Correio da Cidadania

Fugir da realidade

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Não se consegue entender a posição daqueles que, num ambiente político relativamente aberto como o brasileiro, se recusam a participar do processo eleitoral.

A justificativa dessa atitude é que todos os partidos são iguais, todos os candidatos enganam o povo e que nenhum avanço político pode ser obtido por meio da participação nas eleições.

 

Enquanto atitude pessoal de desilusão com a política, embora não se justifique, explica-se. Mas em organizações políticas que se pretendem de esquerda esse sentimento de desilusão nem se explica e nem se justifica. Posicionando-se assim, essas organizações, por uma questão de coerência, deveriam fazer campanha aberta e declarada pelo voto nulo.

 

Mas como distinguir o voto nulo do cidadão egoísta que anula o voto por preguiça ou desprezo pela coisa pública, daquele voto que pretende ser uma mensagem política ao conjunto da população? Sem essa possibilidade, o voto nulo é politicamente de todo inútil.

 

A mesma coerência exigiria atos de desobediência civil suficientemente explícitos para que toda a população pudesse perceber s não apenas uma reivindicação corporativa, mas um apelo de transformação social.

 

Fora dessas duas hipóteses e da luta armada, de que modo essas organizações farão avançar a luta de classes?

 

A resposta padrão é que o avanço pode ser feito por meio de cursos e seminários sobre a teoria da revolução. Cursos e seminários ajudam a formar a consciência revolucionária, sempre que o meio usado para atrair alunos não se confunda com alguma benesse fornecida pelo Estado burguês, porque, neste caso, a evidente contradição entre o discurso e as ações concretas faz da organização mais uma ONG do que um núcleo revolucionário.

 

Se a ação conscientizadora for a prestação de um serviço à comunidade, é indispensável que não se trate de uma atividade terceirizada pelo Estado, pois em tal caso se estará favorecendo a cooptação e não a ruptura com o sistema.

 

Além disso, a dependência de verbas oficiais propiciará as pressões do governo sobre essas organizações e fará com que os beneficiários as vejam como braços de um Estado amigo.

 

Se há uma coisa que a burguesia sabe fazer na perfeição é cooptar dissidentes e se há uma coisa da qual o ser humano jamais se livrou é da tentação de fugir da realidade.

 

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