Fórum Social Mundial: mais uma vez fora da pauta

Por Luiz Antonio Magalhães

 

Manchetes coletadas na internet de edições eletrônicas de alguns dos mais importantes jornais do planeta na noite de 30 de janeiro de 2002, véspera da abertura do Fórum Social Mundial:

"La mondialisation, de Porto Alegre à New York" (Le Monde, França); "Porto Alegre 2002, il ritorno dei no global" (Corriere Della Sera, Itália); "Globalisation: Anti-global protest fights on a new front" (The Independent, Inglaterra); "La globalización, a examen tras los atentados del 11-S" (El País, Espanha); e "Brasil: Foro Social Mundial a punto de abrir sus puertas" (Granma, Cuba).

Manchetes das edições eletrônicas dos quatro mais importantes jornais brasileiros na noite do mesmo dia: "Scolari agride torcedor em Goiânia" (Estadão.com, sítio do jornal O Estado de S. Paulo); "Ex-garçom de restaurante onde jantou Celso Daniel é preso em São Paulo" (Folha Online, da Folha de S. Paulo); "Garçom suspeito da morte de Celso Daniel é preso" (JB Online, do Jornal do Brasil), e Felipão agride torcedor em Goiânia (Globo.com, d’O Globo).

É tarefa quase acaciana comentar as discrepâncias. A impressão que se tem é que há dois mundos totalmente diferentes, duas realidades que não se cruzam. Fora do Brasil, o Fórum Social Mundial é noticiado ao lado do escândalo Enron, da guerra ao terrorismo e, obviamente, do convescote de Davos, neste ano transferido para a cidade de Nova York.

No Brasil, porém, o Fórum praticamente não apareceu na imprensa. É verdade que neste mês de janeiro saiu alguma coisa. E como era de se esperar, o tom do "noticiário" sobre o movimento antiglobalização foi sempre de chacota ou, em uma variante bastante comum no tratamento que a imprensa brasileira dispensa às esquerdas, de intriga.

Assim, foi veiculado que a "direção" do Fórum tentou convencer José Bové e Fidel Castro a não participarem do evento. Quando a "notícia" saiu, fiquei imaginando a cena de Oded Grajew, Antonio Martins ou Sergio Haddad telefonando para o líder cubano e comunicando a má notícia: "Não, o senhor não é bem vindo".

Tal cena pode ser inimaginável para qualquer pessoa com um mínimo de trânsito na esquerda, mas é perfeitamente crível para a maioria da população. Assim, quando sai nas folhas uma notícia aparentemente tão despropositada, é por pura intenção de intrigar e confundir. Aliás, para quem não sabe, José Bové está, sim, em Porto Alegre.Sem medo de errar, os brasileiros sedentos de detalhes sobre o Fórum Social Mundial terão de recorrer aos jornais estrangeiros. A cobertura nacional vai privilegiar a campanha eleitoral interna (fotos de Lula, Olívio e Tarso ao lado dos vermelhos descontentes serão tiradas a rodo e publicadas com a óbvia intenção de lembrar a todos que o PT, por mais "light" que se apresente, ainda é o legítimo representante da "desordem"). Também serão noticiados os eventuais incidentes e alguma atenção serÁ dada aos grandes nomes presentes, Noam Chomsky à frente.Não interessa para a mídia chapa branca o conteúdo em si das discussões, a magnitude e a repercussão daquela que promete ser a maior manifestação antiglobalização organizada até hoje realizada. Pelo menos é assim que os gringos estão vendo o Fórum.

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