Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia e a renúncia de Boris Johnson

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Foto: Boris Johnson. Créditos: Arno Mikkor (EU2017EE) / CommonsWikimedia

A contar do início do conflito bilateral no final de fevereiro, há um enlace anglo-americano direcionado a auxiliar a Ucrânia em função da ambição territorial da Rússia, a despeito da diferença em tese da configuração partidária entre os dois extremos do Atlântico Norte: presidente Joe Biden, democrata, e primeiro-ministro Boris Johnson, conservador.

Na quinta última (7), o dirigente britânico apresentou sua exoneração do cargo, após intensa pressão de diversos segmentos políticos – sua própria agremiação estava insatisfeita com sua continuidade à frente do posto. Com a saída, depois de três anos de titularidade, especula-se se seu sucessor terá a mesma disposição de apoiar o país agredido.

Johnson chegou a visitar a capital ucraniana duas vezes, ao diferenciar-se quanto ao engajamento do posicionamento do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, e do presidente Emmanuel Macron, da França.

Ao deslocar-se lá, o mandatário atraiu para si a simpatia de nações do leste da Europa outrora integrantes ou da União Soviética (URSS) ou da Rússia imperial. Contudo, a familiaridade entre Grã-Bretanha e Ucrânia decorre de anos antes, ou seja, a datar da conquista da Crimeia em 2014. Desde então, Londres, sob comando do Partido Conservador (PC), concede apoio incessante a Kiev.    

Uma consequência da dedicação maior na política externa do chefe de governo britânico foi o abrandamento de maneira momentânea das críticas voltadas a ele em decorrência do chamado Partygate, divertimentos ocorridos nas dependências da chancelaria durante o recente confinamento obrigatório da população por causa da pandemia do vírus corona – um dos eventos se relacionou com a celebração do próprio aniversário de Johnson.

Até agora, estima-se que a ajuda de Londres concedida a Kiev aproxime-se dos cinco bilhões de dólares; assim, o país situa-se abaixo apenas de Washington, haja vista a concessão de quase sete bilhões de dólares. O socorro divide-se basicamente em auxílio humanitário e armamentos.

Embora minoritária, há a visão de que o prolongamento do conflito poderia ampliar a tensão entre a Casa Branca e o Kremlin e, deste modo, transformar-se ele em uma disputa indireta entre as duas maiores potências nucleares do planeta.

Desta forma, proposta de trégua ou acordo, ainda que desfavorável no curto prazo à Ucrânia, deveria ser posta à mesa, a fim de que negociações impedissem o aprofundamento da guerra, de sorte que desdobramentos temerários no presente como expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ou possível enfraquecimento militar moscovita não acontecessem às custas de duradouro sofrimento do povo ucraniano.  

Como contraponto a isso, há a justificativa de que a continuidade, não a interrupção, da confrontação é necessária, ao se comparar a postura da Rússia contemporânea com a da Alemanha da época da II Guerra Mundial.

Destarte, o denodo de Johnson se equipararia ao de Winston Churchill, filiado na maior parte de sua vida à agremiação conservadora, ao passo que o de Biden com o de Franklin Roosevelt, outrossim democrata como ele.

Como publicidade interna, o cotejo funciona bem no arco anglo-americano; no russo, não, porque equiparar dois países europeus com regimes diferentes e com períodos distintos só irrita Vladimir Putin; ademais, reduziria a possibilidade de a diplomacia ser efetiva.  

O Kremlin não atua sem mais nem menos; a incorporação territorial da Ucrânia ou de pedaço dela deve ter sido concebida e planejada há tempos. Portanto, a perspectiva de derrota total de Moscou por Londres e Washington, embora justa, soa imperspicaz no momento, de modo que é hora de se propor um cessar-fogo realista, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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