Correio da Cidadania

Sobre Marta, Alckmin e Kassab

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A notícia do final de semana foi a série de pesquisas do instituto Datafolha sobre o cenário eleitoral para as eleições municipais nas capitais de Estado mais relevantes do país. A disputa que de fato importa e que terá conseqüências diretas para as eleições de 2010 está em São Paulo. Segundo o Datafolha, o ex-governador tucano Geraldo Alckmin caiu 4 pontos e agora empata tecnicamente com a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT), que se manteve estável na faixa dos 25% nas simulações em que seu nome foi testado. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) subiu 3 pontos e está em um patamar bem abaixo de seus possíveis adversários, com 13%.

Não é tarefa fácil analisar a pesquisa porque este cenário é hoje o mais improvável: a ex-prefeita Marta Suplicy tem dito que não quer deixar o ministério, preferindo se guardar para 2010, quando poderia se candidatar ao governo de São Paulo ou mesmo a presidência da República. O ex-governador Geraldo Alckmin também não confirmou ainda se é candidato. Também chama atenção que a Folha tenha realizado simulações, no cenário sem Marta, apenas com Arlindo Chinaglia pelo PT, quando ele nem sequer confirmou a pré-candidatura, ao passo que José Eduardo Cardozo e Jilmar Tatto já se colocaram à disposição do partido para a disputa.

De toda maneira, é possível fazer algumas observações a partir do que os números do Datafolha. Vamos a elas:

1. No cenário sem Marta e com Alckmin, Kassab cai para terceiro lugar, ficando atrás até da ex-prefeita Luiza Erundina (PSB). É talvez o melhor quadro para o ex-governador, que derrotaria o prefeito com facilidade, com chances até de levar a disputa já no primeiro turno (Alckmin aparece com 30% e os tais 16% de Erundina tendem a diminuir à medida que a campanha se desenrole, tal qual ocorreu em 2004, em função do pequeno tempo na televisão a que os socialistas têm direito).

2. Se Alckmin não disputar, Kassab herda apenas parte da votação do ex-governador. Neste cenário, com Marta na disputa, crescem as chances do PT recuperar a prefeitura no ano que vem. É o que de mais tentador há para a ex-prefeita: ela partiria de 28%, um percentual confortável para passar para o segundo turno, e tenderia a capturar a maior parte dos votos dos candidatos de esquerda na disputa (Erundina, 11%; Soninha, 2% e Aldo, 2%). Em tese, chegaria fácil no patamar dos 40%, restando a Kassab a dura tarefa de conseguir todos os votos de Paulo Maluf (PP, 15%) para chegar perto da ex-prefeita. Hoje, parte dos malufistas já não tem a ojeriza de tempos atrás pelo PT e podem perfeitamente optar por Marta, especialmente se Maluf explicitar este apoio no segundo-turno, como já fez no passado.

3. Sem Marta e Alckmin, a disputa vira uma grande incógnita. O prefeito certamente larga na frente em função da máquina municipal (e estadual, neste caso) a apoiar sua candidatura. Estranhamente, o Datafolha não pesquisou este cenário – seria interessante saber se Erundina permaneceria à frente de Kassab ou se ele tomaria a dianteira.

A partir do que foi dito acima, algumas conclusões se impõem: se quiser continuar com cacife político, Geraldo Alckmin terá que se candidatar a prefeito no ano que vem. A taxa de intenção de votos no tucano está caindo, obviamente em função de sua menor exposição na mídia, o que é natural para um político sem cargo público e que no momento não é candidato a nada. E se desejar ser candidato, o PSDB não vai poder negar a legenda ao líder das pesquisas. Não há argumento conhecido que faça um partido ter o favorito para a disputa e abrir mão da candidatura em favor de um candidato que chega a aparecer em terceiro lugar... Ademais, Alckmin não tem muito a perder. Se acabar derrotado por Marta, cenário hoje improvável nas simulações de segundo turno, terá solidificado a imagem de anti-petista. E em uma disputa com Kassab, parece não haver chances de Alckmin acabar atrás do atual prefeito. Resumindo, ou Alckmin sai candidato no ano que vem ou corre o risco de se tornar um Luiz Antonio Fleury Filho, ex-governador que hoje tem sérias dificuldades em se eleger deputado federal.

Já para a ministra Marta Suplicy o cenário é bem diferente. Se ela entrar na disputa e sair derrotada, terá perdido a eleição e o ministério. Ademais, as simulações de segundo turno são muito negativas para ela e a sua taxa de rejeição, muito alta. Entrar na disputa com Alckmin seria uma grande bobagem, tamanhos os riscos de derrota. No cenário sem o ex-governador, a ministra tem mais chances, mas não se pode desprezar que neste caso Kassab viria com bala municipal e estadual, muita máquina e muito dinheiro.

Do prefeito Gilberto Kassab, porém, não se espera outra coisa senão a candidatura à reeleição. Só um néscio não sairia candidato em um quadro desses. Afinal, até ontem Kassab era um desconhecido, ninguém sabia quem ele era. Ganhou a prefeitura de presente e conseguiu alçar seu nome no panteão dos grandes da política paulista com o Cidade Limpa, idéia simples, barata e que "pegou" entre os munícipes. Com a eleição, Kassab, ainda que derrotado, galga mais um degrau na escala dos políticos relevantes no Estado e se cacifa, por exemplo, a ser o nome do DEM para o Senado em 2010, atropelando o secretário estadual do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. Vencendo, poderá até disputar o governo de São Paulo, aí sim, em condições de impor a candidatura ao PSDB, quem sabe oferecendo a vaga de vice a Geraldo Alckmin.

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Comentários   

0 #1 Domingos 26-02-2008 10:29
Não foi citado o candidato do P.SOL Ivan Valente pq?
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