Estados Unidos: a corrida armamentista no campo cibernético
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- Virgílio Arraes
- 09/06/2009
A chamada Terceira Revolução Industrial, tendo por base a microeletrônica na primeira metade dos anos 70, auxiliou sobremodo a derrocada política dos países do Leste europeu na década de 80, em decorrência da sua incapacidade de acompanhar o mesmo grau de produtividade do eixo norte-atlântico, a partir dos Estados Unidos.
Muitas das inovações propiciadas por ela originaram-se do financiamento maciço da Casa Branca, ao direcioná-las de início para o setor público. Destaque-se que este posicionamento de Washington não era novo, dado que, no final da Segunda Guerra Mundial, o governo Truman amadureceu o projeto de associação tecnológica entre o Estado e o segmento privado.
O local escolhido para abrigar a maior parte dos programas foi a Califórnia – estima-se que 1/5 do produto interno bruto do estado, atualmente o mais rico do país, derive destas parcerias.
Desde o seu princípio, o objetivo do projeto foi o de manter as forças armadas estadunidenses à frente das dos demais países, principalmente da União Soviética, desprovida naquele momento de armamento nuclear e ainda com a infra-estrutura bastante avariada. Isto proporcionaria aos Estados Unidos a possibilidade de manter-se sempre em larga vantagem.
Conquanto não haja mais a necessidade de uma corrida armamentista, visto o fim da dicotomia amero-soviética, mesmo assim os Estados Unidos mantêm aceso o dilema de segurança, remotamente inspirado em um adágio da Roma Antiga: se queres a paz, prepara-te para a guerra. Destarte, o percentual destinado a gastos militares situa-se há muitos anos estabilizado.
Não obstante a postura mais diplomática perante a sociedade internacional, a Casa Branca anunciou há poucos dias o estabelecimento de mais um comando militar, direcionado para a área de informática, com o fito de reforçar a proteção do país concernente a ameaças cibernéticas oriundas, às vezes, até de governos estrangeiros.
Assim, ele se somaria a um órgão civil, estruturado recentemente no âmbito da presidência da República por ser supervisionado pelo Conselho de Segurança Nacional. O novo ente será o responsável por coordenar a segurança cibernética dos sistemas do próprio governo e das bolsas de valores, bancos, aeroportos, entre outros.
Em função do histórico advindo da administração predecessora, quando o recém-inaugurado Departamento de Segurança Interna adquiriu poderes excepcionais de monitoramento sobre a população estadunidense, sob a justificativa de identificar rapidamente todo eventual traço de atividade terrorista, teme-se que as novas burocracias sejam uma continuidade disso.
Oficialmente, a redefinição administrativa põe a termo a longa disputa tácita entre a Agência de Segurança Nacional (ASN), desenvolvida na Guerra Fria para a guerra eletrônica, e o Departamento de Defesa. É possível que uma parcela da responsabilidade daquele órgão desloque-se para o novel organismo militar, até porque as agências de espionagem são proibidas por lei de exercer a sua atividade-fim internamente.
Desta maneira, a postura da Casa Branca, ao estruturar mais dois órgãos específicos para o campo do mundo informático, teria sido a de atualizar-se administrativamente perante os inimigos do século XXI, isto é, os conectados com o cibernético.
Relembre-se que o antigo titular do Departamento de Defesa durante a gestão Bush, Donald Rumsfeld, havia desejado redefinir a atuação tecnocrática não só de seu ministério, mas de todo o Executivo federal da mesma maneira que o presidente Truman fizera: para outra conformação de poder mundial, outro aparato burocrático.
Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.
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