Correio da Cidadania

Trabalhadores perdem força no serviço público

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Trabalhadores perdem força no serviço público
Universidades podem ficar vazias – Foto: Elaine Tavares

Quem viveu sabe o que foi a luta contra o privatista FHC. Dois mandatos e grandes movimentos de trabalhadores. Eram tempos difíceis, mas o sindicalismo ainda estava vivo. Entre 1992 e 2002 foram mais de 400 greves, sendo que as maiores foram no serviço público federal. Quem “fez sucesso” naqueles dias foi o economista Bresser Pereira, que propôs o que ele chamava de uma “modernização do Estado”. Ele tinha como meta a extinção de muitos serviços públicos e, claro, a consequente extinção de carreiras públicas. Apontava para uma figura chamada cidadão-cliente, ou seja, a pessoa só teria “direitos” se pudesse pagar.

Considerava que só deveriam permanecer como empregos públicos aqueles vinculados a carreiras típicas de Estado. Fez uma reforma no Estado e trouxe para dentro do serviço público a lógica da produtividade. Muita coisa os trabalhadores seguraram com greves, outras não. Uma das derrotas foi a criação das famigeradas Organizações Sociais, hoje uma praga no Brasil, fazendo estragos nos órgãos públicos, piorando o atendimento e engordando contas privadas. E outra foi essa lógica da produtividade que obviamente não tem qualquer sentido quando se fala em saúde ou educação. Mesmo assim, segue valendo.

Já faz algum tempo o Bresser virou queridinho da esquerda liberal. E com razão, porque ele é mesmo um liberal. Assim que não é por acaso que, agora mesmo, no governo de Luiz Inácio, um governo do Partido dos Trabalhadores, voltem as mesmas velhas ideias de que o Estado está grande demais, que tem de enxugar, que é preciso acabar com a “mamata” dos trabalhadores públicos, que são necessárias reformas. Uma proposta que cria corpo é da retirada de cargos públicos de nível administrativo das instituições federais. Não aparecem como necessários dentro do Estado. A ideia é de que estes cargos sejam retirados do ambiente público e possam ser contratados na lógica privada, via CLT ou outra coisa ainda não sabida.

É isso que está sendo apontado para as Universidades, por exemplo. Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação são, atualmente, um dos piores salários do serviço público. E estão entre os trabalhadores que ainda não conseguiram negociar nada com o governo Lula/Alckmin, enquanto os que são considerados carreiras típicas de estado, como pessoal da Fazenda, Tributação e da Segurança, já conquistaram seus reajustes.

Essa política dos governos – todos os governos – de ir minando por dentro é bastante conhecida. Desmontar para privatizar. Basta ver a imprensa comercial arreganhando os dentes mostrando “absurdos” nas universidades como a existência do cargo de vaqueiro, por exemplo. Um cargo obsoleto do ponto de vista de quem? E se ele estiver numa universidade rural? Mas, não há contexto, só denúncias vazias, sem a compreensão do que seja uma universidade. Outro cargo que está em extinção é o de segurança? Não é necessário?

A prática do desmonte também fica bastante visível nas universidades onde os trabalhadores, por força do arrocho, estão se transformando nos famosos “concurseiros”. É o óbvio. Quem pode querer continuar trabalhando numa universidade na qual o salário médio é de quatro mil reais, enquanto um trabalhador técnico em outros espaços, como Fazenda e Judiciários, começa com quase 10 mil?

Uma debandada geral vai acontecer muito em breve quando sair o resultado do tal concursão do governo Lula/Alckmin. Quem puder vai escapar da universidade. E assim, as IFES seguirão sendo dinamitadas nos seus pilares. Sem gente querendo fazer concurso para as universidades, “a única salvação” será extinguir os cargos técnicos e contratar pela CLT. Baita negócio para o governo liberal. Bresser Pereira na veia. Como a própria universidade parece estar se tornando obsoleta no mundo atual, não será difícil dar essa pazada de cal. Com os trabalhadores buscando saídas individuais e sem mobilização a coisa só piora.

Estamos no limiar de uma hora bastante dura. E quem vai tornar real o sonho do Bresser será o presidente Lula. A menos que haja luta!

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Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

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