Correio da Cidadania

O PIB de 2006 e a manipulação da mídia

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A Folha de São Paulo é um jornal engraçado: às vezes se esforça para esconder suas preferências políticas e mostrar "independência", especialmente em relação aos tucanos; outras vezes simplesmente rasga a fantasia e age como um pasquim editado pela cúpula do PSDB. A edição da última quinta-feira, 01 de março, é um exemplo acabado do segundo tipo de comportamento do jornal. A primeira página sintetiza os vários problemas que podem ser encontrados nas páginas internas.

 

Em primeiro lugar, o anti-lulismo do jornal fica escancarado na foto do presidente, de olhos fechados e com semblante preocupado, voltado para o gráfico que compara os números dos anos em que Fernando Henrique Cardoso governava o Brasil com os do primeiro mandato petista no governo federal. A manchete – “PIB de Lula empata com o de FHC” –  grita um absurdo lógico: os Produtos Internos não são "de Lula" ou "de FHC", mas do Brasil. Os presidentes têm alguma margem de manobra para fazer a economia andar em ritmo mais ou menos acelerado, mas qualquer estudante de economia sabe que o crescimento de um país não depende apenas do desejo de seus comandantes.

 

Ademais, a comemoração do "empate" da Folha é puro jogo de números e não reflete a realidade. Tal empate, conforme reconhece o jornal, se refere à comparação da média da gestão Lula com a média do primeiro mandato de FHC, logo após o Plano Real e sob um dos mais reconhecidos erros de política monetária da história recente do Brasil – a quase paridade cambial de Gustavo Franco. Comparada a média dos 8 anos de FHC com os 4 de Lula, o PIB brasileiro cresceu mais sob o governo petista (2,6% contra 2,3%). A manchete da Folha, portanto, não reflete a verdade dos fatos e é claramente favorável ao tucanato.

 

A comparação da Folha também é malandra, porque os 2,6% obtidos nos 4 primeiros anos do mandarinato de FHC refletem uma situação inicial muito melhor do que a deixada a Lula por Cardoso em 2003, quando o petista recebeu das mãos do tucanato um país quebrado. Sem considerar 2003, o resultado das médias seria de 3,3% para os três anos sob Lula contra os 2,3% da média tucana em oito anos.

 

Manipulação à parte, o resultado do PIB de 2006 foi o assunto da semana que passou. Os setores que fazem oposição ao governo se apressaram a manifestar decepção com o crescimento de 2,9%, enquanto a base aliada naturalmente tentava abafar a discussão garantindo que o Brasil vai crescer mais no segundo mandato.

 

O problema, na verdade, está mal colocado. É evidente que o país cresceu menos do que as demais nações classificadas como emergentes — isso não é um argumento, mas um fato —, o que não significa necessariamente que seja possível comparar as trajetórias desses diferentes países. Afirmar que o “Brasil só cresceu mais do que o Haiti”, como tanto insistia o presidenciável tucano Geraldo Alckmin, é tão verdadeiro como lembrar que também os EUA tiveram taxa de crescimento inferior à do Haiti e Brasil.

 

A discussão que importa, no entanto, poucos jornais são capazes de trazer aos seus leitores: quanto o Brasil precisa crescer e quanto consegue crescer. E mais ainda: de que forma deve obter tal crescimento, porque uma coisa é crescer a altas taxas, como ocorreu durante o regime militar, mas concentrando a renda, e outra, bem diferente, é crescer pouco, mas distribuindo os ganhos para os trabalhadores. Também é necessário debater melhor a questão do ritmo de crescimento econômico: o Brasil poderia crescer a uma taxa chinesa com os atuais gargalos de infra-estrutura, sobretudo no setor energético? Afinal, qual é o potencial máximo de desenvolvimento nos próximos 4 anos? Muita gente fala que o país precisa crescer no mínimo 5% ao ano, mas esta meta é factível, pode ser obtida de forma sustentada, respeitando o meio-ambiente e sem provocar um novo apagão? São questões relevantes que passam ao largo do debate que os jornalões apresentam aos seus leitores, tão entretidos que estão em provar que o PIB “do Lula” é menor do que “o de FHC”...

 

 

Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).

 

Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com

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