Correio da Cidadania

Qual democracia?

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O mais recente exemplo da irresponsabilidade da "classe política" está registrado em todos os jornais com a eleição para presidente do Senado e da Câmara de Deputados: os parlamentares simplesmente desconsideraram as decisões de seus respectivos partidos e votaram exclusivamente de acordo com interesses de suas carreiras políticas.

 

Uma foto veiculada na Folha de São Paulo publicou a figura vitoriosa de Sarney sendo cumprimentado por um todo sorridente Fernando Collor, ao lado de Renan Calheiros, em gostosa e feliz gargalhada. Diante de uma foto destas, o cidadão que acompanhou a "briga" entre o Sarney e o Collor em 1989; que saiu às ruas de cara pintada para depor o Fernando Collor por corrupção; e que seguiu escandalizado o processo de cassação do Renan Calheiros por falta de decoro parlamentar, se pergunta: "Mas por que então eu tenho que militar num partido político, se os parlamentares fazem o que bem entendem com o meu voto?".

 

Diante dessa realidade, a recusa da política parece uma atitude racional, mas se trata de uma "racionalidade perversa", pois contribui apenas para criar um círculo vicioso: o povo não participa da política porque a política é suja, e a política é suja porque o povo não participa.

 

Deixando de lado este aspecto mais estrutural do triste espetáculo da eleição das mesas diretoras das duas casas do Congresso, cabe refletir sobre o significado dela na perspectiva dos próximos dois anos.

 

É grave.

 

Na escolha dos candidatos aos principais cargos do Congresso, filiação partidária foi o que menos contou. Com a popularidade de Lula no auge, a imensa maioria do Congresso (no Senado, os dois candidatos são da sua base de apoio; na Câmara, os dois candidatos dessa base tiveram mais de setenta por cento dos votos) votou de olho na posição que poderá conquistar em 2010.

 

É difícil acreditar que Lula não tenha estado atrás do resultado, porque a melhor coisa que poderia lhe acontecer para tornar-se o coringa absoluto da sua própria sucessão é o fortalecimento do PMDB – um partido que, salvo as poucas e honrosas exceções, não passa de um condomínio de caciques políticos, sem maiores preocupações ideológicas, para os quais a política consiste em negociar tudo no mercado eleitoral.

 

Ora, um dos pressupostos do regime democrático é que o voto do eleitor seja uma escolha entre políticas alternativas. A eleição das Mesas Diretoras do Congresso mostra que isto não é verdade: dos dois maiores partidos da oposição, um votou no candidato do PT e o outro, como todo o mundo sabe, não tem qualquer divergência com a política econômica de Lula.

 

Onde foi parar a democracia?

 

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