Correio da Cidadania

Inelegível, e agora?

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Por 5 votos a 2, TSE torna Bolsonaro inelegível por oito anos
Foi de grande simbolismo a inelegibilidade de Jair Bolsonaro por oito anos no dia em que Lula completou seis meses em seu terceiro mandato. Ainda resta no horizonte do ex-presidente a possibilidade de ser preso e de, caso deixe de ser um “cabo eleitoral de luxo”, como afirmou no dia em que se tornou inelegível, se torne um pária que será abandonado pelo presidente do seu partido atual, tendo que lidar com ações na justiça que afetem seus bons rendimentos. Enfim, Bolsonaro teve sua influência drasticamente reduzida. Que passe. Mas como fica o jogo político?

Existem, a meu ver, três linhas principais no terreno institucional, a saber: o lulismo, o bolsonarismo e a centro-direita liberal. Tentarei abordá-las rapidamente.

O bolsonarismo é a principal incógnita sem seu líder “por inteiro” no jogo. Desde que perdeu as eleições, Bolsonaro já vinha se distanciando de sua base fiel, radical, ao menos aparentemente. Com o fracasso da tentativa de golpe do 8 de janeiro, essa distância aumentou e hoje não se sabe como se comportarão seus seguidores, em especial os mais radicais.

Um sintoma mórbido pode ser o aumento da desagregação no tecido social e uma dificuldade de o jogo político institucional dos partidos absorver o que deve constituir algo que não chega a 15% do eleitorado, aqui falo dos radicais. É uma questão saber se Tarcísio, Zema ou mesmo Michelle Bolsonaro conseguem despontar como galvanizadores deste segmento radical e agregar, como Jair fez, grande parte dos liberais. É o que vejo no dia seguinte.

A centro-direita não apresenta uma liderança que se evidencie no cenário nacional neste momento e quem se identifica com essa alternativa acha que vai ser beneficiado pela inelegibilidade de Bolsonaro como se os votos dele fosse transferidos automaticamente para lugar nenhum definido. É isso o que os liberais têm construído depois do alinhamento ao golpe e ao governo Bolsonaro. A centro-direita, em especial os tucanos, foi defenestrada, encolhida tremendamente desde 2014, quando perdeu a última eleição presidencial para o PT na figura de Aécio Neves, hoje apagado. Não creio que em menos de quatro anos consiga se fazer competitiva.

Por fim, o lulismo parece ter a oportunidade de se fortalecer com a inelegibilidade. Não se trata de um desejo meu, mas de perceber que, no governo, com mais de três anos pela frente, se a economia não balançar, Lula tem tudo para fazer seu sucessor ou mesmo tentar a reeleição (sim, isso está no radar). E quando falo de lulismo, vejo que o PT ainda depende muito de seu grande líder, basta ver que algumas votações importantes para o governo no Congresso só emplacaram no prazo final graças a entrada de Lula em campo para compensar sua articulação política.

Os deslizes que aconteceram até aqui não comprometem a relativa estabilidade que vem se estabelecendo, mesmo com a ocorrência do 08 de janeiro (e isso não é pouca coisa). Entre os deslizes, falar que a democracia é relativa em cada lugar, não foi uma fala interessante, mas quem pode criticar com uma intenção de alavancagem política (me refiro aos liberais que têm sua materialização na mídia corporativa) não tem, ao menos hoje, uma figura para galvanizar.

Essa é uma leitura das correntes políticas que navegam na institucionalidade logo após a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Como é praxe nos tempos que correm, tudo pode mudar na passagem rápida do tempo.

Marcelo Castañeda é sociólogo.

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