Correio da Cidadania

Se não houver reação, custos da crise recairão nas costas dos trabalhadores

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Uma nova conjuntura começa a se desenhar no Brasil com a chegada, de malas e bagagens, da crise econômico-financeira global. Estamos diante de uma crise sistêmica, que abala os mecanismos fundamentais de funcionamento do capitalismo imperialista, depois de mais de 30 anos de vigência de desregulamentações, privatizações e flexibilizações generalizadas. É a crise da "era da desregulamentação".

 

Toda crise financeira é expressão de uma crise econômica, estrutural, da produção (em geral de superprodução). Esta crise, em particular, dadas as características assumidas pelo sistema capitalista nos últimos 30 anos, torna ainda mais inviável dissociar o terremoto financeiro do terreno da produção de onde se originou, fazendo inevitáveis: forte retração no comércio mundial, no consumo e, de volta à origem, na produção mundial.

 

O desembarque da crise nos chamados "países emergentes", como o Brasil, derruba de uma vez por todas a tese do "descolamento". O tipo de inserção - o "modelo" de economia produtora de commodities e agro-exportadora, sob hegemonia do capital financeiro - do Brasil na chamada globalização torna o país tremendamente vulnerável ao desastre no centro do sistema. O Brasil depende mais do que nunca do comércio mundial, das oscilações dos preços das commodities, do crédito internacional e também do bom funcionamento do mercado financeiro, ao qual o governo Lula aceitou subordinar-se em regra.

 

Basta observar que dois terços das linhas de exportação do Brasil dependem de crédito externo. Os bancos brasileiros dependem de crédito do sistema financeiro internacional para garantir suas operações diárias. As conseqüências para 2009 devem se fazer sentir em termos do emprego, salários, consumo e cortes nos gastos públicos e sociais.

 

Por isso, reveste-se de enorme importância preparar condições para que haja uma resposta da classe trabalhadora no terreno das mobilizações de resistência e no sentido de se apresentar uma plataforma de um ponto de vista socialista. Porque sabemos perfeitamente que, se depender do capital, os custos de uma crise dessa magnitude vão recair impiedosamente sobre as costas dos trabalhadores e dos povos do mundo.

 

E no cenário brasileiro são visíveis dois impasses: a ausência de uma frente única de massas alternativa ao que se tornou o lulismo (com seu enorme poder de cooptação sobre os movimentos sociais) e a urgência de se construir uma plataforma ou programa de emergência capaz de mostrar que há uma saída alternativa anti-sistêmica, ainda que emergencial, para a crise e a catástrofe.

 

A primeira questão é buscar a clareza para rechaçar o conto do vigário que são as medidas sugeridas pelo governo Lula, pois visam somente preservar o sistema financeiro e o agronegócio. E tampouco se deve confundir ajuda aos banqueiros com estatização, pois nem de longe as medidas tomadas até aqui passam perto de termos um Estado que controle o sistema financeiro, a remessa de capitais e lucros ou que pense seriamente em tocar na propriedade do grande capital bancário-financeiro.

 

Estamos caminhando para uma situação emergencial que exige medidas emergenciais, mas de um ponto de vista da classe trabalhadora e dos seus interesses, não da preservação do sistema e do atual modelo.

 

Por isso, algumas medidas de uma agenda de debates, com o objetivo de se construir uma plataforma unitária dos partidos e de todos os setores dos movimentos sociais e populares combativos, poderiam incluir pontos como:

 

a) Estatização dos bancos. O sistema financeiro deve ficar sob propriedade do Estado para garantir crédito à sociedade e deixar de especular com juros e operações financeiras derivativas, como continuam fazendo os bancos agora com o dinheiro que recebem do governo;

 

b) Controle de capitais e da remessa de lucros para fora do país;

 

c) Suspensão do pagamento da dívida pública e auditoria cidadã dessa dívida;

 

d) Controle pelo Estado de empresas que quebrarem ou anunciarem demissões em massa;

 

e) Congelamento das taxas de juros dos cartões de crédito e de cheque especial. Moratória das dívidas dos trabalhadores com bancos, financeiras e lojas;

 

f) Nenhum corte nos gastos públicos de 2009. Por um intenso programa estatal de investimentos sociais — em saúde, educação, moradia, reforma agrária — e de infra-estrutura — saneamento básico, produção de energia.

 

Fernando Silva, jornalista, é membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.

 

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Comentários   

0 #1 A soluçãoFlâmeres França 12-11-2008 16:05
Pode parecer utópico, mas essas seis medidas, se implementadas, poderiam além de evitar novas consequências das ações irresponsáveis e gananciosas dos donos do capital, também melhorariam a distribuição da renda nacional proprcionando condições dignas ao nosso povo tão sofrido e enganado.
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