Correio da Cidadania

A Bahia dos carlistas genéricos e lulistas transgênicos

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A campanha eleitoral de 2008 na Bahia está trazendo um verdadeiro show de coligações cruzadas, onde o único critério é o de supostamente somar votos, não importando programa político nem, muito menos, critérios ideológicos. Um exemplo disso será a eleição para prefeito da capital. O atual prefeito, João Henrique Carneiro, foi eleito em 2004 depois de 8 anos de mandato de Antonio Imbassahy, na época filiado ao PFL carlista. Montou uma imensa coligação, na qual estavam seu partido (na época o PDT), mais PSDB, PT, PCdoB, PSB, PMDB, PTB e muitos outros menores. O fracasso de sua administração, com a consequente queda na avaliação das pesquisas, e a derrota do carlismo nas eleições de 2006 seguida da morte do senador Antonio Carlos Magalhães em 2007, aprofundou a desagregação do carlismo e a confusão no que outrora foi conhecido como anti-carlismo no estado.

 

Neste quadro, o prefeito João Henrique (agora no PMDB) acabou de selar uma aliança eleitoral com Edvaldo Brito (PTB), em que este será o candidato a vice-prefeito da capital em sua chapa.

 

Mas quem botou o selo de ouro na aliança foi o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) quando, no ato de lançamento da chapa, numa declaração bombástica, acusou alguns adversários, como Antonio Imbassahy (ex- PFL e agora PSDB), de "carlistas genéricos", referindo-se aos ex-aliados do senador ACM. Já para o deputado federal ACM Neto (DEM), que também é candidato a prefeito, usou o adjetivo de "carlista verdadeiro".

 

Agora, sua coligação está com 8 partidos: PMDB-PTB-PP-PSC-PDT-PRTB-PSL-PHS.

 

Mas quem são os principais aliados de João Henrique e Geddel?

 

Edivaldo Brito foi prefeito biônico de Salvador, indicado pela ditadura, quando o seu partido era a Arena. Depois, foi para o PTB, partido que, na Bahia, renasceu em 1979 nas mãos do carlismo. Neste partido, foi candidato a prefeito (derrotado) de Salvador em 1985 coligado ao PDS, que era o herdeiro genético da Arena. Garantindo sua candidatura, estavam o então ministro das Comunicações do governo Sarney, ACM (PDS), e o então governador João Durval Carneiro (PDS). Como se vê, naquela época, eram todos "carlistas verdadeiros". Depois, Brito foi para São Paulo, sendo secretário da Justiça do prefeito Celso Pitta, um verdadeiro malufista, do PPB, a nova denominação do PDS e da Arena.

 

O outro partido importante da coligação em Salvador é o PP, ou seja, justamente o novíssimo herdeiro genético da Arena, do PDS e do PPB. Em São Paulo, até hoje malufista. Na Bahia, historicamente "verdadeiro carlista".

 

Finalmente, o próprio PMDB, antigamente anti-carlista. Atualmente, abrigo de ex-apoiadores (sinceros e leais ou não) de ACM. Entre eles, o próprio ministro Geddel Vieira Lima (ex-carlista e atual lulista) e o prefeito João Henrique Carneiro (hoje no PMDB). João Henrique é filho do senador João Durval Carneiro (hoje no PDT), irmão do deputado federal Sérgio Carneiro (hoje no PT), cunhado do também deputado federal Sérgio Brito (PDT) e marido da deputada estadual Maria Luíza (PMDB). Como se vê, uma família supra-partidária e, assim como Geddel, todos, na própria linguagem geddeliana, "carlistas genéricos", ou seja, ex "carlistas verdadeiros".

 

Ocorre que, no momento, todos estes "carlistas genéricos" são também "lulistas transgênicos", pois, como diz o ditado, a carne é fraca e a genética também. Todos são políticos e partidos da base dos governos de Jaques Wagner e Lula da Silva, ambos do PT. E, na Bahia, estão na base até os genéricos tucanos do PSDB – e sem nenhuma reclamação da Executiva Nacional do PT, nem de qualquer de suas tendências internas.

 

O presidente Lula da Silva já disse que prefere apoiar João Henrique, que está chefiado pelo trator da Transposição do São Francisco, Geddel Vieira Lima. Jaques Wagner, também disse que preferia João Henrique (PMDB) ou mesmo Antonio Imbassahy (PSDB).

 

Mas, depois de muita indecisão e de ter ficado três anos e quatro meses participando do governo João Henrique, o PT resolveu entregar suas quatro secretarias na prefeitura (inclusive a Secretaria de Governo e a de Saúde) e sair atirando. Atirando no prefeito e caçando aliados onde puder, inclusive no PTB, PP e PR.

 

Por isso, parece que todas as correntes petistas ficaram sentidas por perder o apoio do genérico Edvaldo Brito, do seu PTB e do PP. Mas eles ainda têm esperanças em se aliançar com o senador César Borges (hoje no PR, depois de ter passado pela Arena, PDS, PFL e DEM). Este, que agora apóia Jacques Wagner, também é carlista. Há dúvidas se "verdadeiro" ou "genérico". Mas isto não é mais problema. Por um lado, porque ele já foi devidamente transmutado em lulista transgênico. Por outro, depois da mutação do próprio PT, não existem mais barreiras deste tipo.

 

Talvez Borges acabe apoiando o jovem ACM (DEM, filho do PFL, neto do PDS e bisneto da Arena), "carlista verdadeiro", mas não se sabe até quando. Afinal, até o velho senador teve seu momento de transgenia lulista.

 

Jorge Almeida é professor de Ciência Política da UFBA e doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Autor de Como vota o brasileiro e de Marketing político, hegemonia e contra-hegemonia. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

+2 #4 DNA carlistaAlexandre Figueiredo 28-09-2008 10:56
O DNA carlista não consegue ser dissimulado pelos "lulistas trangênicos". Sabemos que a dita "oposição baiana" é composta por antigos carlistas, que, pior do que os próprios carlistas, prejudicam a esquerda baiana que, ingênua e "pragmática", trai seu próprio histórico em defesa da ética.

João Henrique é filho de João Durval, criado no carlismo. Antônio Imbassahy também foi historicamente ligado ao carlismo. Pedro Irujo, que ainda fala mal o português, também foi carlista com gosto. Marcos Medrado, símbolo da direita populista baiana, mal consegue disfarçar o contragosto de fazer parte do PDT. Ariane Carla e Alfredo Mangueira também foram carlistas até os neurônios, mas hoje fogem da sigla ACM como o diabo foge da cruz. E até o "ex-político" Mário Kertèsz - mais político do que nunca, através do rádio - , filhote político de ACM desde os tempos da ARENA, reassumiu com entusiasmo o DNA carlista, embora, "oficialmente", ainda esteja entre os "opositores" do falecido senador. Enfim, ACM pode dormir tranqüilo, porque seus filhotes podem ladrar muito, mas seguem direitinho as lições do painho.
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+2 #3 RE: A Bahia dos carlistas genéricos e lulistas transgênicosselma moura 16-09-2008 21:29
o retrato do povo brasileiro.sem cultura sem informaçao, sem escolaridade, sem auto estima, sem respeitos sem...sem...e´muito triste.
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+2 #2 balaio de gato politica também Itaitubajosé nazareno dos santos ferre 13-07-2008 07:39
gostei do seu artigo,porque da realidade dai,pra nós aqui no oeste do Pará,só há uma diferença geográfica.Aqui também esse ano,as alianças políticas viraram um verdadeiro balaio de gato onde quem foi adversário ontem troca juras de amor hoje na maior espontaneidade.Ou seja os programas, as ideologias ou qualquer outra denominação que se defina,são escorraçadas em nome dos fisiologismose interesses pessoais,em detrimento ao coletivo que nos discursos eles costumam chamar de povo..Muito bem elaborado o artigo,parabens.
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+2 #1 RE: A Bahia dos carlistas genéricos e lulistas transgênicosPaulo Cesar S. de Jesus 23-05-2008 07:51
Gostei.
Bem escrito, boa memória avaliando um pouco o histórico da política bahiana.

Esta matéria deveria (com alguns complementos) está em um jornal de veículação de massa, tipo impresso, em dias de maiores tiragens ou o Sr. Jorge Almeida ser entrevistado em um programa de TV, nesses jornais nacionais de grande audiência antes da eleição.

Parabéns.
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