Correio da Cidadania

Cidades da costa dos Estados Unidos estão afundando

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Uma quantidade considerável de terra costeira pode afundar nos Estados Unidos (EUA) ainda na primeira metade do século 21. Cerca de 32 cidades costeiras dos EUA estão em risco de inundação até 2050 devido à subsidência, o desmoronamento ou afundamento gradual de uma área geográfica, de acordo com um artigo publicado no dia 6 de março na revista acadêmica Nature.

Grandes cidades costeiras – como Boston, Nova Orleans e São Francisco – estarão em regiões que poderão sofrer inundações num futuro próximo devido a mudanças na elevação do solo, combinadas com o aumento do nível do mar – que está subindo cerca de 4 milímetros por ano. Até 273 mil pessoas e 171 mil propriedades nas regiões costeiras dos EUA poderiam ser afetadas, como mostra a figura abaixo.

Por exemplo, muitas partes do terreno montanhoso de São Francisco não terão preocupações com inundações, mas o Aeroporto Internacional de São Francisco e outras partes da cidade em terras recuperadas estão afundando na baía circundante.


Por outro lado, descobriu-se que áreas com baixos níveis de elevação e taxas mais elevadas de subsidência, como Nova Orleans e outras áreas ao longo da Costa do Golfo, apresentam um risco mais elevado de inundações no futuro. Nova Orleans, por exemplo, foi construída em terrenos baixos dentro dos sedimentos do rio Mississípi, fazendo com que toda a cidade afundasse rapidamente.

A subsidência costeira é frequentemente sub-representada nos modelos de inundação, disseram os autores do artigo. As inundações que as regiões costeiras sofrerão devido ao aumento do nível do mar podem, na verdade, ser piores do que se pensava anteriormente, quando se considera a rapidez com que a terra estava afundando.

À medida que a crise climática se agrava, os efeitos sobre as cidades costeiras se agravam. Partes das regiões baixas da Flórida, como Miami, já estão enfrentando “inundações em dias ensolarados” que ocorrem como resultado da maré alta. Miami apresentou a maior parcela de exposição a inundações, com até 122 mil pessoas e até 81 mil propriedades que podem estar em risco de inundação até 2050, segundo os autores do estudo.

Evidentemente, será necessário implementar políticas de gestão local para fortalecer as infraestruturas costeiras, uma vez que os atuais esforços de mitigação de riscos são inadequados. O certo é que a situação ficará ainda pior na segunda metade do século 21, quando a temperatura global ultrapassar os 2ºC, limite superior do Acordo de Paris.

A elevação do nível dos oceanos vai afetar amplas parcelas da população. Afetará ricos e pobres. A diferença é que os ricos terão recursos para se adaptar e se deslocar para áreas mais seguras, enquanto a população pobre não terá recursos para se realocar e evitar todos os efeitos negativos do aquecimento global antropogênico.

As enchentes e as inundações se espalham pelo mundo e o Rio Grande do Sul vive a maior tragédia climática da história do Estado. No domingo, 5 de maio de 2024, o rio Guaíba atingiu o nível máximo já registrado, causando dezenas de mortes, centenas de desaparecidos e milhares de desabrigados.

Quanto maior for o aquecimento global, maiores serão os desastres climáticos. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa e recuperar os ecossistemas é tarefa inadiável para evitar uma Terra inabitável no futuro próximo.

Referência:

ALVES, JED. A dinâmica demográfica global em uma “Terra inabitável”, Revista Latinoamericana de Población, Vol. 14 Núm. 26, dezembro de 2019
https://revistarelap.org/index.php/relap/article/view/239 

Ohenhen, L.O., Shirzaei, M., Ojha, C. et al. Disappearing cities on US coasts. Nature 627, 108–115 (2024). https://doi.org/10.1038/s41586-024-07038-3 

José Eustáquio Diniz Alves é economista e mestre em demografia.
Publicado originalmente em EcoDebate.

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