Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: postura das grandes potências

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O 9 de maio não corroborou ao planeta nenhuma das expectativas aventadas ultimamente: comemoração do êxito marcial da Rússia sobre a Ucrânia, necessário cessar-fogo ou declaração de guerra de Moscou a Kiev, visto que a atuação militar do Kremlin tem sido até o momento tratada por ele como se fosse operação especial – celebra-se a importante efeméride de duas maneiras: aos russos, dia da vitória, em função do sucesso dos soviéticos sobre os nazistas em 1945; a cidadãos dos vinte e sete países da União Europeia (UE), data do continente.

Com dois meses e meio de duração de confronto, as tropas de Moscou se deparam com dificuldades cotidianas contra seus oponentes, em decorrência do apoio cada vez maior dos norte-atlânticos (OTAN), seja pelo compartilhamento de dados reservados, seja pela ajuda financeira, seja, enfim, pelo fornecimento de equipamento bélico.

Outrossim, não se pode esquecer das medidas restritivas às finanças moscovitas. O resultado tem sido o encarecimento do acesso a fontes energéticas, como o petróleo, com alcance negativo imediato a boa parte do globo – no Brasil, o efeito disso se soma à incompetência do governo federal no manejo da economia.

O impacto das decisões dos países do arco atlântico de desestimular a Rússia a prosseguir com a confrontação pode ser insuficiente, porque ela poderá direcionar seu comércio de petróleo e de gás para mercados de porte como o da China e o da Índia, apesar de encarar dificuldades quanto à logística inicial para a alteração.

Com a perspectiva de o preço do barril situar-se acima dos cem dólares ao longo do corrente ano e talvez do próximo, Moscou teria condições para sustentar-se no curto prazo, malgrado as privações impostas a sua população.

Durante o período bipolar, a superpotência em peleja tinha a expectativa de que a outra poderia, se pudesse, providenciar auxílio ao seu contendor: a Guerra da Coreia e a do Afeganistão são dois exemplos. Nesta, a constante assistência, mesmo oficiosa, norte-americana à resistência afegã contribuiu para a derrocada da presença soviética lá depois de um decênio – quando da invasão às vésperas do Natal de 1979, Zbigniew Brzezinski, assessor da Casa Branca, afirmaria ao presidente Jimmy Carter ser o Vietnã do Kremlin!
Hoje, o apoio de grandes potências aos ucranianos conjuga corretos interesses humanitários, ao socorrer a sociedade agredida e desapercebida, e considerações geopolíticas, ao desgastar o governo assaltante.

Até o alvorecer do conflito em fevereiro, duas delas, Estados Unidos e França, tinham dirigentes desgastados com eleições regionais a vista – com a última nação, havia ainda o pleito presidencial em breve. Portanto, nenhum dos dois mandatários podia aparentar ao eleitorado desinteresse, hesitação ou fraqueza diante da ousadia da contraparte russa. Por isso, a contundência das palavras e a agilidade da movimentação, mesmo sem ser de modo direto contra a Rússia.

A preocupação concernente à desigual rivalidade Moscou-Kiev não preocupa um dos integrantes dos BRICS, o Brasil, o qual também terá disputa eleitoral em poucos meses, embora atento aos malefícios econômicos da guerra, não aos humanitários tanto interna como externamente.

 

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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