Correio da Cidadania

Aqueles que torcem contra

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Cronicavírus in Brazil (6)


Créditos da imagem: Xixo

Após um breve hiato, nosso conto de fardas retorna para informar que o Palhaço Bozo finalmente conseguiu se aproximar de uma meta que defende, pelo menos, desde os Abertos 90, após a Primeira Era da Locupletação (*1). É possível que fosse um sonho ainda mais antigo, porém não temos registros disponíveis que comprovem a teoria.

Trata-se da morte de 30 mil pessoas. Simplesmente a morte de 30 mil pessoas. Só isso.

E graças à pandemia de cronicavírus nosso mítico palhaço pode considerar seu sonho realizado. Na noite desta segunda-feira (*2), já chegávamos aos 29 mil e 500 mortos por um misto de pandemia e desgosto com as piadas do Palhaço Bozo. Enquanto você lê o sexto capítulo da saga, o número magico já é realidade.

Com certeza, nosso palhaço produzirá algum quadro ou esquete para homenagear o feito nos próximos dias, algo que aguardamos ansiosos.

Enquanto isso, no Mundial de Cronicavírus, nós disparamos. O trabalho conjunto do técnico interino com o negacionismo do Palhaço Bozo e seus produtores, roteiristas e personagens coadjuvantes, fez-nos chegar a pouco mais de meio milhão de casos registrados, superando os russos em mais de cem mil casos, pouco mais de uma semana após alcançá-los. Consolidamos a vice-liderança. Salve a seleção.

E mesmo com os nossos milhões em ação, a subnotificação também é forte por aqui, diferente do líder do campeonato, a Terra da Liberdade, onde, segundo a Goebbels News, sobram testes.

E com quase dois milhões de casos registrados e 110 mil mortes, os últimos citados lideram com segurança. Mas nós estamos na cola. Podíamos igualar os números hoje mesmo, se dispuséssemos de testes com a fartura que o alaranjado imperador Rambozo, The Original, fornece em seus (con)domínios.

Ainda em abril, na famigerada reunião da fita, vimos uma série de manifestações positivas do Frankenstein de Wall Street, um monstro criado com pedaços de vermes provenientes em parte de Chicago, em parte de Santiago, ainda nos anos 70, e que atua no programa do Palhaço Bozo como um personagem que representa banqueiros e grandes players financeiros, reproduzindo seu péssimo humor sobre a meta que estamos a bater.

Ainda na fita, o nosso Frankenstein de Wall Street comemorou a morte de idosos, pois tiraria o peso da previdência, além ironizar a vida como um todo, desde a quebra de pequenas empresas, transformando sua própria audiência em subalterna de grandes corporações, até urras sobre a diminuição da população ‘indesejada mesmo, paciência’.

Mas voltando ao último domingo, um dia antes da meta de 30 mil mortos ser superada, a audiência bovinizada do Palhaço Bozo tomou a Praça dos Três Estúdios, em Brazilia DC, na tarde de domingo, com a mesma falta de medicação psiquiátrica de sempre. Mugiu absurdos quando seu palhaço supremo apareceu montado a cavalo tocando o gado.

Ganhou destaque a milícia dos 299 do New Brazil, que ainda sem seu líder, o Sargento Bigode, que segue internado com cronicavírus, está sob a liderança da perseguidíssima Loira do Banheiro Nazista (ver episódio 2). Caso seja presa como promete a realidade, o grupo passará a se chamar Os 298 do New Brazil.

Pois bem, os futuros 298 do New Brazil (mas ainda 299) empunharam tochas e bandeiras neonazistas ucranianas, no melhor estilo Ku Klux Klan. Tudo normal. Anormal foi em Saint Paul City, quando ‘Aqueles que Torcem Contra’ foram pra cima de um súdito do New Brazil que portava semelhante bandeira, repito, neonazista.

Eis a New Freedom de Expression, como diriam os coaches. É a expressão máxima do colaboracionismo bovino ao reich que se forma. Vindo de cima, é claro.

Sobre este triste domingo em DC, relatou via zap-zap um colega jornalista soviético que teve a infelicidade de ser escolhido pelos homens-que-controlam-os-meios-de-produção da firma em que trabalha para filmar tamanha boçalidade: “os caras ficavam colocando as falas da reunião (da famigerada fita) em looping aqui, vibrando com cada palavrão do Palhaço Bozo. Fizeram mesh-up com a música tropa de elite. É tudo muito primitivo, parece um bando de símios batendo no peito”.

A sociedade contra o New Brazil

Mas enquanto a capital do New Brazil está em polvorosa, com os colaboracionistas do regime de palhaçadas tomando as ruas, em outras capitais, os dissidentes da morte, ou ‘Aqueles que Torcem Contra (ATC)’ seguiram o exemplo de Joy Port (antiga Porto Alegre) que vimos no último capítulo e fizeram a carreata dar ré em mais duas importantes cidades.

Compostos por torcidas organizadas, trabalhadores cansados de palhaçadas de mau gosto em geral, com destaque para os entregadores de aplicativos e outros new empreendedores, além de movimentos sociais e outras organizações, os ATC têm mostrado um caráter bem amplo e diverso, se comparado aos súditos do New Brazil: monossilábicos e sempre muito raivosos, vítimas imaginárias que são. Os ATC parecem não compartilhar da mesma filosofia, pelo contrário.

Em Saint Paul City, os ATC tomaram as pistas da First Avenue (antiga Avenida Paulista) e falaram: aqui não! E ali não. Foi um chuta-bunda de súdito do New Brazil de encher os olhos. Em todos os sentidos. Nas falas, nos cartazes, na força e na vontade.

Uma senhora, portanto uma bandeira do New Brazil, uma bandana da Terra da Liberdade, um inofensivo taco de beisebol e uma camiseta com os dizeres ‘fascista é o ** da sua mãe’, ameaçou agredir a multidão e logo foi acalmada por um companheiro de militância e por ele levada de volta ao rebanho. “Venha tesouro, não se misture com essa gentalha”, afirmou o policial militar, que se recusou a tomar-lhe o taco, mesmo diante de toda sorte de câmeras.

Mais tarde, a linha de frente do New Brazil e a contragosto dos seus governadores-palhaços – que agora junto ao Domingão do Centrão estudam como cooptar a revolta daqueles que torcem contra em prol dos seus próprios programas de palhaçadas – entrou em ação. Com seus escudos defendendo os súditos do New Brazil e as armas apontadas para aqueles que torcem contra, a gangue paramilitar do Palhaço Bozo mais bem paga do New Brazil empregou todas as suas forças contra aqueles que torcem contra, abrindo a via para trios elétricos decorados com a bandeira neonazista ucraniana.

Não foi fácil tirar esse pessoal da rua. E o palhaço Moluscowski tinha razão quando tocou na necessidade do Estado recentemente. Realmente, um programa de palhaçadas democrático-burguês não tem lastro sem tamanha linha de frente.

Mas enquanto a turma dele tenta encontrar um meio de cooptar a revolta dos ATC, para posteriormente ‘trair o movimento’ e negociar um lugar de oposição tolerada no próximo regime, como já vimos acontecer (e aqui falo, novamente, do andar de cima, para que não me entendam mal), a linha de frente da militância pró-reich gastava toda a munição contra os ATC. Inclusive houve um momento em que acabaram as balas de borracha e alguns ATC tiraram uma onda, sentados em uma cadeira.

E assim o New Brazil protagoniza a filmagem de mais um clássico do cinema: The Warriors Antifascistas. E quem diria: as gangues de rua dando uma lição aos cidadãos de bem. Esperemos e protagonizemos os próximos episódios.

As conversas e a adesão parecem grandes, torçamos para que essa sublime produção não termine nos cemitérios da Namoradinha de Auschwitz (ver últimos episódios) ou pior, se transforme em uma esquete de algum programa de palhaçadas liberal, como já vemos a cooptação ser formada.

Além de Saint Paul City, também o Rio (ler com o sotaque green-go do Imperador Rambozo, The Original: ‘RRRIOU’) contou com forte presença daqueles que torcem contra. E parece que o New Brazil vai deixando de ser uma piada benquista por muita gente.

Mas atentos: não somos 70%! Não caiam na armadilha da linda e maravilhosa união entre todos nós. Há aqueles que só querem um New Brazil para si.

As Fábricas de Água Sanitária de dois bozinhos

Mas não é só de Palhaço Bozo mostrando serviço, papel higiênico e Frankenstein Liberal festejando a morte que vivem os Estúdios Bozo. Foi a vez da Loucademia de Milícia quase capotar a veraneio-placa-fria por duas vezes com todos os palhaço-bots dentro. E nessas duas quase capotadas, dois golpes duros na familícia do Palhaço Bozo e em dois dos hoje três bozinhos crescidos.

O primeiro veio no Flavuxinho da Rachadinha. Deu na imprensa soviética que ele teria suas rachadinhas em fabricantes de água sanitária. Mas ninguém deu muita atenção, afinal, os holofotes andam pelo personagem principal. Nada comprovado – ainda – mas o cheiro podre aumenta no ralo público.

Outra fábrica que vem sendo socializada pelos sovietes da imprensa e do poder judiciário é a de notícias falsas do Carluxinho Feiquenils. Pobre Carluxinho, pobre Careca da Segunda-Feira-Merda, pobre Loira do Banheiro Nazista. Tão injustiçados.

“Poxa vida, não se pode mais nem propagar fake news nazista financiada por empresários espúrios em paz! Puta mundo injusto, meu!”, lamentaram os influencers do New Brazil.

Mas o Palhaço Bozo foi ainda mais além: “Tenho as armas da democracia. Os inimigos estão aqui dentro (...) Silêncio é apoio (...) O new Brazil é um só. Peço a deus que elimine a todos”, esbravejou!

“O senhor pediu paz ontem pro juiz?”, perguntou o repórter Karl Jong-Um, da SovietNews.

“Acabou a entrevista”, bradou o Palhaço Bozo e entrou no seu fusquinha oficial com mais 32 palhaços de terno e óculos-escuros, aos mugidos de ‘parabéns presidente’.

O urso comunista

E vamos caminhando. Flavuxinho e Carluxinho em apuros. O Palhaço Bozo acuado junto com sua audiência bovinizada e a turma dos 299 se tornando 298 com a iminente temporada da Loira do Banheiro Nazista no sistema penitenciário, eis que surge o Urso Comunista.

Em mais uma maravilhosa produção cinematográfica do New Brazil, o filme que começa a ser gravado nesta semana narrará a história de um ‘ursomem’ (espécie de lobisomem) russo-soviético que, após umas férias em Cuba, veio ao New Brazil. E nas noites de lua cheia, sai às ruas marcando, com suas unhas afiadas, o número ‘17’ nas testas daqueles que levantaram o nosso reich tropical de péssimas piadas. A obra provavelmente será nomeada ‘O Bastardo Inglório do New Brazil’, e promete bater recordes de bilheteria.

Quem não aguentar as cenas fortes, que beba leite.

Mas não beba muito leite, pode dar diarreia. No meu caso pessoal aqui, acabaram as centenas de rolos de papel higiênico da primeira semana. Alguém me passa uma bandeira neonazista ucraniana, por favor?

Nota:

*1: Salve Inácio Loyola de Brandão; Não Verás País Nenhum.
*2: Os dados de contaminação foram checados no site World Do Meters; checados em 01/06 às 15h: https://www.worldometers.info/coronavirus/ 

Leia os outros episódios da série:

Cronicavírus in Brazil: tudo do pior que podemos apresentar

Cronicavírus in Brazil (2): milicianos, terraplanistas e outros seres da lata de lixo da história rumo ao Hexa!

Cronicavirus in Brazil (3): com vocês, a Namoradinha de Auschwitz - e outras histórias

Cronicavírus in Brazil (4): Tiros, compras e água sanitária

Cronicavírus in Brazil (5): Segue o líder!

 

Raphael Sanz é jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania.

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