anularão todas as conquistas proletárias. Porém, o que está em jogo em 2010 é a possibilidade de desarmar essa armadilha.

Toda vez em que o Estado brasileiro parece reagir contra a corrupção, a classe média fica animada: "agora a coisa vai!". Na verdade, trata-se de uma expectativa infundada, porque evidentemente um Estado corrupto jamais combaterá eficazmente a corrupção. Já se viu o roto falar do esfarrapado? Se as pessoas que têm mais condições para fazer essa cobrança recusam-se, como alegam, a "sujar as mãos" na política, como podem pretender que o sistema funcione?

O Haiti é a nação maldita pelos países ricos do mundo. Motivo disso foi a sua guerra de independência. Em vez de uma rebelião de ricos senhores de terras, o que se viu lá foi uma rebelião de escravos africanos contra a França. Transgressão desse tamanho não pode ser esquecida, porque o exemplo tem grande potencial desestabilizador. A opinião pública brasileira precisa exigir a retirada das nossas forças armadas daquele país. Não temos nada com esse complô de ricos contra o Haiti e não devemos manchar nossas mãos nesse massacre.

Período eleitoral curto, horário eleitoral mínimo para os partidos pequenos, bloqueio ao debate sobre o financiamento público e restrições de todo tipo à divulgação ostensiva dos financiadores de campanha – ao lado da total impunidade pelo financiamento via caixa dois. Essas são as normas eleitorais. Omissão total das candidaturas da esquerda e exigência de que os candidatos restrinjam seu discurso às soluções técnicas são as contribuições da mídia.

Os que se encontram nos patamares superiores sabem muito bem o que está se passando. No entanto, mesmo sujeitos a incursões cada vez mais freqüentes da barbárie em seus apartamentos bem localizados e condomínios fechados, preferem suportar o risco de um assalto e a deterioração crescente de sua própria qualidade de vida a enfrentar, no campo apropriado que é a arena política, os poderosos interesses que impedem a organização de uma sociedade mais homogênea e equilibrada.

Se a ação conscientizadora for a prestação de um serviço à comunidade, é indispensável que não seja terceirizada pelo Estado, pois em tal caso se estará favorecendo a cooptação e não a ruptura. Além disso, a dependência propiciará pressões do governo sobre essas organizações e fará com que os beneficiários as vejam como braços de um Estado amigo. Se a burguesia sabe fazer algo na perfeição é cooptar dissidentes e se há uma coisa da qual o ser humano jamais se livrou é da tentação de fugir da realidade.

"Discussão técnica" é o código para esconder o aspecto político dos problemas. Distrai a atenção do público e oculta os interesses que estão por trás das soluções "técnicas". Dilma, Serra, Ciro e Marina irão se engalfinhar em torno de "soluções técnicas" para o pré-sal, a defesa do meio ambiente, o financiamento eleitoral etc., a fim de não permitir que o eleitorado constate que todos eles são "farinha do mesmo saco", no sentido de que todos, se eleitos, adotarão políticas praticamente idênticas.

Os jornais noticiam que os membros do Conselho Superior da Magistratura estão reivindicando carros oficiais e redução da quarentena legal para volta às atividades profissionais habituais. É o começo... Logo reivindicarão outras mordomias. Em seguida começarão a vir os problemas e finalmente teremos o caso de conselheiros envolvidos em falcatruas. Será inevitável. O ser humano está sujeito à corrupção e todo coletivo, seja qual for, não está imune à corrupção de alguns de seus membros.

Estando a cento e poucos quilômetros do seu inimigo jurado – a maior potência militar do planeta –, sofrendo há mais de quarenta anos um bloqueio econômico absolutamente cruel, e vendo, em Miami, um exército de cubanos exilados ensandecidos e permanentemente mobilizados para invadir o território do país, obviamente o regime cubano não pode se permitir o luxo de abrir o regime de uma vez. Se o fizer, provocará um verdadeiro banho de sangue.

Provavelmente em nenhum outro momento da história brasileira a esquerda tenha estado em situação tão difícil. Diante de tal quadro, a primeira idéia que surge é a da unificação dos pequenos partidos que restaram após o furacão neoliberal. Um primeiro passo foi dado nessa direção em 2009: as negociações para a unificação das duas centrais sindicais socialistas chegaram a bom termo. Um novo passo pode ser dado este ano: a candidatura única da esquerda. Os exemplos exitosos de 2006 mostram que é possível.

Lula é o "cara" porque ninguém melhor do que ele garante o clima de tranqüilidade social para que a rapinagem seja feita sem riscos. Enquanto os investimentos afluem, há dinheiro para manter a ilusão e o discurso propagandístico da prosperidade dos mais pobres, embora o aumento real do gasto dessas famílias não tenha sido suficiente para impedir fenômenos como o aumento brutal da violência nos morros do Rio de Janeiro e nas periferias de São Paulo e de outras cidades grandes.