Correio da Cidadania

Estados Unidos e Brasil: a Organização das Nações Unidas como projeção

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Setembro é o mês de princípio da assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Nos últimos anos, cabe ao Brasil a deferência do primeiro discurso, apesar do declínio gradativo do destaque a ele nos meios de comunicação.

É hora de divulgação natural do país e de oportunidade ao Itamarati de abrilhantar de maneira momentânea o dirigente pátrio perante o planeta através da alocução preparada para ele. A fala pode abarcar os feitos - ampliados ou até ilusórios - da presente gestão ou problemas – reais e urgentes - do mundo.  

Uma vez que o tradicional evento ocorre em Nova York, é também circunstância conveniente de o mandatário conversar com o presidente norte-americano lá ou em Washington, mesmo de modo superficial – ao cabo, apresenta-se o encontro eventual como sinal de prestígio internacional da administração do período.

Dado o grau de atração de autoridades por viagens oficiais aos Estados Unidos, em especial no tocante à sessão de abertura onusiana, outras reuniões entre governantes de diversas regiões, ainda que informais, podem ocorrer.

Em 2012, a presidente Dilma Rousseff valeu-se dessa rotina diplomática, porém sua ida não atrairia muita atenção como no ano anterior, ao ter se tornado a primeira mandatária a usufruir da palavra inicial no proscênio das Nações Unidas.  

Com a Casa Branca, o impacto de sua presença foi pequeno, dado que Barack Obama concentrava-se no seu processo de reeleição, a ser encerrado a poucas semanas daquela ocasião – 6 de novembro. Talvez por causa da prioridade do dirigente, ela havia recusado a avistar-se com ele em outubro.  

No discurso protocolar às delegações do organismo-mor do sistema internacional, a gestora trabalhista criticou de forma indireta a política externa dos democratas, ao analisar a situação conturbada da Síria - expressa em conflito civil até hoje em andamento - a dificuldade de viabilizar a autonomia da Palestina e a continuidade do boicote econômico a Cuba.

Outrossim, debruçar-se-ia de maneira negativa sobre a postura financeira norte-americana de ampliar a circulação do dólar, porque isso prejudicaria a competitividade mundial do Brasil – a indesejada valorização temporária do real.

Por derradeiro, a presidente expressaria a fixação do Planalto de obter assento permanente no Conselho de Segurança do organismo, a despeito de faltarem ao país condições mínimas para tornar-se efetivo ao lado dos cinco integrantes originais:

Economia desenvolvida, com bem estar espraiado na sociedade e com investimentos constantes em ciência e tecnologia; cultura bastante disseminada e por vezes admirada; e, claro, poderio bélico respeitável, com forças armadas bem estruturadas quanto à capacidade de operação exterior – mobilização de milhares de efetivos em pouco tempo.

Malgrado a carência dos atributos indispensáveis para lograr a modificação do número de representantes perpétuos, o Planalto insistiria em alterar a composição, mesmo sem mencionar de forma explícita sua vontade de participação.

A razão evocada era apropriada: o desrespeito à própria instituição mundial quando um país utilizasse a força para prevalecer sobre outro. Por isso, a alteração conciliar seria imperativa, a fim de reforçar a legitimidade multilateral, mais adequada à época da democracia global.

“O uso da força sem autorização do Conselho, uma clara ilegalidade, vem ganhando ares de opção aceitável. Mas (...) não é (...). O recurso fácil a esse tipo de ação é produto desse impasse que imobiliza o Conselho. Por isso, ele precisa urgentemente ser reformado” -  http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-na-abertura-da-67a-assembleia-geral-das-nacoes-unidas-nova-iorque-eua

A afirmação, embora louvável do ponto de vista oficial, não se conectava com a realidade do poder. Decorrida meia década, o assunto da modificação do Conselho de Segurança permanece em plano secundário, a despeito dos tópicos mencionados ou não, como Síria, Palestina e Cuba.

Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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