Manchetes coletadas na internet de edições eletrônicas de alguns dos mais
importantes jornais do planeta na noite de 30 de janeiro de 2002, véspera da abertura do
Fórum Social Mundial:
"La mondialisation, de Porto Alegre à New York" (Le Monde,
França); "Porto Alegre 2002, il ritorno dei no global" (Corriere Della Sera,
Itália); "Globalisation: Anti-global protest fights on a new front" (The
Independent, Inglaterra); "La globalización, a examen tras los atentados del
11-S" (El País, Espanha); e "Brasil: Foro Social Mundial a punto de
abrir sus puertas" (Granma, Cuba).
Manchetes das edições eletrônicas dos quatro mais importantes
jornais brasileiros na noite do mesmo dia: "Scolari agride torcedor em Goiânia"
(Estadão.com, sítio do jornal O Estado de S. Paulo); "Ex-garçom de
restaurante onde jantou Celso Daniel é preso em São Paulo" (Folha Online, da Folha
de S. Paulo); "Garçom suspeito da morte de Celso Daniel é preso" (JB
Online, do Jornal do Brasil), e Felipão agride torcedor em Goiânia (Globo.com,
dO Globo).
É tarefa quase acaciana comentar as discrepâncias. A impressão que
se tem é que há dois mundos totalmente diferentes, duas realidades que não se cruzam.
Fora do Brasil, o Fórum Social Mundial é noticiado ao lado do escândalo Enron, da
guerra ao terrorismo e, obviamente, do convescote de Davos, neste ano transferido para a
cidade de Nova York.
No Brasil, porém, o Fórum praticamente não apareceu na imprensa. É
verdade que neste mês de janeiro saiu alguma coisa. E como era de se esperar, o tom do
"noticiário" sobre o movimento antiglobalização foi sempre de chacota ou, em
uma variante bastante comum no tratamento que a imprensa brasileira dispensa às
esquerdas, de intriga.
Assim, foi veiculado que a "direção" do Fórum tentou
convencer José Bové e Fidel Castro a não participarem do evento. Quando a
"notícia" saiu, fiquei imaginando a cena de Oded Grajew, Antonio Martins ou
Sergio Haddad telefonando para o líder cubano e comunicando a má notícia: "Não, o
senhor não é bem vindo".
Tal cena pode ser inimaginável para qualquer pessoa com um mínimo de trânsito na
esquerda, mas é perfeitamente crível para a maioria da população. Assim, quando sai
nas folhas uma notícia aparentemente tão despropositada, é por pura intenção de
intrigar e confundir. Aliás, para quem não sabe, José Bové está, sim, em Porto
Alegre.Sem medo de errar, os brasileiros sedentos de detalhes sobre o Fórum Social
Mundial terão de recorrer aos jornais estrangeiros. A cobertura nacional vai privilegiar
a campanha eleitoral interna (fotos de Lula, Olívio e Tarso ao lado dos vermelhos
descontentes serão tiradas a rodo e publicadas com a óbvia intenção de lembrar a todos
que o PT, por mais "light" que se apresente, ainda é o legítimo representante
da "desordem"). Também serão noticiados os eventuais incidentes e alguma
atenção serÁ dada aos grandes nomes presentes, Noam Chomsky à frente.Não interessa
para a mídia chapa branca o conteúdo em si das discussões, a magnitude e a repercussão
daquela que promete ser a maior manifestação antiglobalização organizada até hoje
realizada. Pelo menos é assim que os gringos estão vendo o Fórum.