Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: o aprofundamento dos resultados negativos

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O mundo depois da guerra na Ucrânia. Por José Luís Fiori
Foto: Governo da Ucrânia/Divulgação

Desde o começo da invasão de Kiev por Moscou no final de fevereiro, os meios globais de comunicação significativos inclinam-se a favor do país agredido; como efeito, sobressai o destaque concedido ao presidente Volodymyr Zelensky como a representação da resistência da população local diante do poderio estrangeiro.

Malgrado o apoio constante ao redor do mundo, o conflito não cessa, porque, nesse caso, o governo de Vladimir Putin parece não importar-se com as críticas do arco norte-atlântico, mas sim com as internas, contidas no momento de diversas maneiras - https://www.npr.org/2022/04/07/1091478334/dmitry-muratov-attacked-in-russia.

Para fins de divulgação política do Kremlin, o acentuado nacionalismo russo suplantaria o recém-adotado cosmopolitismo ucraniano. A tradição de uma nação se oporia à ocasional modernidade da identidade de outra.

Destarte, seria a projeção do embate também na cultura: a interrupção do avanço eventual da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ou da União Europeia (UE) no leste do continente se somaria à necessidade da suspensão da influência de valores ocidentais, cuja abrangência, a depender da conveniência, poderia deslocar-se da desconfiança da sociedade democrática à desvalorização da do consumo.

Prolongada a confrontação até o inverno amero-europeu, a colaboração do Ocidente com a Ucrânia deverá desfrutar de menor base do eleitorado dos países em decorrência do impacto negativo na economia mundial como a inflação espraiada – nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha ou na Espanha, o índice anual aproxima-se de quase dois dígitos.

A cotação do petróleo foi bastante afetada. Segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), no alvorecer de fevereiro, a média havia se situado abaixo dos cem dólares; dias depois da deflagração da investida, aproximou-se de cento e quinze dólares; nos últimos dias, pouco menos de cento e dez dólares - https://www.opec.org/opec_web/en/data_graphs/40.htm

Outrossim, há o impacto no preço de grãos, ao ter em vista a posição de Kiev como um dos grandes produtores de sementes de girassol, de trigo e de maisena, por exemplo, e a dificuldade de exportá-los por causa do cerco de Moscou a portos da nação. Em função da estação atual, há uma queda temporária das cotações - https://www.fao.org/giews/food-prices/international-prices/detail/en/c/1599378/

As sanções euro-americanas não ocasionaram o seguimento cogitado – o recuo russo. O Kremlin resiste a elas, apesar dos abalos econômicos. Todavia, seu opositor sofre em escala bem superior, por ter o território devastado segundo a segundo com perda de milhares de vida e com expulsão de milhões de suas residências.

Com isso, a estrutura nacional levará anos e anos para ser recuperada, sujeito o ritmo de desenvolvimento também à futura boa vontade das grandes potências de investir e da própria Rússia de não incomodar-se com o incremento da atuação estrangeira lá – um dos motivos invocados para a presente guerra.

Por último, as consequências no setor climático são deletérias porque existirá recuo nas metas estabelecidas na Europa, ao valer-se a região, ainda que de modo provisório, do uso maior de carvão e petróleo, a fim de subordinar-se menos ao gás russo. Estuda-se na Alemanha o recurso até da energia nuclear.

Além do drama diário da população ucraniana na disputa, o Kremlin envolve de forma lenta o restante da Europa, embora com intensidade menor. Enquanto isso, a Casa Branca observa a distância o padecimento de seus países aliados.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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