Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: descrédito do Kremlin

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Com o recuo das forças armadas da Rússia nos últimos dias em uma das quatro regiões anexadas, Kherson, vislumbram alguns a expectativa de interrupção da confrontação em breve por exaustão política e econômica do Kremlin; contudo, caso aconteça, a justificativa oficial para a suspensão das manobras militares poderá ser o inverno o dificultador da movimentação das tropas.

Fator de desânimo a Moscou teria sido o inesperado resultado na eleição do meio do mandato nos Estados Unidos (EUA), por causa do equilíbrio parlamentar, mesmo tênue: predominância dos democratas no Senado ao passo que na Câmara dos Deputados a dos republicanos.

Como consequência, o generoso auxílio bélico da Casa Branca a Mariyinsky deverá manter-se, a despeito de ocasionais entraves da oposição, com vistas a desgastar o governo de Joe Biden até o pleito presidencial de novembro de 2024.

Diferente de 2014, período no qual a absorção da Crimeia ocorreu de maneira rápida, 2022 tem apresentado problemas à Rússia, impensáveis nos primeiros dias da investida, ao se estimar o avanço dos contingentes sobre a Ucrânia de modo inexorável.
Em decorrência do apoio dos efetivos moscovitas aos sírios, a ditadura de Bashar al-Assad sustenta-se até hoje. Por largas horas, a imagem de eficiência, portanto, dos combatentes reverberou ao mundo, malgrado o controvertido aspecto político da aliança entre os dois países - ou melhor, entre os dirigentes.

Colabora de forma negativa a menção ao emprego eventual de artefatos nucleares, mesmos de menor poder de destruição, por reconhecer, ainda que de forma simbólica, o malogro das forças convencionais nos campos de batalha, já corroídas nos meios de comunicação ocidentais pelo desestímulo dos recrutas e em especial dos reservistas.

Segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) no mês passado, o produto interno bruto (PIB) do país deve encolher 3,5% enquanto a inflação deve aproximar-se dos 15%, de sorte que se avolumam embaraços à atuação no conflito, apesar de não comparar-se com o drama de sua rival, vítima da redução de cerca 35% do PIB - https://www.imf.org/external/datamapper/NGDP_RPCH@WEO/OEMDC/WEOWORLD/RUS/UKR 

Deriva dos resultados da confrontação corrente o infortúnio do comércio de energia entre Rússia e Alemanha, abalado em setembro por explosões dos dois gasodutos Nord Stream, consideradas por equipes investigativas da Suécia e da Dinamarca como sabotagens, embora sem a indicação de ambas dos suspeitos dos crimes - https://www.dw.com/en/sweden-prosecutor-confirms-nord-stream-2-sabotage/a-63806519 

Por isso, o realismo dos dois contendores em alongar por novos quatro meses o entendimento relativo à exportação de cereais e de adubos a partir de portos da Ucrânia – o gesto demonstra que há a possibilidade de negociações mais amplas e ao mesmo tempo da necessidade iminente de divisas para as economias.

Enfraquecida, porém ainda com capacidade de recuperação, Moscou continua de maneira incessante a atacar a opositora, ao bombardear até a capital. Como consequência, Kiev a acusaria de que seus misseis haviam atingido a Polônia e ocasionado a morte de duas pessoas;

Washington logo se anteciparia a responder ao público e comunicaria ser necessário apurar o incidente, a fim de que a disputa bilateral não se tornasse regional, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), por ser Varsóvia sua integrante desde 1999.

De forma preliminar, esclareceriam os Estados Unidos que a defesa antiaérea ucraniana havia sido responsável de modo involuntário pelo trágico acontecimento, afirmação posteriormente aceita por Mariyinsky.

Na presente altura, envolver forças otanianas contra russas seria despropositado, haja vista os desabonadores desdobramentos, capazes de abarcar a utilização de armamentos atômicos. Na perspectiva da Casa Branca, o desgaste do Kremlin deve continuar, porém, a guerra não deve espraiar-se além dos atuais limites geográficos.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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