Estados Unidos e Brasil: sem mudanças com a reeleição de Barack Obama
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- Virgílio Arraes
- 27/02/2018
Costuma-se de maneira simplificada dividir o posicionamento dos dois principais partidos políticos norte-americanos do seguinte modo: os democratas seriam considerados progressistas ao passo que os republicanos, conservadores. Não seguiriam eles a composição europeia clássica, de matiz classista.
Os filiados ao GOP – Grand Old Party - seriam observados como mais nacionalistas, mesmo patriotas, porém liberais na economia enquanto os adeptos daquele, internacionalistas, contudo protecionistas.
Quanto ao posicionamento em política externa, os republicanos seriam tratados como belicosos em oposição aos democratas, pacifistas; enfim, falcões versus pombos na representação simbólica do país.
Naturalmente, há consideráveis nuanças entre as tradicionais agremiações, a depender do gabinete do presidente ou do período avaliado. No século 19, republicanos posicionaram-se a favor do fim da escravidão; no vinte, parcela dos democratas do sul opunha-se ao encerramento da segregação racial.
Com a extinção da Guerra Fria, apesar dos esforços dos meios de comunicação mais representativos de diferenciar bastante os dois partidos, não há distanciamento significativo entre eles, em especial no tocante à relação com os países latino-americanos.
O Brasil habituou-se a queixar não de menosprezo, mas de indiferença dos Estados Unidos em sua convivência bilateral. Ela ocorre porque Washington estima Brasília como parceiro confiável, ainda que haja reservas ou restrições sobre determinados tópicos. Nos últimos anos, pode citar-se a questão do programa nuclear do Irã, por exemplo.
No entanto, isso não desemboca em preocupação constante de monta como com Cuba ‘castrista’ ou de forma recente com Venezuela ‘chavista’, ou melhor, bolivariana. Estes dois países acostumaram-se a receber especial atenção dos formuladores e decisores estadunidenses, ao estimar seus dirigentes inflexíveis socialistas, não ocasionalmente nacionalistas.
Na eleição presidencial de 2012, os trabalhistas pátrios, se configurado o esquema usual de caracterização das duas legendas, teriam tido maior inclinação pelos democratas; portanto, o Planalto preferiria Barack Obama a Mitt Romney na Casa Branca, a despeito da aparente aversão deste ao protecionismo e também à intervenção governamental, mecanismo necessário para superar os efeitos adversos da crise econômica de 2008.
Na votação popular, o mandatário superou o adversário por quatro pontos, porém no colégio eleitoral a diferença seria bem mais expressiva: dos 538 votos dos delegados, os democratas obtiveram 332, ou seja, acima de 60%.
Entretanto, a vitória presidencial não asseguraria a maioria de sua agremiação na Câmara dos Deputados, embora no Senado conservassem a primazia – em renovação, estava um terço das cadeiras.
Conquanto improvável à primeira vista, o trabalhista Lula da Silva relacionou-se melhor com o republicano George Bush que sua sucessora, Dilma Rousseff, com o democrata Barack Obama. De toda forma, sua reeleição manteve o norte de Washington com Brasília: o do convívio amigável, malgrado a permanência da desconfiança por parte da militância de ambos.
Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.