Correio da Cidadania

Só agravamento da crise pode evitar o 3° mandato de Lula

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A pesquisa CNT/Sensus divulgada nesta semana trouxe números bastante positivos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo federal é aprovado por 68% dos entrevistados. A avaliação pessoal de Lula só não bateu recorde porque no levantamento feito um mês após a primeira posse, em 2003, a aprovação era de 83%, algo natural para um presidente recém-eleito que significava a esperança do povo para superar um momento especialmente difícil na vida brasileira. Hoje, segundo a pesquisa, Lula tem a confiança de 77,7% dos brasileiros. É muito, para qualquer tipo de comparação que se possa fazer. Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, no auge do Plano Real tinha 47% de aprovação popular.

 

A pesquisa CNT/Sensus também levantou o cenário pré-eleitoral com vistas à disputa de 2010, de duas diferentes maneiras. Na pesquisa espontânea, em que o entrevistador pergunta apenas "em quem o senhor(a) pretende votar em 2010", Lula teve 23% da preferência contra 6% do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que ficou em segundo lugar. A suposta candidata de Lula, ministra Dilma Rousseff, apareceu com apenas 1,9% do total.

 

Na pesquisa estimulada, em que o entrevistador apresenta uma cartela com os nomes dos pré-candidatos, Serra aparece com 38% das intenções de voto, seguido por Ciro Gomes (PSB), com 17%, e Heloísa Helena (PSOL), com 9,9%. Dilma fica em quarto lugar, com 8,4%. O instituto Sensus realizou também simulações com Marta Suplicy e Patrus Ananias no lugar de Dilma. Serra aparece com 38,5% contra Patrus, que obtém apenas 2,7%, e teria 37,9% contra Marta, que ficaria com 5,9%. Nas medições para o segundo turno, Serra venceria Dilma Rousseff por 51,4% a 15,7%; Patrus Ananias por 55,1% a 7,7%; e Ciro Gomes por 47,1% a 22,5%.

 

Todos esses dados devem ser vistos com cautela, pois ainda falta muito tempo para a eleição e os entrevistados não sabem, nas listas estimuladas, quem afinal é o candidato de Lula. Como Serra é o mais conhecido, deve ter gente dizendo que vai votar nele achando que é apoiado pelo atual presidente. É evidente que tal como ocorreu com Maurício Lacerda em Belo Horizonte, quando a campanha começa e o povão toma conhecimento das opções, a tendência seria Dilma, Patrus ou Marta subirem com o apoio de Lula. Serra, porém, parte de uma base muito confortável de apoio popular, seja ele "recall" ou não – é quase o dobro de Ciro e o triplo de Heloísa, que também contam com o efeito da lembrança de já terem concorrido à presidência. Portanto, mesmo com apoio de Lula, qualquer das opções que a pesquisa analisou teria dificuldades para bater Serra nas urnas em 2010. Poderia vencer, claro, até porque os problemas no PSDB estão se avolumando com a cisão do partido em São Paulo, de difícil recomposição, a depender do resultado das eleições municipais, especialmente se Geraldo Alckmin passar para o segundo turno.

 

Tudo somado, resta claro que o melhor candidato do governo para 2010 tem nome e sobrenome: Luiz Inácio Lula da Silva. Com 4 vezes mais intenção de votos do que José Serra, é possível dizer, sem medo de errar, que hoje não existe no Brasil ninguém com capacidade para enfrentar Lula nas urnas.

 

Neste cenário, Serra provavelmente nem sairia candidato e trataria de tentar manter em mãos tucanas o Palácio dos Bandeirantes. O DEM talvez lançasse alguém para marcar posição, já que a parceria com os tucanos está cada vez mais fragilizada, a julgar pelo que ocorre em São Paulo e Salvador, onde na eleição municipal deste ano o PSDB bate de frente com candidatos "naturais" dos democratas - Gilberto Kassab e ACM Neto. No outro campo, Heloísa Helena pontificaria com seu discurso udenista de ultra-esquerda, atacando os corruptos de todos os matizes. Ou seja, seria um baile para Lula.

 

Como a eleição não é hoje, existe uma variável importante e que terá de ser acompanhada a partir do ano que vem: a crise financeira mundial. Ainda não se sabe quais vão ser as conseqüências das turbulências em curso no Brasil, mas já é certo que alguma coisa vai acontecer. Há duas hipóteses para o que vem por aí: na primeira, os EUA conseguem estancar a sangria rapidamente, ainda neste ano, e a crise se espalha mundo afora de maneira, digamos assim, menos letal; na segunda hipótese, a crise se agrava a partir dos EUA e se torna planetária, com recessão na maioria dos países.

 

No primeiro caso, o Brasil teria uma pequena desaceleração econômica em 2009, possivelmente já com alguma recuperação em 2010. De qualquer maneira, o país não pararia de crescer no próximo biênio. No segundo caso, não há como fazer previsões. Se a crise se agravar nos EUA, até uma recessão no Brasil seria cenário factível.

 

Não é preciso ser nenhum gênio ou analista de grande visão para imaginar as conseqüências desses dois cenários. No primeiro caso, o presidente Lula vai aparecer na fita como o homem que resistiu às turbulências e que, na pior crise do capitalismo, manteve o Brasil no rumo, com a economia crescendo. Ainda que a desaceleração cause algum dano à sua popularidade, é lícito supor que Lula manteria a base de votos que tem hoje e seria reeleito com muita facilidade. No segundo caso, é óbvio que o presidente não teria razão alguma para disputar a eleição, ainda que sua popularidade se mantivesse em alta. A conta da crise, em um cenário de agravamento dos problemas, seria paga a partir de 2010 e provavelmente até 2012, 13 ou até além disto. Nada melhor para Lula do que estar longe do Planalto nesta época e retornar como salvador da pátria em 2015. Pode parecer futurologia, mas é apenas análise de hipóteses absolutamente possíveis de se tornarem realidade.

 

Até meados de 2009 será possível perceber melhor o alcance da crise financeira. Será o momento em que Lula terá de decidir o que fazer da vida. O terceiro mandato não é permitido hoje, mas seria facilmente aprovado se um presidente com 80% de popularidade quiser - com muito menos apoio o tucano Fernando Henrique Cardoso mudou as regras do jogo para obter o segundo mandato. Não há como o presidente Lula "não querer", se o cenário for favorável. A pressão popular e do PT será imensa. Ademais, os articuladores do terceiro mandato terão a seu favor o argumento de que o ultra-conservador presidente colombiano Álvaro Uribe também mudou as regras para disputar o terceiro mandato, o que já é dado por certo pela oposição daquele país.

 

Assim, José Serra e a oposição de direita só têm uma coisa a fazer: rezar, e muito, para que a crise norte-americana se agrave e contamine o mundo inteiro, gerando problemas especialmente no Brasil. É o que sobrou para tucanos e democratas: torcer pelo velho e surrado "quanto pior, melhor".

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa.

Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com/

 

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Comentários   

0 #9 Desfazendo o equívocoRaymundo Araujo Filho 08-10-2008 14:41
Hélio

Em momento algum referi-me a qualquer um dos que comantaram aqui no Coreio...Longe de mim ter pensado nisso. Se deu a impressão foi sem a intenção.

Citei um inocente ditado-alegória Budista, referindo-me àqueles que de posse de algum Poder, seja ele qualfor, o usam para segregar os que lhes são diferente.

E, os adjetivos utilizados, obviamente, que são para uso de cada um. Tem gente que acha o Delfim Neto o máximno. Eu o acho um idiota, e por aí vai.

Não gostaria que ficasse algum mal entendido. E quanto a (falta) de estilo de meus escritos, bem, não se pode ter tudo....
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0 #8 Lula - Reeleição.Hélio 06-10-2008 14:59
Muito infeliz o comentário, Professor Raimundo em que diz: Ser elogiado por canalhas é a maior desgraça. Ser criticado por idiotas é a Glória.Essa é uma visão nitidamente direitista: separar os BONS dos RUINS. Que pena, estava indo tão bem,.... Não compreendeu que as divergências eram de opiniões, eram doutrinárias. Merce ficar sem emprego.
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0 #7 Eleição Presidencial 2010Magno Oliveira 06-10-2008 14:58
O articulista e os ilustres colegas comentaristas foram muito felizes em suas avaliações. Saudável a troca de idéias, mesmo quando há desarcordo com algumas. Importante é perceber e processar a lógica do outro. Nesse sentido, considero um equívoco adjetivar o discurso da Heloísa Helena como udenista de ultra-esquerda, creio que precisamos muito de uma ultra-radical-esquerda em nosso país, pois no momento não há correlação de forças, há a nefasta hegemonia da ultra-radical-direita, cujo principal instrumento de controle sobre os nossos irmãos é o conjunto dos meios de comunicação abertos, como a TV aberta, por exemplo. O discurso ultra-radical de direita mais sofisticado fica a cargo das revistas, pois estas alcançam as pessoas com maior nível de escolaridade. O discurso da Heloísa Helena nem mesmo chega perto do que se chama de ultra-esquerda, talvez por isso eu a considere uma das pessoas mais lúcidas no cenário político-partidário brasileiro. A questão é que em 2010, com eventual reeleição do Lula ou não continuaremos lascados, pois o Brasil será o último país da América Latina a ingressar em um processo de mudança da estrutura social e econômica. Se a meia lua da Bolívia está reagindo da maneira que reagiu, imaginem a reação da oligarquia brasileira (a mais cruel e perversa da América Latina) em um eventual processo de mudança. Só nos resta continuar lutando com os cacos que temos.
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0 #6 Aluno, não professorRaymundo Araujo Filho 29-09-2008 18:31
Odécio

Obrigado pelo superlativo elogio. Mas sou professor só de agricultores, hoje impedido e indexado de trabalhar na Agricultura Familiar por me atrever a criticar o Lula desde o segundo semstre de 2003. A pelegada não atura.

Na política, como ando sem trabalho, tenho tido tempo de ler e pensar. E isso basta para as óbvias conclusões que tiro.

Auxiliados por vários (e poucos) professores que ainda resistem sem esmorecer.

Mais uma vez obrigado pelos elogiso, tão raros, pois meu nome em certas praças está mais sujo do que pau de galinheiro.

Mas, como dizia o mestre Budista Daishonim: Ser elogiado por canalhas é a maior desgraça. Ser criticado por idiotas é a Glótia!

Mas nada é mais confortante do que elogios de gente certa.

Continuo com minha projeção. Lula se lixa para quem vem em 2010. De preferncia sem reeleição. Aí ele volta, como o Sassá Mutema, o salvador da Pátria!

Tamos é fritos!
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0 #5 Prezado RaymundoOdécio 29-09-2008 03:22
Acho posível presumir que tal lucidez na crítica advenha de seus relacionamentos profissionais,Professor.O relacionamento entre os homens hoje está tão difícil! Digo Professor pois há pessoas que merecem de fato o título--- é o seu caso.E o seu artigo é realmente diferenciado, longe das mesmices ufanistas que se nota por ai. Parabéns, mesmo!
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0 #4 Ninguém é eterno!Luiz Paulo Santana 27-09-2008 20:58
Melhor que se faça a sucessão sem Lula, ou melhor, com a indicação do seu candidato ao pleito de 2010. O Presidente estará cansado, cumpriu o seu papel, sobretudo de levantar a auto-estima do povão, tocou o governo de olho nos pobres e menos favorecidos que conhece bem, é um homem de sorte pois pegou uma maré de conjuntura favorável e não decepcionou.
Nada é eterno, ninguém é eterno. Que se proceda nos termos da constituição, até para evitar-se frustrações futuras, pois o capitalismo é instável e a tempestade se avizinha.
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0 #3 No reino da fantasiaalvaro marins 27-09-2008 20:35
Seu artigo consegue ser interessante até chegar na \"viagem\" de que existe a possibilidade de Lula se dispor a disputar um terceiro mandato. Essa possibilidade é tão remota quanto o mundo acabar em 2020. Ou seja, 0,00000001% de possibilidade. Por quê? O Lula não deseja isso, isso não seria bom para o país e muito menos para o PT. É claro que algumas pessoas gostariam disso, até mesmo dentro do PT. Mas não passa de desejo. O presidente Lula teria que ser muito burro politicamente para embarcar numa canoa furada deste tipo. E mesmo seus mais ferrenhos adversários sabem que o Lula é tudo, menos burro politicamente. E o PT não bancaria isso. Portanto, essa possibilidade está fora da realidade.
Sugiro que a argúcia do analista se volte para fatos mais concretos que realmente são importantes para o jogo da sucessão em 2010.
1. A Marta pode ganhar a prefeitura em São Paulo.
2. O PT sairá mais fortalecido dessas eleições municipais, vencendo ou não em São Paulo. Se a Marta vencer, o PT sai muito fortalecido; se ela não vencer, ainda assim sai bastante fortalecido em todo o país.
3. O PSDB sai enfraquecido destas eleições qualquer que seja o resultado em São Paulo, mesmo que o Alkimim ganhe. Se a Marta ganhar, sai muito enfraquecido.
4. DEM (na realidade, o PFL) continuará diminuindo e sai muito enfraquecido destas eleições, mesmo que o Kassab vença em São Paulo.
5. O PSB, de Ciro Gomes, se não aumentar sua força nestas eleições, pelo menos se manterá estável. Se Ciro mantiver sua candidatura, provavelmente terá o apoio do PCdoB, que será um dos partidos que também sairá fortalecido desta eleição.
6. A Dilma Roussef, há um ano, tinha cerca de um terço das intenções de voto que as pesquisas lhe atribuem hoje. Isto não é pouco significativo. Nos próximos dois anos muitas obras do PAC (ele é uma das realidades mais concretas da política brasileira hoje, ainda que muitos recusem-se a admitir isso) estarão sendo concluídas ou em estágio avançado. O impacto eleitoral do PAC já será sentido nas eleições municipais e será um dos motivos do fortalecimento do PT.
7. Existem outros postulantes ao cargo de presidente da república no PT: Patrus Ananias, Marta Suplicy e Jaques Wagner. As eleições de 2010 ainda estão longe. Os movimentos internos no PT ainda estão longe de uma estabilização, o que só ocorrerá próximo ao pleito de 2010.
8. O presidente Lula é o maior cabo eleitoral do país, mas principalmente no PT e entre os partidos da base aliada. Não há como se esquecer de que em 2010 estarão em disputa vários cargos importantes: governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Porém, será muito mais fácil acomodar interesses na base aliada do que na oposição. Isto é, as dificuldades de composição entre o PSDB e o DEM serão muito maiores, com conseqüências eleitorais evidentes.
9. Devido à satisfação da maioria da população com o governo Lula, o discurso udenista de ultra-esquerda da Heloisa Helena encontrará menos ouvidos disponíveis do que em 2006. A tendência é de que a sua votação seja menor, e a bancada do PSOL na Câmara diminua mais uma vez, como já aconteceu em 2006 (tinha 10 deputados, agora tem 7). Portanto, a sua influência no processo será nula, como de resto tem sido até hoje.
10. Em vista do exposto acima, acho mais prudente afirmar que é muito difícil saber quem será o próximo presidente da república em 2010. É mais fácil, contudo, arriscar quem não o será. E nesse caso incluo dois nomes: Lula e Serra. Esses não serão mesmo.
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0 #2 reeleição de LulaHélio 27-09-2008 10:10
A análise de Raymundo Araújo é pertinente. Impertinente é especular sobre um terceiro mandato prá Lula. O momento não é oportuno, Lula disse diversas vezes que não quer e a Constituição não permite. Esse tipo de especulação só alimenta e dá razão à mídia golpista que semana sim, semana não, fala da reeleição de Lula. Temos outros nomes no Brasil. Precisamos achar alguém mais nacionalista, -no bom sentido- e preocupado com nossas riquezas naturais e, resolver a nossa enorme dívida que come quase 1/3 do orçamento anual. Uma vergonha que Lula não resolveu e não vai resolver.
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0 #1 De Caniço e Samburá!Raymundo Araujo Filhor 26-09-2008 11:37
O título deste artigo é uma alusão e homenagem a uma das mais engraçadas comédias, protagonizada pelo estadunidense muito reacionário, mas excelente comediante Jerry Lewis, e se refere à posição final de Lula, ante ao PT, na questão sucessória.

Obviamente, este artigo não pretende ser oracular, nem tampouco puro achismo. Reveste-se tão apenas de, a partir da análise da realidade, formularmos uma tentativa de antecipar condutas prováveis destes que protagonizam, certamente, um vexame político e falta de projetos e ideologia, inadmissíveis para quem diz governar para o Povo e contra as elites, como fazem o presidente Lula e o PT. Senão uma declarada traição às classes populares.

Assim, entre Lula e parcela do PT persiste uma divergência profunda quanto aos passo sucessório, a nível federal vindouro em 2010.

Ao meu ver, Lula é movido por uma visão mais atemporal, centrada em sua pessoa, como condutor e beneficiário de um processo político que segundo acredita ficará para a história, como um ícone do exercício do Poder máximo no Brasil, por um egresso das classes pobres e tendo construído sua eleição a partir de um discurso anti elite e pró trabalhadores e excluídos. Quanto a esta visão sobre um julgamento da história sobre este evento no Brasil, não divergimos. Apenas quanto ao veredicto da história é que temos expectativas diferentes...

Penso que sua lógica refere-se exclusivamente à manutenção de seu protagonismo pessoal, frente a condução do processo político brasileiro, e por mais tempo possível. Parte do confortável patamar de aceitação popular que desfruta, de uma certa capacidade de fazer aderir ao seu projeto setores de esquerda e também conservadores, todos dominados pelos ditames da política institucional, com seus mecanismos de afirmação de Sesmarias Políticas e Partidárias, através do seqüestro de Estado e dos bens da União, para fins paroquiais ou de jogadas internacionais de peso.

Assim, Lula percebe que suas possibilidades temporais no Poder, transcendem o calendário político linear. E, por dois motivos, que me parecem óbvios.

Em primeiro lugar, porque não tem exatamente mais aquele compromisso quase que de exclusividade com o PT, enquanto Partido. Lula, agora mais ainda, transcende o Partido que hoje, ao meu ver, vive a reboque do presidente e, por isso mesmo, domesticado a ele (a despeito de alguns estrilos aqui e ali, afinal inaudíveis e logo anulados).

Em segundo porque desconfio que Lula tem assessores que não devem estar deixando de lhe alertar que logo se farão sentir, mais agudamente do que agora, os efeitos negativos e perversos (para os pobres) deste suicídio que é a política econômica que promove, com a falta de controle absoluto sobre nossas riquezas naturais, e a sua submissão inconseqüente a interesses corporativos internacionais, além da promoção de consumo através da agiotagem internacional e total acoplamento de nossas exportações ao Sistema de Mercados Mundiais, altamente especulativos e restritivos para desenvolvimentos autóctones.

Continuamos a vender matérias primas oligopolizadas (commodities) e importando manufaturados destes mesmos produtos, mas com alto valor agregado, para os países industrializados. Além da doação de vastas áreas estratégicas para o plantio de eucalipto e soja, além da extração de minerais nobres, por particulares, principalmente internacionais. Além de outros seqüestros.

Assim, deve saber o Lula, que o próximo mandato presidencial enfrentará problemas causados pela extrema concentração de poder e meios de produção em categorias fortemente oligopolizadas mundialmente, com amplo domínio especulativo sobre a economia mundial.

E sabe também que será muito confortável, enquanto o seu sucessor administra o caos (provavelmente o aprofundando) e a população sofre os efeitos da era Lulla, ter cerca de cinco anos (o próximo mandato provável), para uma reciclagem (inclusive com curso superior), uma afirmação internacional mais livre de compromissos governamentais além, obviamente de um descanso da tal “máquina de moer carne”, como são chamadas as hostes do Poder, por todos que por ela passam, mas não querem dela largar.

E, de quebra, pouco se lhe dá, se o seu sucessor virá do PT ou de outro campo de forças. Desconfio até que nutre uma preferência por Aécio Neves (mesmo pelo PSDB), o que lhe pavimentaria mais ainda um mandato de apoios políticos amplos, em 2015, no seu programado retorno, a esta altura elevado a altura de um herói nacional. Pois como entidade espiritual soberana, já foi elevado por D. Dilma Roussef, em recente evento católico-carismático no Planalto, conduzido por Padre Marcelo.

Ao PT, então resta pouco, além de um futuro constrangido apoio ao que Lula determinar.

Se, por um lado, quase como uma bravata de crianças frente ao seu pai de namorada nova, rejeitam inicialmente a D. Dilma, por muitos a considerar que ela é uma “estranha ao ninho petista” e “sem vida partidária”, sinalizando com isso todo o medo que a agremiação tem com a ascensão de d. Dilma, para operar uma “despetização” interna do próprio PT, pois a sua imagem política de Partido “diferente” já foi estuprada, há muito.

E isso, ganhando ela a disputa presidencial, ou não. Depois há aquele velho sentimento de vaidade e de que “antiguidade é posto”, só presente em institutos carcomidos e conservadores como são o PT, o Exército Brasileiro com sua hierarquia de galhardões, as Instituições Eclesiásticas, as Corporações Sindicais mais atrasadas, entre outras.

Mas, o que mais teme o PT é referente a uma questão de sobrevivência de seus quadros, expondo um obscuro e pouco falado aspecto do que chamo de Promiscuidade Institucional, entre as esferas Políticas Partidárias e o Seqüestro do Estado e Bens da União pelo Poder Econômico e Agentes Políticos.

Pelo fato do PT ser mais um Partido totalmente domesticado institucionalmente, e incluído como beneficiário do que chamamos de Ordem Burguesa, é que precisa, mais e mais, de ampliar seus domínios, através do largo emprego de sua militância, para alimentar os embates entre as suas tendências internas, e acomodar o partido na vida de amplos setores do país. Para isso não se furtam de utilizar o Aparelho de Estado de forma, digamos, pouco republicana, inclusive para fazer a guerra de posições internas, as transferindo compulsoriamente para a sociedade como um todo.

Outro fato é que “o cachimbo faz a boca torta”. Existe uma legião (eu mesmo conheço pessoalmente dezenas deles) de pessoas que têm com o praticamente único emprego de suas vidas, os chamados “empregos partidários”. Isto é, pessoas que vivem desde a tenra idade da vida adulta a serem nomeados para cargos políticos, para aqui e acolá, representando as correlações de forças políticas internas do PT. E outros que passaram grande parte de suas vidas, militando em função do exercício do Poder.

A ascensão de qualquer Partido ao Poder, gera uma casta de funcionários políticos, todos quadros partidários ou sob forte influência de padrinhos políticos, não regulares aos Institutos Públicos, mas lá colocados para defender muito mais espaços políticos paroquiais, ou pessoais e/ou corporativas, do que Políticas Públicas Populares.

E o PT seria uma esperança de conduta diferente. Mas não foi. Conforme o alerta que nos dão, há séculos, muitos militantes de esquerda considerados como párias, até por amplos setores da esquerda conservadora e patrimonialista. E não o sendo, hoje tem uma legião de militantes/funcionários que não têm lugar no mercado de trabalho tradicional, pois passaram os últimos 20 anos, pulando entre assessorias parlamentares, cargos de confiança em governos municipais, estaduais e federal do PT e aliados, em ONGs dependentes da benevolência de governos, entre outros expedientes menos recomendáveis, mas também utilizados e compartilhados por gente que se diz a favor da Ética Política, mas só para os outros.

Assim, o PT, mostra seu desconforto, tentando mostrar atabalhoadamente ao Lulla, que querem o seu terceiro mandato, por uma questão também de sobrevivência. Além é claro, que não quererem largar dos benefícios provenientes da gerência da entrega do país de da canalhização da política, ao que parece, irresistível a esta gente.

Assim, ao meu ver, a forma de operar os recentes escândalos Varig-Log, Daniel Dantas, entre outros expõem estas demandas das lutas intestinas ao Poder, além de servirem para encobrir em colocar em segundo plano, as reais e cruciais questões que devemos estar a discutir, como são as que relaciono no artigo em que respondo aos falsos ingênuos reclames à imprensa comercial e corporativa, feitas pelo que chamo de jornalistas a favor.

Assim, enquanto todos lutam para conquistarem seus lugares ao sol, Lula prepara-se para um período na Sombra e Água Fresca, com roupa de turista e De Caniço e Samburá, durante o próximo período certamente conturbado e de reveses em nossa economia, que teremos pouco a frente.

*Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e saudoso do tempo em que as comédias apenas nos faziam rir.
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