Correio da Cidadania

Brasil: sem motivo de celebração do bicentenário

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Foto:  Arquivo Agência Brasília – Governo do Distrito Federal

Próxima de completar o bicentenário de independência formal, ao separar-se de Portugal, a população do Brasil tem no segundo semestre do ano ímpar oportunidade de reflexão em setembro, simbolizada no dia sete, e de ação em outubro, assinalada em dois tempos, no dois e no vinte e três, haja vista a ocorrência da eleição presidencial.

Em 1989, cem anos da República, o país teve a possibilidade de debater e de influenciar seu destino, ao ter, depois de quase três décadas sem realização do pleito maior, disputa acirrada para a presidência, momento em que houve duas dezenas de candidaturas com variados matizes: do recém-proposto neoliberalismo ao tradicional trabalhismo – dois dos concorrentes daquela fase continuam em atividade política.  

Em 2022, duzentos anos de soberania em tese, o Brasil tem a perspectiva de questionar a inoportuna situação atual e de direcionar a sociedade a rumo diferente, ou seja, mais solidário e esperançoso, ainda mais após a eclosão da pandemia do vírus corona no início de 2020, com efeitos negativos ampliados em solo nacional, em decorrência da postura inadequada do governo concernente à prevenção.

Em 1922, a capital era o Rio de Janeiro, local da exposição voltada para demonstrar ao mundo o status quo do país. Um morro seria até derrubado, o do Castelo, a fim de abrigar as edificações do evento singular.

Lembre-se de que o planeta mal havia acabado de sair de outra epidemia: a da chamada na época gripe espanhola, com milhões de vítimas. Além do mais, somavam-se a isso as mazelas sociais internas, muitas das quais presentes até hoje em dia em sociedade tão desigual, malgrado gestões federais oficialmente sociais-democratas e trabalhistas desde o período da redemocratização (1985).     

Pavilhões proporcionaram durante meses aos inúmeros frequentadores, com representantes estrangeiros inclusos, vislumbrar o desenvolvimento em setores como viação e agricultura, indústrias e administração.

 Em função da importância do acontecimento para o Brasil, houve a participação de países como Portugal, Estados Unidos (EUA), Grã-Bretanha (GB), Japão, França, Argentina e México, ainda que nem todos tenham conseguido concluir suas instalações no dia da abertura.

Permanece na antiga capital a lembrança de uma delas; a francesa, sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), inspirada no Petit Trianon de Versalhes.

A biblioteca do Museu Histórico Nacional (MHN) e o Museu da Imagem e do Som (MIS) também derivam de construções daquele período: a primeira do pavilhão das grandes indústrias, o maior da exposição, e a segunda do do Distrito Federal.

Hoje, nem o Rio de Janeiro, nem Brasília propiciarão ao povo, sobre o certo, ocorrência parecida – com dirigente filisteu no Palácio do Planalto, o país teria pouco a destacar de modo positivo perante o globo, ao levar-se em conta os desatinos da gestão, em especial na saúde pública. De toda forma, setembro de 1822 será a antessala da reflexão do Brasil de 2023.

 

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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