Correio da Cidadania

Estados Unidos: o ponteiro mais à direita com Trump

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Barbara Kinney White House Photograph Office 

Na alvorada dos anos 1990, o eixo capitalista, capitaneado pelos Estados Unidos sob liderança do Partido Republicano, celebrava a vitória sobre o opositor comunista, liderado pela União Soviética. Logo, ela se fragmentaria em um sem número de países, entre os quais a Ucrânia, objeto de cobiça territorial da Rússia desde fevereiro de 2022.

Aquela época era a euforia materializada na controversa expressão ‘fim da história’, oriunda da pena de Francis Fukuyama, por onde se registraria a ausência de alternativas sociopolíticas viáveis no curto prazo à ascendente democracia neoliberal em boa parcela do planeta como na América do Sul recém-democratizada.

Sem contraponto como inspiração para ações efetivas, agremiações políticas nas quais havia segmentos menos conservadores ou às vezes até progressistas capitulariam de imediato. Na faixa norte-atlântica, democratas norte-americanos, de um lado, e trabalhistas britânicos, de outro, rumariam à concordância, embora com passos acanhados, com a ordem global.

O símbolo da ascensão disso seria o presidente Bill Clinton (1993-2000) e o primeiro-ministro Tony Blair (1997-2007). A fim de disfarçar a adesão incontida a olhos desatentos ou desalentados ao ideário, elaborar-se-ia a 3ª Via, rubrica envolta em embalagem na qual ocasionais qualidades dos dois sistemas outrora rivais se entrelaçariam em prol do bem-estar da sociedade.

No Brasil, seria o partido da socialdemocracia, assinalado por um tucano, a incorporar-se a ela de bom grado. Ao adentrar na seara tradicional da direita, a esquerda iria observar não o convívio fraterno com ela, apesar da rendição quase total, porém a manutenção do distanciamento ideológico, ao migrar aquela cada vez mais ao extremo de seu próprio polo.

Portanto, a despeito da tentativa da esquerda de coabitação cotidiana, a direita afirmaria a postura de repúdio. Com isso, a dicotomia usual da Guerra Fria não continuaria, conquanto haja a retórica até a atualidade de suposta existência de divisão.

Seria apropriado cravar a disputa eleitoral entre direita – chamada nos meios de comunicação de esquerda ou de maneira rara de centro-direita, ainda que os nomes das agremiações tenham adjetivos como socialismo, comunismo, trabalhista, democrático, liberdade etc. – e ultradireita.

Nos Estados Unidos, o sucessor de Bill Clinton, Al Gore, fracassaria contra George Bush Jr em 2000, considerado bastião do conservadorismo (incluso religioso). Os democratas retornariam esperançosos com a chapa Barack Obama e Joe Biden em 2009. Depois de duplo mandato, chegaria a Washington o antiliberal Donald Trump, republicano.

Biden viria em 2021 como presidente; contudo, Trump aparece como favorito em 2024 no pleito de novembro. Não se trata de rivalidade entre um candidato progressista (‘esquerda’) e um reacionário (‘direita’). Observe-se o tratamento interno concedido a representantes da ala mais liberal dos democratas como Bernie Sanders.

Discursar em um sindicato ou bradar maior tributação a setores bilionários a poucas semanas da campanha à Casa Branca é importante, mas insuficiente – e por que não demagógico - caso permaneça como mera peça de oratória - https://www.whitehouse.gov/briefing-room/speeches-remarks/2024/03/07/remarks-of-president-joe-biden-state-of-the-union-address-as-prepared-for-delivery-2/ .

Decepcionado, o eleitorado pode-se voltar ao grupo adversário, confortável, por seu turno, na futura aplicação do regressismo social em subido grau diante do desinteresse ou da lassidão do autoproclamado campo de esquerda ou de progressismo ao estar à frente do poder.

De maneira cíclica, quer em solo norte-americano, argentino, britânico, francês, lusitano etc., o pêndulo desloca-se, assim, mais e mais à direita. Em 2023, foi a vez da Argentina; em 2024, a de Portugal e talvez a dos Estados Unidos.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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