Correio da Cidadania

É preciso humanizar a humanidade

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(Bordado poesia: A vida acima do lucro, abril de 2020, criação de Olinda Evangelista)


I

Sonhávamos com casa, comida,
Emprego e futuro...
Um amor sempre
Presente e recíproco...
Queríamos andar sorrindo,
Mas os ventos traziam dias
Difíceis...
Falávamos em plantar árvores,
Escrever livros e ter filhos para amar...

II

Víamos a natureza como
Fonte inesgotável
E intensificamos nosso
Domínio e a destruição...
Mas tudo parecia que
Tinha um objetivo...
Dizíamos que era para
Melhorar a vida...

III

Sentávamos na varanda
E víamos o tempo lentamente...
Agora nos desesperamos
Com ele cobrando
Nossos atos...

IV

Nossas aflições,
Nossas esperanças,
Nossas dúvidas
Eram menores
Diante de tantas
Certezas...
Que carregávamos
Como verdades absolutas...

V

O tempo flui como átomos,
Partículas diluídas
No tempo
Que se misturam
Pelo ar que respiramos...
Agora descobrimos
Que poluímos, degradamos
E não podemos viver no
Tempo sem o ar que respiramos...

VI

Descobrimos que somos mortais
Tão frágeis e vulneráveis
Tão iguais em poucas coisas,
A mais sensível de todas,
Que somos natureza
Finita,
Mas que não devemos
Descuidá-la e maltratá-la
Tão insanamente
Como vínhamos fazendo
Enquanto fazemos
A travessia pelo caminho...

VIII

Se a vida não tem preço,
Por que o capital
Não suporta vê-la feliz?...
Por que o capital
Não enxerga o ser
Humano?...
Por que o capital
Não sobrevive
Sem o trabalho?...
Por que o capital
Despreza a vida
Quando não lhe dá lucro?...

IX

Por que o capital
Se tornou o vírus que
Mais mata?...
Mata milhões de fome,
Desemprego, doença, miséria...
Por que o capital só
Consegue sobreviver
Se destruir e dominar?...
Por que o capital só consegue se reproduzir
Quando expropria ou mata a vida?...
Mas por que o capital não consegue
Comprar a morte?...
Porque a morte só
Aceita a vida em troca.

X

Por que não cuidamos
Das dádivas da natureza
Que a mãe terra
Oferece todos os dias
Sem nada cobrar?...
Por que almejamos
A eternidade
Quando nem cuidamos
De nossa cotidiana finitude?...


Roberto Antonio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste.

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