Correio da Cidadania

As mentiras da área alagada de “pouco mais de 400 km2”

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3.1. A área alagada não é de 400 e poucos km quadrados, pode ser 516 ou 605 km quadrados.

 

Essa é outra mentira que vem sendo sistematicamente repetida nos últimos dez anos: de que a área que seria alagada pela obra de Belo Monte equivale a pouco mais de 400 km quadrados (equivale a 40 mil hectares). Pois bem, no próprio EIA atualmente sendo analisado no IBAMA, a superfície das terras a serem alagadas não é mais de 400 e poucos km2 e sim, 516 km2, isso se consideramos a altitude máxima prevista para o represamento, ou seja, com a água na cota – ou altitude - 97 metros acima do nível do mar.

 

Os defensores do projeto criaram então dois argumentos repetidos religiosamente feito “mantras”: 1o. de que a relação entre área alagada e a potencia instalada é das mais favoráveis dentre todas as hidrelétricas brasileiras; 2o. que mesmo essa enorme área de floresta e propriedades rurais a serem inundadas para sempre deve ser minimizada - pois corresponderia à superfície de terras que as águas do rio Xingu costumam invadir uma vez por ano, nos meses chamados de inverno na Amazônia, de janeiro a abril.

 

Um dos que repetem a mentira é o atual Ministro de Meio Ambiente, deputado federal pelo PT e conhecido há décadas como uma liderança ambientalista. Fala até como se fosse co-autor do projeto: “Além disto, alteramos as dimensões da área a ser inundada, que caiu de 1.200 km2 para apenas 500 km2, sendo que deste total metade já é inundada normalmente em períodos de cheia - o que significa que serão apenas cerca de 250 km2 de área a serem efetivamente inundadas, para gerar cerca de 11 mil megawatts (MW) de energia”. (Agencia Brasil, de 19.09.2009 “ Licença provisória para Hidrelétrica de Belo Monte deverá sair em Novembro - prevê Minc” )

 

Vejamos com detalhe quais represas seriam formadas pela obra da usina Belo Monte: é previsto, além de uma represa principal (1, veja a seguir) um outro conjunto de cinco represas menores, distantes da margem do rio Xingu, localizadas no mapa e nas fotos aéreas em “terra firme”, ou seja, dentro da alça formada pelo desenho do rio no trecho mais aberto da chamado Volta Grande. Vão ser alagadas muitas terras onde nunca teve qualquer alagamento provocado pelo rio Xingu, onde havia apenas alagamentos sazonais, pequenos, nas várzeas dos cinco igarapés, que são afluentes da margem esquerda do Xingu, os quais serão também barrados…

 

Pois bem, a represa (1) que chamaremos aqui “represa da calha do rio Xingu”, seria formada pela barragem principal [1], que seria erigida transversalmente ao rio na altura da Ilha Pimental, e que se prolongaria nessa cota 97 metros até a cidade de Altamira e seus arredores, com a água da represa invadindo as baixadas e as terras ribeirinhas, em parte densamente urbanizadas, dos igarapés Ambé, Altamira e Panelas. Outra novidade recente é que, nessa cota, a represa principal atingirá, além de Altamira, terras que ficam rio acima, no município de Brasil Novo, fato anteriormente omitido. Conforme o EIA, nessa “represa da calha do Xingu” seriam alagados terrenos num total de 11.563 hectares na terra firme e mais 19.592 hectares nas numerosas ilhas existentes, num total, portanto, de 31.155 hectares. E na chamada “represa dos canais” (cujo nome mais adequado é “ conjunto de cinco represas dos igarapés”, que detalharemos a seguir para o leitor) seriam alagados mais 29.293 hectares.

 

Assim, o total geral de superfícies aquáticas das várias represas do projeto Belo Monte seria de 60.448 hectares, ou, aproximadamente 605 km quadrados. (extraído das pags. 21-22 da seção “Avaliação dos Impactos” da versão do EIA de fevereiro de 2009).

 

Ora, o alagamento anual das margens do Xingu, a cada inverno, e que entra pelas bocas dos igarapés afluentes, não deixa tudo coberto de água na cota máxima 97 metros, nem cobre as ilhas todas - pois uma grande maioria delas tem barrancas altas e muitas tem morros em seu interior, portanto, o alagamento do Xingu no inverno cobre uma área bem menor do que os 311,5 km 2 da primeira represa; e, os demais 293 km quadrados de terras firmes das demais cinco represas jamais são alagados pela cheia anual do Xingu. Como então essas autoridades enroladoras dizem há anos que o projeto Belo Monte teria apenas 400 e poucos km quadrados de “lago”, e que a metade disso seria “como se o Xingu ficasse num Inverno permanente”?

 

esp_belomonte2.jpg

 

Bem, o que são essas novas entidades geográficas que os projetistas chamam de represa dos canais? No total, a água ocuparia uma superfície de 293 km quadrados formada por cinco “represas em terra firme”, formadas nas terras da margem esquerda do Xingu entre esse ponto da barragem principal [1 – na Ilha Pimental ], e cerca de 100 km rio abaixo, onde fica o ponto da outra barragem principal [2] – a qual abrigaria a casa de força da usina projetada e seria erigida no tabuleiro alto da margem esquerda do rio, seccionando o igarapé Santo Antonio, perto da localidade Santo Antonio do Belo Monte. Essas cinco represas seriam assim formadas:

 

- represa (2) formada pelo enchimento dos igarapés Gaioso e de Maria , que seriam canalizados e unificados no alto curso para conduzir a água da represa 1 e que alagaria terras ao longo dos travessões 18 e 27 da Transamazônica , lado direito sentido Altamira-Anapu;

 

- represa (3) formada por uma barragem no Igarapé Paquissamba, e que teria também uma barragem [3], considerada como vertedouro complementar de cheias, que jogaria excesso de água no Xingu, abaixo da cachoeira Jericoá, e que alagaria terras ao longo dos travessões 27 e 45 da Transamazônica;

 

- represa (4) formada pelo igarapé Ticaruca , que teria uma barragem [4], e alagaria terras do travessão 45 ;

 

- represa (5) formada pelo igarapé Cobal , que teria uma barragem [5] e alagaria terras dos travessões 45 e Cenec da Transamazônica;

 

- represa (6) formada pelo igarapé Santo Antonio, barrado pela barragem principal [2] já mencionada.

 

Pois bem, nesse panorama hipotético nada simples, como se pode ter um mínimo de certeza de quantos cidadãos poderiam ser forçados a sair de suas casas e terrenos, de seus sítios, fazendas e de suas colocações ribeirinhas?

 

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