Correio da Cidadania

Percepção da corrupção e realidade do mensalão

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Apesar de não ter ocorrido ainda nenhuma condenação, o julgamento da admissibilidade das denúncias contra os 40 acusados de envolvimento no escândalo do Mensalão foi a primeira grande derrota governista do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os aliados do presidente não esperavam que todos os acusados passassem à condição de réus e nem imaginavam que os ministros do Supremo Tribunal Federal fossem tão severos em seus pronunciamentos durante o julgamento.


O chamado mensalão não é o primeiro nem será o último esquema de corrupção descoberto no país. A novidade do caso é que as instituições estão funcionando e a tolerância com a corrupção está cada vez menor. A atuação livre e corajosa de Antonio Fernandes de Souza, o Procurador Geral da República, seria simplesmente impensável durante o governo Fernando Henrique Cardoso: naquele tempo não havia propriamente um procurador, mas um “engavetador-geral da República”, uma vez que processo algum ia adiante após passar pelas mãos do titular do cargo.


A oposição adora dizer que o governo Lula é “o mais corrupto da história”. Cascata, até porque, em valores desviados, não dá nem para comparar a roubalheira havida agora com a dos anos da coalizão tucano-pefelista. O que de fato acontece agora é que a percepção dos casos de corrupção aumentou por dois motivos distintos e complementares: por um lado, é o resultado de um processo lento e cumulativo em que instituições como o Ministério Público Federal, os MPs estaduais, a Polícia Federal, entre outras, vêm ganhando poder e autonomia e são cada vez mais independentes do governo de plantão. Por outro lado, é preciso reconhecer que cada episódio de corrupção envolvendo petistas acaba sendo divulgado com muito mais alarde do que se tivesse ocorrido com gente de outros partidos. Só para se ter uma idéia, ainda há pouco o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, teve seu mandato cassado e nenhum jornal publicou o fato com o título “Governador tucano é cassado”, como certamente fariam se o episódio tivesse ocorrido com petistas.


Tudo somado, a lição que fica para os políticos é de que está em curso um certo endurecimento na fiscalização de práticas ilegais e irregulares, e que o diga Renan Calheiros, o ainda presidente do Senado Federal. Não quer dizer que ainda não se assem pizzas e as sirvam a torto e a direito, mas indica uma mudança, ainda que tímida, no modo de o país lidar com a corrupção. Não é nenhuma "operação mãos-limpas" à brasileira, mas há um certo recado no ar de que exageros não serão mais tolerados. O futuro vai dizer quem aprendeu melhor a lição.

 

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).

 

Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com

 

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