Correio da Cidadania

O golpe das agências reguladoras

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Infelizmente, dada a total falta de debates na grande mídia, é necessário colocar esse provocativo título em resposta ao artigo de Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL que publicou “GOLPE NAS AGÊNCIAS REGULADORAS” no jornal Valor.

Como se os aumentos tarifários tivessem apenas uma origem, o articulista volta a afirmar que a geração distribuída vai ser a grande vilã dos aumentos tarifários que ainda virão. Muita confusão com o termo “distribuída”, geralmente associado apenas à microgeração dos telhados fotovoltaicos.

No fundo, é tudo energia solar. Eólicas e hidráulicas se aproveitam dos fluxos da natureza para, através do movimento cinético, gerar energia, mas, valem-se apenas de fluxos produzidos pelo sol na atmosfera e no estoque de água do nosso planeta. Enfim, energia solar distribuída pelo território e, claro, precisam pagar pelos fios.

Usinas térmicas queimam combustíveis fósseis ou biomassa para que turbinas possam girar e produzir o mesmo efeito cinético e eletromagnético que origina a corrente elétrica nas hidráulicas e eólicas. Considerando que o petróleo advém de materiais orgânicos soterrados há séculos, na realidade, é tudo originado do sol, distribuído pelo país e precisam pagar pelos fios.

A geração fotovoltaica é uma fonte de energia elétrica que não usa a energia cinética para produzir eletricidade. De certo modo, é uma forma de capturar a energia do sol sem intermediários. Assim, basta ter uma área ensolarada que é possível construir uma usina solar.

Se elas estiverem espalhadas pelo nosso imenso território, precisam ser conectadas ao sistema existente para entrar em sincronismo e participar da oferta de energia elétrica. Precisam pagar pelos fios.

O assunto está na pauta da mídia, pois uma série de conflitos e desinformações começa a surgir. Para mostrar que os artigos defendem interesses que não são públicos, vejam:

- Até parece que a tarifa começou a encarecer agora. Vejam o exemplo da Light, que acaba de falir


E não pensem que é fácil obter esses dados na página da ANEEL! Não há mais a publicação da série de tarifa média desde 1995, e, por isso, mostro apenas o exemplo da Light. A agência, que foi criada em 1996, não se sente responsável por informar o que ocorreu desde que o modelo mercantil foi implantado. Só publica a tarifa média de 2003 em diante.

- Se fosse apenas uma omissão de informações, a gravidade seria menor. Mas há análises feitas pela própria ANEEL que demonstram uma tentativa de, enganosamente, mostrar que a tarifa se reduziu!

No gráfico abaixo, a ANEEL usa o IGP-M para atualizar os dados tarifários dos anos anteriores a 2022. Como o IGP-M é influenciado pelo valor do dólar, os valores passados são inflados, fazendo parecer que a tarifa em 2022 é mais barata que a de 2010.




- Quem já viu um amperímetro funcionando sabe que esse aparelho não precisa tocar no fio para medir a corrente que passa por ele.

A leitura se faz pelo efeito eletromagnético que o fio provoca no aparelho. Portanto, no amperímetro é induzida uma corrente elétrica que é medida. Assim, basta a proximidade de um fio com outro para que esse efeito ocorra. Esse efeito é conhecido há séculos e deveria ser motivo de preocupação e fiscalização da ANEEL. Agora, vejam a bagunça de fios dos nossos postes.

Os fios de telecomunicações correm em paralelo com o circuito de 220 volts que, por terem voltagem mais baixa, carregam correntes mais altas. Evidentemente há indução de uma corrente nesses fios de telefonia e perda de energia invisível nesse emaranhado. Onde esteve a ANEEL todo esse tempo? Que medidas independentes fez a ANEEL para diferenciar essas perdas de perdas comerciais (roubo)?

Voltando à questão do sol, para ilustrar os exageros sobre o recente crescimento da energia solar, a geração fotovoltaicas dos telhados tem sido comparada a Itaipu! Ora, em 2022 essa grande hidroelétrica gerou aproximadamente 6.000 MW médios ou 52.500.000 MWh. As grandes usinas solares, monitoradas pelo operador, somam aproximadamente 7.000 MW, geraram apenas 23 % da geração de Itaipu e 2% do nosso consumo. Nada de telhado fotovoltaico nesse número.

Esses dados servem apenas para mostrar que a geração solar está na primeira infância no Brasil. Enquanto o sol nos fornece apenas 2% do nosso consumo total, a Austrália já atinge 10,5%, Alemanha 9,7% e Espanha 9%. Estamos abaixo da média mundial de 3,2. Portanto, é preciso explicar esse imbróglio.

É urgente não confundir os telhados fotovoltaicos que, ao invés de receberem o nome que realmente os diferencia, são chamados de geração distribuída, causando uma enorme confusão.

Existe outra importante diferença entre uma usina solar e um telhado solar. A evidente desconexão é que essa microusina está dentro da residência do cidadão, no final da rede, e foi imaginada para atender as necessidades do proprietário.

Um telhado solar de 10 metros quadrados pode abrigar cerca de 4 placas fotovoltaicas. Em números aproximados, esse telhado vai gerar no entorno de 100 kWh/mês, ou 1,2 MWh em um ano, abaixo do consumo médio das residências brasileiras. Imaginem esse efeito nas periferias de baixa renda!

Portanto, uma conta simples mostra que, para gerar uma Itaipu, 43,75 milhões de telhados de 10 metros quadrados seriam necessários. Segundo o IBGE, mais da metade do número total de domicílios no Brasil! Tais afirmações não informam nada.

A não ser em casos muito especiais, o telhado fotovoltaico mal consegue suprir o consumo da residência que cobre. Quando exporta alguma corrente, ela é mínima e se espalha pelo circuito de 220 volts que servem as ruas no Brasil. Quem consome essa exportação são os vizinhos que não têm telhados e pagam essa energia como se ela viesse de longe. Portanto, as distribuidoras não têm perdas com os vizinhos sem telhado. A geração de energia em dias quentes alivia a rede das distribuidoras, mas esse assunto está fora de pauta!

O que pode acontecer com a taxação dessa mini – micro corrente exportada é que os consumidores poderão instalar medidores bidirecionais dentro da residência para monitorar essa exportação “vilã”. Se alguém viajar, para não ser taxado, o melhor é desligar o inversor, o que equivale a desligar o sol. Só mesmo no Brasil!

Roberto Pereira D’Araujo é engenheiro, ex-assessor da Eletrobrás e diretor do Instituto Ilumina.

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