Correio da Cidadania

Milicianos, terraplanistas e outros seres da lata de lixo da história rumo ao Hexa!

0
0
0
s2sdefault

Cronicavírus in Brazil (2)


Ilustração: Correio da Cidadania

- Hoje não! Hoje não! Hoje não! Hoje sim... Hoje sim..., narrou o narrador, ‘tá OK’? - E risos da plateia que comparece aos estúdios.

Pois é! Não foi no começo do último mês de abril que veio a tão aclamada intervenção militar no programa do Palhaço Bozo.

Mas os generais passam bem, obrigado. Mesmo os que contraíram o Cronicavírus ou que foram submetidos à enorme tortura de serem inscritos como sócios do Vasco da Gama.

Pobres generais, tão injustiçados que ficaram de fora até mesmo das maravilhosas reformas Previdenciária e Trabalhista que prometem salvar o Brazil e abrir uma nova era parecida com o paraíso das artes gráficas que as incansáveis Testemunhas de Jeová seguem trazendo às nossas portas. Sempre a fim de convencer-nos a abandonar uma vida em que ainda existe algum sexo, diversão e pequeno-prazer para adotar seus dogmas religiosos, cheios de restrições e culpa. Parece pouco sensato, mas por incrível que pareça ainda convence algumas pessoas. E as fazem correr riscos de contaminação. Vai entender...

Algo parecido tem se aplicado também ao programa do Palhaço Bozo, que se mostra cada dia mais decadente, mas consegue manter a audiência e apoio fiel dos que em sua produção ainda não foram demitidos a pedido de um dos 3 bozinhos, por não rirem de alguma piada péssima que eles mesmos redigem.

Entre as participações canceladas, a do mais novo ‘defensor da vida’ no New Brazil: o Gordinho do Plano de Saúde (GPS), que agora já estuda a qual projeto de novo programa de palhaçadas se juntar na próxima temporada. Lembremos: GPS hoje é tido como alguém sensato, mas seu papel ali sempre foi o de vendedor de planos de saúde privados. Custasse o que custasse. E era bom nisso!

Mal começava o mês de abril quando GPS foi demitido do programa, e logo virou alvo de ofensas da divisão robótica da Loucademia de Milícia – chefiada por um dos três bozinhos – com suas tropas auxiliares de terraplanistas.

Em contrapartida, e na mesma rapidez, também ganhou afagos da Rede Goebbels (& satélites) e de todo o dito centrão: pastores fundamentalistas, latifundiários que assassinam indígenas e o meio ambiente, membros de outras loucademias de milícias que praticam a extorsão e a coerção de populações inteiras, banqueiros, players financeiros, representantes de grandes corporações, picaretas de todo tipo e toda uma fauna ainda mais vasta de seres provenientes da lata do lixo da história que agora posam como gente decente e sensata – defensores da democracia, das boas maneiras e da união entre todos nós contra o Cronicavírus. “Temos que vencer essa guerra juntos”, dizem.

Mas os 3 bozinhos, Carluxinho, Eduxinho e Flavuxinho, não perdem tempo. E conseguiram fazer a audiência rejeitar GPS de forma raivosa de maneira tão rápida e profissional que não conseguiram repetir a dose com tanta maestria na vez do outro ‘demitido’ de honra do mês.

Entre aspas simples, sim, porque foi um pedido de demissão seguido de uma delação premiada que expunha os 3 bozinhos para a audiência – tanto a fiel quanto a que não tem outra opção senão acompanhar o show de horrores. E nesse movimento, a demora de ação dos 3 bozinhos pode ter retardado o rechaço ao Super-Pato que prometia nos salvar da corrupção, mas sentia muita dificuldade ao responder a perguntas simples. Talvez ainda sinta. Não acho que isso tenha sido encenado.

E nesse vácuo, as piadas do Palhaço Bozo de que ‘foda-se’ o Cronicavírus, ‘não sou coveiro’ começaram a ser levadas a sério e as pessoas foram às ruas pelas mais diversas razões. Umas só queriam passear mesmo. Outras, a maioria, precisavam trabalhar para não ser despejadas ou morrerem de fome, e tinham de vender sua força de trabalho para os maravilhosos lumpemburgueses que com muito êxito também foram às ruas após sabotarem a quarentena, e a nossa saúde física e mental, através das palhaçadas do seu representante. E se na guerra social empregado é colaborador, até que os coaches podem ter razão nesse ponto.

Em seguida, quando houve a liberação das hordas de seres humanos sedentos por qualquer coisa que não sabem nem explicar, uma pessoa se destacou mais uma vez entre os fãs do Palhaço Bozo que tomavam as ruas pedindo o fim dos juízes e legisladores comunistas do soviete de Brasília. Era um gordinho. Aquele que parecia enfartar numa ponte em São Paulo e pediu a morte de Johnny Dólar. Um ser abjeto que fui descobrir, reivindica para si um suposto ‘anarquismo’ com nuances de liberalismo nazistoide californiano e fundamentalismo cristão medieval – exatamente o contrário do que sabemos que o anarquismo e todo o campo libertário representam, simpatize ou não com eles. Esgoelava-se nas ruas contra a quarentena, a saúde alheia e os comunistas imaginários, em nome do seu amigo imaginário – aquele que deve estar ‘acima de todos’.

Quando tive o desprazer de tomar conhecimento a respeito da existência desse ser, já não suportava mais ouvir falar de Cronicavírus, Palhaço Bozo, 3 bozinhos, Rambozo, Loucademia de Milícia e toda a grande merda na qual nos metemos. Nesse dia, me fechei em meu próprio e vi o mínimo de notícias, vídeos e tranqueiras online, o suficiente para trabalhar e me internei com uma guitarra e um baixo por algum tempo. O mau humor e as preocupações sobre o céu caindo sobre nossas cabeças durante e após o Cronicavírus me tomaram de assalto. Sei que muitos dos leitores também não aguentam mais toda essa desgraça: estamos juntos! Não percamos os cabelos. Eles não merecem nem um fio. E se já os tiver perdido, e daí? Não sou barbeiro, tá oquei?

Outra figura grotesca que ressuscitou, pois havia algum tempo que se sentara ao pé de uma goiabeira e ali ficou quieta, foi a Loira do Banheiro Nazista! Uma não tão antiga lenda urbana paulista, personificada. Diz a lenda que nos anos 20 era uma garota que morreu fuzilada por Stalin na Ucrânia; e voltou ao mundo por meio de um vaso sanitário mal-assombrado do interior de São Paulo, prometendo vingança. Após seu renascimento, flertou com musculosos rapazes neonazistas e suas gangues que atuavam longe dos holofotes da mídia e sob vista grossa das autoridades, mas tirou um ano sabático como feminista antes de retornar como assessora da ministra da Família Doriana e dos Humanos Direitos. Agora aparece nas redes organizando uma milícia de mortos-vivos como ela, que prometem sugar a energia dos vivos, matando-os e transformando-os na sequência. Como aprendera com alguns alemães esquisitos que visitaram a Ucrânia antes de desencarnar.

Nos finais de semana de abril vimos por diversas vezes o Palhaço Bozo fazer seu show nas ruas, os quais os roteiristas nomeavam de ‘Manifestação pública e democrática’ e assim apareciam entre os Plim-Plins. Na última delas, entre os dias 2 e 3 de maio, jornalistas e enfermeiros foram deliberadamente agredidos nas ruas pela e para deleite da audiência. Bandeiras pedindo tortura, censura e mais mortes tremulavam a cada piada do personagem principal. Mas o que mais chamou a atenção foram as tragicômicas – ou farsescas? – brigas entre o bozismo e o superpatismo. Ou, ‘o trotskismo para chamar de seu’, como apontaram – erroneamente, mas não importa, aqui vale a ironia – alguns memes de humor político nas redes. Tudo ao vivo na GoebbelsNews, que ensaia algum desconforto mas acaba por contemporizar com tão lamentável pântano.

Há quem ainda apoie tamanha sandice, apesar das piadas já terem perdido a graça – se é que realmente já tiveram alguma. A essas pessoas, uma coisa é importante ser dita, sem ironia: seus filhos e netos terão vergonha de vocês e a história os julgará com todo o rigor que lhes cabe. Já ouviram falar dos Julgamentos de Nuremberg? Não é fake news!

Rumo ao Hexa!

E enquanto a Loucademia de Mílicia tenta apagar o próprio incêndio e inflar sua audiência para as próximas apresentações ao vivo de final de semana, o Cronicavírus vai atingindo recordes no New Brazil, rumo a mais um mundial!

Ao fechamento deste artigo (dados reais, apesar do surrealismo da crônica*), ainda estamos em oitavo lugar na tabela dessa Copa do Mundo de pontos corridos. Em tempo real (dados de 8 de maio), estamos com 141 mil casos totais confirmados, 5300 novos casos notificados só neste dia, e média de 5 mil novos por dia. Para não falar das mortes, que chegaram a variar próximas de 500 por dia, 449 no presente dia.

Com mais 50 mil novos casos confirmados ultrapassaremos a quinta colocada Rússia. Já atropelamos a China e o Irã que tinham ganhado destaque, e agora vamos com força para essa decisão contra os russos, atropelando a Alemanha e a França no caminho, com uma média de 500 novos registrados por semana, contra 100 dos rivais.

Salve a seleção!

Em segundo e terceiro lugar, Espanha e Itália, respectivamente, crescem em ritmo duas vezes menor que o nosso e podem ver o cavalinho verde e amarelo, com estrelas e listras, se aproximando no próximo domingo a noite na Rede Goebbels.

Em breve assumiremos a vice-liderança. Ainda assim será difícil seguir o líder e eventualmente batê-lo. Os Estados Unidos, do alaranjado imperador Rambozo, The Original, conta com dez vezes mais casos registrados (1 milhão e 300 mil) de cronicavírus e lidera com folga quíntupla em todos os outros quesitos. E isso tudo apesar dos saques. Mas também aprontou das suas. No último dia 4 de maio, seus mercenários protagonizaram um verdadeiro ‘Bacurau da vida real’, contracenando com pescadores venezuelanos. Mas isso é tema para outra crônica. De toda forma, há que se elogiar a programação da emissora.

Retomando o foco, o perigo de ficarmos só no vice é real. Como em 1998, estamos sendo sabotados pela própria comissão técnica. Como na piada do inferno brasileiro de que quando não falta merda, falta quem a entregue, também carecemos de testes suficientes para as pessoas que chegam aos montes nos hospitais pedindo socorro em meio à e em decorrência da pandemia.

A subnotificação é absurda, e aqui não há nenhuma ironia com a pandemia, muito menos com os trabalhadores da saúde, apenas com aqueles que sabotam o trabalho destes e a saúde de todos nós. De repente o leitor desavisado pode vir a mal julgar essas linhas. Apesar do código confuso, a analogia com o futebol se deve a que os governantes brasileiros realmente estão fazendo tudo o que podem – e não podem – para liderar esse ranking.

Ou melhor: na falta de uma pedra, vai uma ironia.

Mas voltando ao que interessa, será que o Hexa vem em 2020 da mão do Palhaço Bozo, como veio o Tri com o general Garrastazu Médici?

Esse final de semana (9 e 10 de maio) promete dar indícios mais claros disso. Por conta do perigo real de contágio por Cronicavírus – não importando se sua procedência é natural, decorrente da ação humana irresponsável, ou se tem acordo com alguma teoria conspiratória – muitos de nós, a maioria que ainda tem alguma sanidade mental e conexão entre neurônios, deve ficar em casa durante os finais de semana.

E o máximo que poderemos fazer é assistir ao vivo na GoebbelsNews o show do Palhaço Bozo e sua Loucademia de Milícia, que chamaram a audiência para tomar as ruas e perpetuar esse horroroso script em nossas televisões e celulares.

E a democracia? Pobre democracia! Preocupa-se com razão com o Cronicavírus e, com ainda mais razão própria, faz sua milimétrica vista grossa às hordas que se aproximam de si – em claro sinal de simbiose. O problema é que somos muitos os que vão se impressionar com o simulacro e entrar em profunda confusão. Não se assuste! Não há limites para palhaçadas! Acreditar que há limites pode te tornar limitado, diria um desses gurus da nova era.

E não se esqueçam: desliguem os aquecedores das piscinas! Eles são atraídos pelo calor e o Inmetro não está nem aí! Tá oquêi?


Nota
*Os dados de contaminação são do site World Do Meters: https://www.worldometers.info/coronavirus/ 

Leia também
Crônicavírus in Brazil: tudo do pior que podemos apresentar 

Raphael Sanz é jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania.

0
0
0
s2sdefault