Correio da Cidadania

Greve no metrô de Belo Horizonte: “Bolsonaro e Zema são autoritários e chantagistas”

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Os metroviários da capital de Minas Gerais estão em greve há um mês e até agora o governo de Romeu Zema (Novo) não deu início a qualquer conversa com os trabalhadores, que pararam contra o projeto governamental de privatizar o transporte sobre trilhos da cidade. Nesta entrevista, o metroviário Pablo Henrique Ramos de Azevedo explica as razões dos funcionários da estatal e refuta os argumentos oficiais em favor da privatização.

“São mais de 30 dias de greve, a segunda maior da história, atrás apenas da de 2012, que durou 39 dias. É uma greve longa e que não esmoreceu. Os trabalhadores seguem firmes, mesmo diante da ameaça de corte de ponto. E o governo, autoritário que é, ignora nossas demandas e não conversa. É um governo que não se preocupa com as necessidades do povo”.

Por se tratar de uma categoria de filiação sindical nacional, uma vez que o metrô belorizontino é federal, a greve dos metroviários afeta a conclusão do acordo coletivo com os trabalhadores do mesmo serviço de outras capitais, o que tem sido usado pelo governo como instrumento de combate à greve, de acordo com Pablo Henrique. Além disso, lamenta que as lutas sociais e trabalhistas estejam com baixa repercussão até em setores historicamente ligados a elas.

“Mesmo na esquerda quase não há lideranças a falar delas. São várias greves no momento e elas não atrapalham qualquer projeto eleitoral. Temos a tarefa de derrotar Bolsonaro, mas não apenas por derrotar. Trata-se de derrotar um projeto político neoliberal que precisa ser enterrado de vez, porque ataca as condições de vida dos trabalhadores, tanto do setor público como da iniciativa privada”.

A entrevista completa pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Como vocês receberam a proposta de privatização do Metrô de BH? O que fundamenta esse projeto do governo?

Pablo Henrique Ramos de Azevedo: Recebemos essa notícia assim que terminaram as eleições de 2018, quando Zema disse que a primeira coisa a fazer como governador seria privatizar o metrô. Até riram, ao dizer que o metrô era federal. Mas o Estado se mexeu e deu vários passos no sentido de promover o programa de desestatização. Preparamos a categoria para enfrentar tal momento, fizemos seminários e discussões, e agora estamos diante da Portaria 206, que oficializa o projeto de privatização do metrô de Belo Horizonte.

Correio da Cidadania: O que pensa das alegações do governo para a privatização?

Pablo Henrique Ramos de Azevedo: São totalmente falsas, como mostra a realidade. Nenhum serviço privatizado melhorou, a exemplo da energia no país, pra não falar do apagão no Amapá em 2019. A Supervia (Rio de Janeiro), que já foi CBTU, melhorou depois de privatizada? Não vimos modernidade, eficiência, melhoria, nada disso. O metrô carioca carregava 1 milhão de passageiros diariamente e hoje oscila entre 600 e 700 mil. E poderia dar muitos outros exemplos.

Correio da Cidadania: Como ficariam os trabalhadores? Por que entraram em greve?

Pablo Henrique Ramos de Azevedo: Os trabalhadores ficaram sem saber o que fazer. Ouvimos que teríamos 12 meses de estabilidade. Depois não precisa nem dizer o que acontece. Rua pra todo mundo. Por isso entramos em greve, para defender nossos empregos.

Correio da Cidadania: Por que a direção da empresa quis envolver assinatura de acordo coletivo como condição para negociação? Quais as condições deste acordo?

Pablo Henrique Ramos de Azevedo: Chantagem. Os governos Bolsonaro, com quem devemos negociar, e Zema, que pretende pegar a empresa e vender, são autoritários e chantagistas. A empresa apresentou um acordo, já que realmente estamos em época de fechar acordos coletivos, mas ela só quer fechar tal acordo, que é nacional, se BH encerrar a greve. É uma forma de chantagear os trabalhadores de outros estados e jogá-los contra nós, que estamos em greve. Mas a categoria não aceitou.

Correio da Cidadania: Já temos um mês de paralisação. Por que o governo resiste tanto a abrir conversas?

Pablo Henrique Ramos de Azevedo: São 25 dias de greve, a segunda maior da história, atrás apenas da de 2012, que durou 39 dias. É uma greve longa e que não esmoreceu. Os trabalhadores seguem firmes, mesmo diante da ameaça de corte de ponto. E o governo, autoritário que é, ignora nossas demandas e não conversa.

É um governo que não se preocupa com as necessidades do povo. Falaram que o sindicato não se preocupa com transporte público, mas são eles, claro, que não se preocupam. Se fosse assim, estariam resolvendo os problemas causados pelas privatizações, a exemplo de Rio e Salvador, estariam reestatizando a CPTM em São Paulo, que em apenas dois meses já teve diversos problemas de freios, atrasos, morte de trabalhador...

Eles não chamam pra conversar, não abrem negociações. São governos que só agem contra os trabalhadores e não contribuem em nada para a mobilidade urbana do país.

Correio da Cidadania: Vocês não sentem um clima político excessivamente voltado às eleições, de modo que diversas greves ocorridas neste ano quase não são notícia e pouco repercutem até em setores das oposições ao governo, mais notadamente a esquerda, cujos partidos são historicamente ligados a tais tipos de luta política?

Pablo Henrique Ramos de Azevedo: Acredito que, em primeiro lugar, de fato as greves são pouco divulgadas. Mesmo na esquerda quase não há lideranças a falar delas. São várias greves no momento e elas não atrapalham qualquer projeto eleitoral.

Temos a tarefa de derrotar Bolsonaro, mas não apenas por derrotar. Trata-se de derrotar um projeto político neoliberal que precisa ser enterrado de vez, porque ataca as condições de vida dos trabalhadores, tanto do setor público como da iniciativa privada.

Precisamos debater se queremos encher os bolsos de empresários e enriquecê-los ou se queremos resolver os problemas das pessoas. É um erro não pautar essas questões no atual momento, pois elas potencializam a luta para derrotarmos o projeto liberal.

Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania.

 

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