Correio da Cidadania

Vitória de Netanyahu põe mais lenha na fogueira

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Trump vai continuar ao lado do premier, depois da ajuda inestimável que lhe deu nas eleições israelenses, ao reconhecer Jerusalém como capital de Israel e o Golã como território israelense.

Afinal, não foi pouca coisa, essas duas medidas mudaram posições dos EUA, mantidas por muitos anos, além de desafiarem recomendações do Conselho de Segurança da ONU, apoiadas por todas as nações civilizadas, a não ser a Guatemala, que não sabemos se é tão civilizada assim...

Apesar dos anteriores presidentes norte-americanos costumarem defender quase todas as ações de Israel, que violavam os direitos humanos e a lei internacional, nenhum outro foi tão longe quanto The Donald.

Ele começou a aprofundar esta posição quando, somando com Netanyahu, desafiou seus aliados, inclusive Alemanha, França e Reino Unido, ao se retirar do Acordo Nuclear com o Irã, que fora saudado por todos como uma garantia da paz, então ameaçada.

Fez mais: decretou o bloqueio econômico universal do governo de Teerã, ameaçando com sanções até países tradicionalmente amigos, que pretendiam negociar com os iranianos. Nem ligou para o fato de estar impedindo que eles ganhassem lucros nada desprezíveis que seus investimentos no país iriam gerar.

Destruir o regime do Irã, grande inimigo de Israel e desafiante da hegemonia estadunidense no Oriente Médio, é um alvo compartilhado pelos ultrarradicais de Bibi e seu amigo e protetor The Donald.

Tendo ao seu lado também a maioria do povo de Israel que o elegeu, sabendo muito bem o que ele pretende fazer na região, o premier está pronto para vibrar um golpe decisivo na fundação de um Estado palestino independente.

O que vem por aí

Apesar dos principais assentamentos se concentrarem em áreas que se estendem a partir da fronteira, há ainda muitos outros espalhados pelo resto da Palestina, ligados entre si por rodovias.

Com a anexação de todos eles, sobrariam apenas pequenos territórios, não contíguos entre si, tornando impossível a criação de um Estado palestino viável nesses verdadeiros bantustões.

Será o fim da solução dos dois Estados independentes, pregada pelos EUA desde os tempos do governo de Obama. Mike Pompeo, atual Secretário de Estado, falando no Senado lançou a última pá de cal sobre esta solução, até hoje aceita por toda a comunidade internacional, ao afirmar que caberia aos palestinos e israelenses decidirem sobre suas questões.

O senador democrata Chris Van Hollen comentou, corretamente, que, caso a anexação prometida por Netanyahu se consume, os palestinos jamais concordariam com qualquer acordo.

Pompeo aproveitou o embalo para anunciar aos senadores que breve Trump lançaria seu “acordo do século”, confeccionado a quatro mãos por ele e Netanyahu. Espera-se que haja algumas concessões aos palestinos, para criar um simulacro de justiça e satisfazer os escrúpulos de países europeus, ansiosos por evitar atritos com a mais poderosa nação do globo.

Provavelmente, não vai dar para agradar nem aos palestinos moderados, inclusive a Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, que deixou de ser conivente com as decisões norte-americanas, depois do escandaloso reconhecimento de Jerusalém indivisível como capital de Israel.

Pelo que já vazou do” acordo do século”, será algo como um verdadeiro tsunami, afundando as últimas esperanças palestinas.

O Fatah e outros grupos moderados subirão pelas paredes. Mas, o que lhes resta fazer? Até hoje seus líderes agiram através de denúncias e negociações visando conquistar a comunidade internacional para seus ideais. Por sinal, com resultados inexpressivos.

Depois da prometida anexação dos assentamentos ninguém pensa que os países civilizados, não alinhados com os EUA, ficarão encantados com o chamado “acordo do século”. Pelo contrário, vão elaborar vastos textos advertindo Israel com argumentos inteligentes e palavras soantes.
Mas, e daí?

Trump continuará vetando no Conselho de Segurança da ONU qualquer medida eventualmente proposta em favor da causa palestina. E Netanyahu não recuará um único centímetro.

Tendo optado por ações pacíficas como único meio de se conseguir o que é direito do seu povo, os principais movimentos palestinos não vão partir para as violências, que, aliás, já condenaram explicitamente.
Talvez continuem tentando resolver as coisas numa boa, embora sabendo que não adianta nada.

O entorno regional

Pode haver problemas por parte do rei da Arábia Saudita, estimado partner dos EUA, que afirmou várias vezes não aceitar um acordo prejudicial aos palestinos.

É verdade que o termo “prejudicial” comporta interpretações até opostas e não será impossível que o príncipe coroado Mohamed, bom amigo do presidente norte-americano, consiga convencer seu pai a não ser desmancha-prazeres.

Ele tem um bom argumento: não se deve irritar o presidente, pois dependem dele para vetar a retirada dos EUA da guerra do Iêmen, que o congresso recentemente votou. Caso The Donald se omita, adeus apoio norte-americano. E as forças sauditas ficariam em situação apertada.

Se, porém, o monarca do deserto ficar firme, todos os países árabes estigmatizarão o “acordo do século”. Como até agora eles vêm rejeitando as ações israelenses na Palestina sem efeito algum, não creio que Trump e Netanyahu percam o sono por causa das censuras dos governos destes povos.

Quem poderia mesmo causar problema seria o Hamas e os movimentos ultrarradicais, como a Jihad Islâmica.

Não será surpresa se eles baterem bumbo pela terceira Intifada. Se forem ouvidos, os israelenses sofrerão um bocado.

Intifada significa rebeldia geral do povo árabe, com conflitos armados, mísseis e bombas explodindo, medo generalizado, paralisações nos serviços públicos, negócios e atividades normais da população.

Não se deve esquecer que agora o Hamas possui lança mísseis de longo alcance, como aquele que recentemente atingiu um subúrbio de Telavive.

Se o movimento revolucionário repetir o feito, Netanyahu não vacilará em decretar nova guerra contra Gaza, possivelmente com os objetivos de ocupar a região e destruir o Hamas. A reação desse movimento tende a ser devastadora, com o lançamento de chuvas de mísseis contra as cidades de Israel.

Claro, as perdas de vidas palestinas serão maiores, a máquina de guerra israelense é implacável e muito superior à dos inimigos, a independência de Gaza poderá ir para o espaço.

Conforme o nível de danos causados pelos palestinos, não é inviável uma retaliação israelense total, reduzindo a região de Gaza a escombros e provocando uma imigração da maioria dos seus habitantes para regiões onde seja possível viver, ainda que em duras condições.

A possível escalada nos conflitos com o Hizbollah no Líbano e com o Irã deve ser adiada até Israel poder dar conta dos inimigos palestinos ou, na melhor das hipóteses, acontecer um cessar-fogo, aguardando a realização de improváveis negociações de paz. Abrir várias frentes de batalha ao mesmo empo não é uma estratégia recomendável.

Devemos esperar pelo desenrolar dos acontecimentos para escrever sobre o panorama sombrio que se visualiza no Oriente Médio.

Apesar das projeções, as coisas podem continuar como estão durante muito tempo ainda. O que não deixa de ser igualmente angustiante.

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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