Correio da Cidadania

Estados Unidos: definição no parlamento e incerteza externa

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Olivier Douliery/AFP

Após cerca de vinte dias de indefinição no processo de escolha do sucessor de Kevin McCarthy, parlamentares elegeram finalmente o presidente da Câmara dos Deputados: Mike Johnson, integrante da ala republicana mais reacionária; por conseguinte, vinculado de modo bastante próximo do círculo de Donald Trump. Bacharel em direito e em administração, ele se especializou na área constitucional.

O nome inicial almejado pelo setor extremado do Partido Republicano era o de Jim Jordan, por ser o favorito de Trump. Contudo, sua candidatura seria impedida de materializar-se pelo agrupamento mais acautelado da própria agremiação, acostumada a conviver de maneira urbana com o Partido Democrata.

Dois aspirantes – Steve Scalise e Tom Emmer - desistiram de levar adiante a postulação ao cargo maior, ao observar de pronto a rejeição interior a seus pontos de vista, considerados, realce-se, comedidos demais em face dos posicionamentos habituais dos democratas. Além disso, o representante ao posto máximo da casa deveria originar-se do radical movimento Make America Great Again (MAGA).

Encerrado o disputado período da eleição, dupla questão se coloca de imediato ao recém-empossado mandatário da Câmara dos Deputados: a primeira é a interna, ao se relacionar com a votação do orçamento até meados de novembro, tópico de discordância significativa entre os republicanos ao ter desencadeado a substituição de McCarthy da presidência.

A segunda é a exterior, ao envolver o auxílio dos Estados Unidos a um dos contendores de duas confrontações: uma se refere à guerra russo-ucraniana, iniciada em fevereiro do ano passado a partir da decisão de Vladimir Putin de invadir o vizinho, com o propósito de anexar-lhe terras e talvez de derrubar Volodymyr Zelensky. Apesar disso, caracteriza-se como rivalidade de feitio tradicional, ao abranger dois países em torno do controle de territórios.

A segunda é inusual, ao abarcar de um lado, Israel, e de outro, Hamas, governante da faixa de Gaza, parte da Palestina – https://www.un.org/unispal/document/auto-insert-182149/. À surpreendente investida do começo de outubro, a administração conservadora reage com bombardeios. Até o momento, há incursões terrestres esporádicas, embora aguarde o mundo o envio maciço de tropas.

A vacância da presidência legislativa impedia a votação de ajuda financeira e militar aos dois aliados. No entanto, em decorrência do calendário do pleito à Casa Branca já se encontrar à vista, os republicanos terão a tentação de proceder com ziguezagues no cotidiano parlamentar, ao evocar tecnicidades para dificultar a tramitação de projetos de lei de interesse dos democratas como no caso da política externa.

No caso do socorro à Ucrânia, acrescente-se aspecto complicador: o desprezo de parcela da agremiação de oposição, onde se localiza o atual presidente da Câmara, de estender de forma indefinida o envio de armas e a concessão de créditos.

Portanto, a solução da titularidade no Legislativo não desemboca em situação favorável às demandas necessárias de Kiev; o país corre o risco de se tornar secundário aos olhos de Washington depois da emergência do conflito médio-oriental. Com a chegada do inverno, o vento sopra de modo contrário às aspirações da Ucrânia.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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