Correio da Cidadania

Comentando a venda de Carcará

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Foto: Reprodução Petro Notícias

A Petrobrás vendeu Carcará a preço de banana podre.

E a prazo, púrpura sorte pois receberá um valor maior em reais. Agora recebe a prestação final. Parabéns a Equinor e ao consórcio comprador, que juntando com Carcará Norte, têm agora o grande Campo de Bacalhau que, depois de delimitado, terá reservas provadas de pelo menos 4 bilhões de barris de óleo equivalente. Isso fora o óleo da acumulação Guanxuma, como vaticinei em muitos artigos e comentários, que era “upside” e virou descoberta ou acumulação. E ainda há outras boas oportunidades no bloco comprado. Tudo aconteceu conforme previ e duvido que alguém conteste. É um desafio! Falta só a comprovação das reservas provadas que vaticinei com probabilidade superior a 90% de ocorrerem, que só poderão ser comprovadas após delimitação.

A estranha lógica da Petrobrás, que não perfurou um único poço no flanco da estrutura, como é prudente fazer para se delimitar acumulações, para depois desenvolvê-las ou até vendê-las como mal fez o dirigente Pedro Parente e todo o Conselho de Administração da Petrobrás (CA) da época, uma estratégia lesiva a Petrobrás com os valores irrisórios da venda obtidos, e com também a não participação proposital anunciada da compra de 30% da Carcará Norte como tinha direito. Erro de gestão irresponsável de um projeto completo orçado em no máximo, “absurdos” US$ 13 bilhões com dispêndio de longo prazo, pois o mote do senhor Parente é o mesmo que o do atual ministro da economia, ou seja que petróleo estará em desuso, e que lá embaixo não valeria nada. Vale? Por que estão perfurando muitos poços em Suriname e muito poucos em Sergipe, de configuração geológica mui semelhante, que pode até se prolongar até no offshore da Bacia de Jacuípe e quiçá Camamú, na Bahia? Alguém sabe? Vejam a data das descobertas de Sergipe e tentem saber das boas imagens propiciadas pelas novas tecnologias usadas, capazes até de distinguir o gás do óleo e este da água. Cubar os volumes ora habituais então. Uma baba!

Voltemos aos fatos. Carcará foi descoberto em 2012 e previsto o seu primeiro óleo e gás em 2018, como exposto em inúmeros cronogramas de projetos da própria Petrobrás. Tenho as cópias dos “teasers”. Hoje, fevereiro de 2022, depois de vendido há muito, não está ainda sequer minimamente delimitado. Desafio quem me desminta e com boas justificativas.

Absolutamente financistas, o senhor Parente, seu CA e gerentes de primeira linha buscaram a alavancagem. Tivessem desenvolvido o Campo, a empresa teria hoje com maior faturamento e até exportando mais petróleo, provendo o Brasil de todo gás que necessita, promovendo assim o nosso desenvolvimento e tornando ainda melhor o mix energético brasileiro. O atual ministro da economia, o senhor Paulo Gudes, a legenda dos vaticínios econômicos irrealizáveis e sempre desmentidos por fatos, continua insano. Lembro-me que ele citava, como modelo previdenciário e de satisfação popular, o Chile, como o projeto ícone e inconteste do ultraliberalismo de Chicago, o da economia com Estado minimíssimo ao superlativo redundante. Qual é a realidade? Ele emudeceu sobre o Chile modelar? Depois de muita agitação e de contrariedade popular com o modelo econômico, foram eleitos, em eleição democrática os representantes contrários ao “excelente (sic)” modelo, que erradicou absolutamente os “chicagos boys” que arruinaram a economia chilena e a poupança popular, principalmente a dos desvalidos, elegendo um governo democrático comandado por um jovem de pouco mais que 30 anos, que conseguiu liderar o Chile. Que modelo é esse senhor Guedes, que até o FMI, hoje, o reprime, e só é usado por fanáticos dos próprios conceitos umbilicais sem quaisquer práxis proativas? E tome continuar a tentar enganar o povo.

Hoje o senhor Guedes, completamente desacreditado, é apenas um “líder messiânico” sem o quilate do Antônio Conselheiro, e apenas é escravo das próprias convicções iguais às do Olavo de Carvalho, sem conseguir enganar mais ninguém. O último, por estar morto. Pior é que o tinhoso vivo ainda divulga alucinações e devaneios psicopáticos intestinos, afirmando que estaríamos milionários se o petróleo estivesse nas mãos da iniciativa privada. Estaríamos? Vamos aos fatos.

Quase todas as elétricas distribuidoras e fornecedoras, que foram vendidas por preços aviltados, continuam monopolistas e com tarifas de bandeiras vermelhas, ultra extorsivas para uma população de salário mínimo de R$ 1.100,00 (até dez 2021). O que as vendas comprovam senhor Guedes? Nenhum dos seus vaticínios vira realidade, muito ao contrário, sempre com a conveniente e ruim explicação. Como diria o poeta Estrela, antigo chofer de praça em Aracaju na década de 1960: “Isso, aliás, finalmente, nada”. Bem igual, não?

E a Vale com o melhor minério de ferro do mundo em teor. Comparem por quanto foi vendida e quanto a Vale vale hoje? Dirão: excelentes resultados financeiros como ocorridos. Esquecem-se de falar dos brumadinhos, da classificação da empresa em termos de sustentabilidade, de que já mataram e matarão, se medidas “caras de contingência” não forem adotadas. Os lucros certamente foram enormes e acintosamente idem o passivo ambiental em todo o mundo, onde a Vale tem grande capilaridade. Assim meus caros, os resultados são apenas um retrato de um bom momento. O filme será uma tragédia se a política tresloucada continuar. Alguém aponta inverdades no acima escrito? E quero a Vale com menos lucros e mais saudável, afirmo.

Pior é a venda anunciada da Eletrobrás, segundo acabei de ler, que está sendo feita com EVTE’s errados, viciados, sempre para lado dos potenciais compradores privados. Segundo o que li o questionamento é do TCU e apenas parolo sobre o fato. Não afirmo, porque não conheço muitos elementos mas, creio, que o meu desconhecimento é ainda muito menor do que o conhecimento do senhor Paulo Guedes e trupe, desculpem-me, equipe, sobre geopolítica do petróleo, principalmente com o Brasil relegado ao segundo plano global, convidado apenas para pertencer as organizações mundiais após a China, Rússia, Irã e orientais suplantarem os EUA em termos tecnológicos, lógico que em algumas atividades, e crescerem muito seus PIB’s, apesar de também exibirem inflações relativas elevadas. Pouco se comenta sobre o desuso do dólar como moeda de comercialização dos energéticos hidrocarbonetos e as mais consequências para a economia mundial, como parece a conflagração atual na Ucrânia.

Também as estatais petrolíferas apresentaram resultados financeiros melhores que as majores, hoje nas mãos de grandes grupos do capital financeiro. Basta pesquisarem ao invés de mentirem. Resta parabenizar a estatal Statoil, e Exxon e Galp pela compra de Carcará e vencerem a concorrência belo ativo Carcará Norte. Tenho inveja de não ter dirigentes tipo os noruegueses que cuidam do seu povo e do seu futuro, sem quaisquer cartões corporativos nos seus bolsos e principalmente nas suas algibeiras. O campo de Bacalhau também será a maior acumulação brasileira de gás associado, vendido, justo quando todo mundo demanda a maior utilização do energético gás e com petróleos na casa de US$ 80,00 algo impensável há 1,5 anos. Vá entender?

 

Luciano Seixas Chagas é geólogo.

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