Correio da Cidadania

Força, Chape!

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Nunca dei muita bola pra Chapecoense. Era apenas um “timinho” que estava dando um trabalho na primeira divisão, mas logo a deixaria. Ledo engano. Gosto das cores, porém, quando golearam o meu Palmeiras por 5 a 1 na Arena Condá, no ano passado, aí sim peguei birra. Mesmo assim, sinceramente, nunca dei muita importância. Apenas recentemente comecei a prestar mais atenção a este clube por conta das campanhas nas Copas Sul-Americanas e me impressionou sua história recente.

 

O clube, fundado em 1973, faz aniversário em 10 de maio, um dia depois deste que escreve. Na época de sua fundação como clube amador, onde permaneceu por pouco tempo, a cidade de Chapecó vivia uma espécie de crise no futebol. Clubes mais antigos como o Atlético Clube Chapecó, Independente Futebol Clube, Grêmio Esportivo Comercial e Guayracá Futebol Clube já estavam em amplo processo de decadência, e os grandes times de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná fatiavam, ou tentavam fatiar, os corações de Chapecó. A 10 de maio de 1973, torcedores do Atlético e do Independente (Heitor Pasqualotto, Valdir Pelisser, Lorário Immich, Vicente Delai e Altair Zanella) resolveram fundir ambos os clubes e assim criaram a Associação Chapecoense de Futebol. Immich foi o primeiro presidente.

 

E no amadorismo dos primeiros anos o clube construiu e solidificou sua identidade com a cidade do oeste catarinense. Seu primeiro time era composto na totalidade por atletas amadores citadinos. Profissionalizado, o primeiro título estadual veio já em 1977. Após 26 vitórias, 12 empates e 8 derrotas, o clube venceu o Avaí por 1 a 0 no jogo derradeiro do campeonato estadual e vestiu sua primeira faixa de campeão. Entre 1978 e 79, teve uma breve passagem pela elite do futebol brasileiro, mas sem a contundência dos dias atuais.

 

Em uma busca incessante pelo bicampeonato estadual, acabou perdendo o título para o Joinville em 78, em um dos campeonatos mais polêmicos já disputados no estado, com direito a desistência do Avaí. Em 1991, o bicampeonato novamente escapou, dessa vez pelas mãos do Criciúma de Luiz Felipe Scolari. Mas em 1996 o bi chegaria. Contra o Joinville. E com chuva de rojões de frente para o hotel onde dormia e se concentrava o rival do leste. Mais três títulos estaduais viriam: 2007, 2011 e neste trágico 2016, que já foi de alegrias para a Chapecoense, mas infelizmente terminou da forma que ainda digerimos.

 

Uma forte crise abateu a Chapecoense a partir de 2001, quando terminou na lanterna do estadual e precisou disputar uma seletiva para se manter no campeonato do ano seguinte. Em 2003, precisou mudar de personalidade jurídica para não decretar falência e passou a chamar-se Associação Chapecoense Kindermann/Mastervet, parceria que durou até o ano seguinte e serviu como suporte para montar a base que empregaria a retomada do clube como potência estadual. Já em 2005, uma nova diretoria assumiu o clube e empregou uma política de recuperação financeira que já no ano seguinte mostrou resultados, com a conquista da Copa Santa Catarina no segundo semestre.

 

Campeão Catarinense em 2007, a Chape não repetiu a dose em 2008, ficando em oitavo lugar no estadual e perdendo o direito de disputar a Série D do Brasileirão. Mas em 2009, com o vice-campeonato estadual, a Chape voltou ao Brasileirão, para de lá não mais sair. Ainda em 2009 chegou às finais da Série D, não foi campeã, mas subiu para a Série C, onde permaneceu até ser vice da mesma, em 2012. Em seu primeiro ano de Série B, surpreendeu a todos e, bicho papão que é, papou o vice-campeonato, elevando-se à Série A do Brasileirão de 2014. E a partir daí, todos sabemos o que veio pela frente. Boas campanhas na Série A, eliminação na Copa Sul-Americana para o River Plate em 2015 e, em 2016, finalmente um clube catarinense chega a uma final internacional. A defesa de Danilo no último lance do empate contra o San Lorenzo é para a posteridade. Eis que, então, acontece o que aconteceu.

 

Não posso falar pelos torcedores da Chape, mas entendo o que pode representar pra eles. A imagem divulgada pela Folha da torcida rezando o Pai Nosso ao redor do estádio é muito comovente. Que maluquice é a vida. Comemoraram até a madrugada aquele empate, mas, hoje, acredito que muitos prefeririam que o Danilo não tivesse salvo essa épica bola no último minuto do jogo. Bruno Rangel voltou de um desses eldorados para ser o maior artilheiro da história do clube. Ananias, autor do primeiro gol do novo estádio do Palmeiras, também se foi. Assim como o técnico Caio Jr, Cleber Santana e muitos outros. Perdas e mais perdas. Vidas interrompidas. Tristeza infinita.

 

Sem muito mais o que dizer, apenas lamentar, o Correio da Cidadania buscou contar, de forma bem resumida, um pouco da história deste pequeno grande clube. Pequeno por ser de uma cidade pequena, com pouca grana e jogadores modestos. Grande por toda a história que construiu, apesar das adversidades.

 

Lamentável, digna de nota odiosa, a atitude de um certo veículo de comunicação que não merece ser citado nominalmente aqui e que em sua incessante caça por cliques divulgou “selfies e vídeos" dos últimos bons momentos dos jogadores.

 

Grandiosa e digna de respeito a atitude do Atlético Nacional de Medellín, de abrir mão da disputa e declarar a Chape campeã. Não vai resolver os problemas gerados pelo acidente, mas pelo menos presta uma justa homenagem.

 

Gostaria de prestar também solidariedade, em nome de todo o time do Correio, às famílias dos jogadores, comissão técnica, colegas jornalistas e tripulação. E também a maravilhosa torcida da Chape. Esperemos de coração que a tragédia seja superada por toda a coletividade de Chapecó, no tempo que for necessário para que isso ocorra, para que enfim o futebol brasileiro possa novamente sorrir em breve.

 

Abraços de solidariedade.

 

Força, Chape!!!

 

Raphael Sanz é jornalista do Correio da Cidadania e edita o blog Destilaria da Bola.

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