Correio da Cidadania

A força do testemunho

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10/12/2007

Certa vez, Stalin perguntou ao assessor que o aconselhava a abster-se de uma determinada ação, a fim de não desagradar o Papa: "Quantas divisões tem o Papa?

A história mostrou-lhe quantas. Um erro comum entre pessoas com muito poder consiste em desconsiderar as pessoas que aparentemente não o têm.

Lula erra tremendamente ao supor que Dom Luiz Flavio Cappio, pouco amparado pelos seus irmãos bispos e pela mídia, que, comprometida com os interesses do agronegócio, não quer dar publicidade à sua cruzada anti-transposição do Rio São Francisco, seja uma pessoa sem força alguma.

Dom Luiz tem uma tremenda força. Não se trata, por certo, da força que decorre do poder político ou do poder econômico, mas de um poder que, sem ter a imediatidade dos outros dois, cala mais fundo.

Quem acompanhou a morte dos dez militantes do IRA (Exército Republicano da Irlanda) em 1981 tem bem presente na memória as fotografias do seu líder - Bobby Sands - após 66 dias de jejum. Pois é a imagem dessa terrível forma de morte que estará associada indelevelmente à imagem de Lula, caso sua intransigência obrigue Dom Luiz a levar até o fim o seu sacrifício.

Como não é de se supor que Lula seja sádico, cabe indagar do por quê da intransigência. Afinal, o que custaria ao presidente suspender a execução do controvertido projeto, a fim de abrir, como pede o bispo, uma rodada de exame de alternativas?

A recusa incompreensível a uma demanda tão razoável gera a suspeita de que há entre Lula e os grandes grupos empresariais que estão pressionando pela realização da obra um compromisso superior à obrigação do presidente da República de defender o interesse nacional. Afinal, se o projeto da transposição é tão bom, qual a dificuldade de cotejá-lo publicamente com alternativas de solução do problema da água na região nordeste?

Na disputa com o bispo, Lula conta com os recursos financeiros, com o apoio dos empresários e a cobertura da mídia; Dom Luiz conta unicamente com o povo.

O povo é a sua força. Para despertar o povo para o drama que está sendo vivido em Sobradinho, é indispensável que as pessoas politizadas participem intensamente da luta em que ele se engajou. De outro modo, dificilmente ele terá alguma chance de sair vivo do seu empenho. Listas de apoio estão correndo por aí e o Correio as vem publicando em sua seção de Notícias do Dia para quem queira assinar.

Mas é preciso mais: quem puder juntar três, quatro companheiros e fazer uma visita à Capela de São Francisco, em Sobradinho, estará dando uma enorme contribuição.

Quem cobrar do seu parlamentar um pronunciamento favorável ao Bispo, acrescentará força à luta que ele está travando.

Falta pouco para o desenlace: o ser humano, como Bobby Sands demonstrou, não agüenta mais do que 66 dias uma greve de fome. É crucial, pois, romper, nestes próximos dias, a cortina de silêncio que impede a população de conhecer o drama que está sendo vivido em Sobradinho.

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