Correio da Cidadania

Estados Unidos: dificuldades do cotidiano da superpotência

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Diferente de outras potências ao longo das últimas gerações, os Estados Unidos mantêm sua estabilidade política materializada em constituição alterada de maneira lenta no teor desde 1789 e em sistema partidário no qual uma terceira via pouco viceja – no século 21, por exemplo, ela não apareceu até o momento.

O encerramento da Guerra Fria trouxe consigo a extinção da União Soviética, representante da maior extensão comunista da história, e a dificuldade da renovação real da esquerda ocidental, uma vez que a retórica dos tradicionais partidos socialistas, embora incessante na expressão do radicalismo, já não influencia a prática concernente a necessárias alterações da estrutura socioeconômica dentro do ideário democrático neoliberal.

Para tanto, observem-se suas alianças sem pudor ao chegar ao poder com agremiações até da ultradireita, se considerada a aversão à manutenção de direitos sociais consagrados a datar do advento da social-democracia, apregoados como indevidos ‘privilégios’, ou a identificação, mesmo envergonhada, com doutrinas autoritárias ou com períodos ditatoriais.

Nos dias atuais, os norte-americanos têm nos democratas ramificação menos conservadora, conquanto apresentada ela como agrupamento progressista e às vezes até esquerdista, ao se pinçarem cá e acolá um e outro parlamentar – o senador Bernie Sanders, hoje independente, porém ainda próximo da sigla, ou a deputada Alexandria Ocasio-Cortez.

Na nova ordem mundial, o deslocamento à direita da agremiação remonta à época da presidência de Bill Clinton há cerca de três décadas. A resposta republicana seria deslocar-se mais então: a vitória de George Bush Jr., no pleito de 2000 confirmaria o extremo conservadorismo.

Em 2008, seria a expectativa de guinada contrária na oposição, dado o fracasso do governo interno - crise financeira de 2008 com efeitos globais - e externo - duas guerras em solo asiático.

A interrupção seria seguida de pequena reversão da postura republicana. Isso, no entanto, não seria suficiente para caracterizar a gestão de progressista. A frustração da sociedade desembocaria no populismo republicano de 2016 e na eleição seguinte retornariam os democratas, sob signo de moderação, não de avanço político, apesar da necessidade derivada dos efeitos deletérios do flagelo do vírus corona.

Sem confronto em curso, a despeito da tensão simultânea com China, por causa do status da soberania de Formosa, e Rússia, por conta da invasão da Ucrânia, os Estados Unidos não conseguem coordenar a contento seus aliados em um planeta em recuperação da pandemia.

A erosão do prestígio internacional é visível. Em novembro de 1990, Washington obteve o respaldo unânime dos demais membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas para obrigar Bagdá a retirar-se do território vizinho, o Cuaite. Em 2023, medida assemelhada não seria alcançada pela diplomacia estadunidense.

Internamente, chama a atenção da dificuldade da Casa Branca de conseguir o apoio de parte da oposição com a finalidade de suspender o endividamento do país até o alvorecer de 2025 e, assim, garantir o funcionamento da burocracia federal, incluso o segmento militar.

Nesse ínterim, o acordo bipartidário seria autorizado a meros dois dias do vencimento. Deste modo, o país demonstra à população global inaptidão, ainda que temporária, para servir de modelo a seus seguidores ou parceiros.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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