A resistência social em pauta
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- 29/04/2013
No último dia 24, milhares de trabalhadores do setor público e privado, estudantes e entidades do movimento sindical e popular realizaram uma marcha em Brasília em defesa dos direitos da classe trabalhadora e pela anulação da reforma da Previdência.
Esta ação está no marco de uma retomada da resistência dos trabalhadores, que vem sendo verificada desde o primeiro ano do mandato da presidente Dilma Rousseff.
Em que pese os mares tranquilos de popularidade do governo e as pesquisas de opinião que projetam vitória relativamente tranquila do governo em 2014, existem claras mazelas nas profundezas da sociedade decorrentes desse suposto modelo de “desenvolvimento”. É o que pode ser evidenciado pela diversidade de lutas sociais de resistência dos anos recentes, assim como os eventos, também recentes, na capital federal, como a marcha do dia 24 e a ocupação dos povos indígenas no Congresso Nacional, no último dia 19.
As razões estão em uma política econômica e um “modelo” que mantém o Brasil vulnerável aos ventos da crise, dependente das necessidades do emergente capitalismo asiático em torno de alimentos, minérios, petróleo; vulnerável às pressões do grande capital financeiro e do grande capital. Estes, em que pesem as seguidas desonerações do governo, continuam chantageando e exigindo a flexibilização de direitos trabalhistas e tributos como “condição” para atender aos “apelos” do governo para aumentar os investimentos na economia.
O que faz o governo diante deste cenário? Aceita, organiza e gerencia a agenda do grande Capital.
O projeto de privatizações da infraestrutura do país em torno das megaobras para os mega eventos esportivos e a consequente lógica do balcão de negócios, que traz junto a bolha da especulação imobiliária, são a pedra de toque das parcerias públicas e privadas - a grande aposta do governo para dinamizar a economia com grandes investimentos pesados (com a garantia do dinheiro público, claro).
A consequência desta diretriz tem sido uma política de remoções de comunidades de trabalhadores, populações indígenas, comunidades ribeirinhas, em função das megaobras de infraestrutura (de devastadores impactos socioambientais), da construção de estádios e complexos imobiliários em áreas recém-valorizadas. Exemplos de um modelo predador que, de outro lado, provoca o aumento da resistência popular, pois se agrava o problema da moradia no país.
A ampliação predadora das fronteiras do agronegócio industrial corre também intrínseca a este modelo, com graves impactos ambientais, com agravantes à questão da terra no país e ameaça às reservas dos povos indígenas - e não por acaso, gerando a resistência organizada destes.
A política de privatizações de serviços públicos gera, entre outras, lutas importantes contra o aumento de tarifas nos transportes públicos. O que faz todo o sentido diante dos sinais de estagnação econômica ou lento crescimento verificados tanto no “Piibinho” de 2012, como na retomada de uma inflação que rompe sistematicamente as metas oficiais.
Remuneração do capital financeiro através da dívida pública, em detrimento da saúde, educação pública, previdência, é o que explica, ademais, as marchas e greves dos trabalhadores nas áreas da educação e saúde.
Ainda que essa resistência seja fragmentada, com muitas resistências e greves isoladas entre si, e mediante a passividade da maior parte do povo, a tendência é de um recrudescimento dessa luta social. O que deverá medir a temperatura e o humor da maioria da população diante de um modelo e de uma macropolítica econômica que farão crescer as contradições, as demandas e as necessidades do mundo do trabalho, dos despossuídos de terra, da moradia e dos direitos sociais universais.
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