Correio da Cidadania

História e reflexões

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Mais de um observador da vida cultural brasileira tem notado a recorrência do tema da ditadura militar em obras recentes. Isto é notável principalmente no cinema, mas é também visível no teatro, na literatura e mesmo nas artes plásticas.

 

Um participante da resistência destes anos comentou que se verifica o dito popular: a história é mantida pelos netos. No entanto, ainda não houve tempo dos netos da ditadura escreverem sua arte.

 

A raiz do fenômeno é política e tem relação direta com o desastre para a esquerda desencadeado com a eleição de Lula à presidência.

 

Como se sabe, o desencanto é geral. Apenas entre os quadros pagos do governo ou entre as personalidades mais idealistas ou obtusas persiste uma defesa do que acontece.

 

Nesta situação, os setores mais críticos da sociedade são convocado a uma reflexão auto-crítica do passado. No momento, este processo não se faz de forma orgânica através de movimentos políticos, por uma dupla causa.

 

Dadas as circunstâncias, entre as organizações mais tradicionais como a CUT e o próprio PT, a dinâmica do poder oblitera qualquer esforço crítico. Dentre as novas, como o PSOL e a Conlutas, a urgência em ocupar o vazio legado lhes atrela às exigências imediatas da política – como a disputa eleitoral.

 

E, no entanto, isso não impede que individualmente cada cidadão esteja se perguntando acerca dos motivos da derrocada: respira-se essa questão, que paira sobre toda a esquerda. O dinamismo próprio das organizações hoje se movimenta sobre o pano de fundo deste fracasso histórico.

 

Uma reflexão sobre as origens do PT e do conjunto de organizações sociais que a seu redor gravitaram (sindicatos, comunidades de base, movimentos populares) subjaz a qualquer crítica do momento. E este processo histórico está indissoluvelmente ligado à maneira como se deu a passagem da ditadura militar à república constitucional na década de 80.

 

Em outras palavras, a auto-crítica do mais recente movimento histórico da esquerda brasileira desemboca em uma reflexão sobre a ditadura. O PT e o conjunto de organizações que seguiram assentaram seu diagnóstico da realidade e da via de combate sobre o fracasso recente da luta armada.

 

Pese diferenças de método e de conjuntura, a questão subjacente é o debate da reforma ou revolução no capitalismo dependente. Revolução hoje pode não significar luta armada, mas a moral da história é clara: não há transformação social sem violência.

 

Há portanto uma medida importante de acerto na luta impetrada pelas organizações armadas sob a ditadura. Esta reivindicação política, feita de forma tentativa no campo das artes, é significativa e aponta para a superação do discurso do heroísmo juvenil.

 

Os guerrilheiros voltarão.

 

 

Fábio Luís é jornalista.

 

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