Correio da Cidadania

O derretimento do gelo da Antártica Ocidental já é inevitável

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“O que acontece na Antártica não fica na Antártica”.
Secretário-geral da ONU, António Guterres (24/11/2023)

A extensão do gelo marinho da Antártica estava aumentando ligeiramente até 2015. Mas a partir de meados da década passada a situação se inverteu e a área de gelo marinho começou a diminuir, bateu recorde de degelo em 2022 e alcançou baixas extremas em 2023, preocupando a comunidade científica.

O artigo “Unavoidable future increase in West Antarctic ice-shelf melting over the twenty-first century”, publicado na revista acadêmica, Nature Climate Change (Naughten et al, 23/10/2023), mostra que o derretimento das plataformas de gelo flutuantes no Mar de Amundsen, na Antártica Ocidental, está se acelerando e é o principal vetor para a subida do nível do mar. Segundo o estudo, o aumento do derretimento das plataformas de gelo da Antártica Ocidental é “inevitável” nas próximas décadas.

Utilizando um modelo oceânico regional, os autores apresentam um conjunto abrangente de projeções futuras do derretimento da plataforma de gelo no Mar de Amundsen, constatando que o rápido aquecimento dos oceanos, aproximadamente o triplo da taxa histórica, está provocando aumentos generalizados no derretimento das plataformas de gelo, incluindo em regiões cruciais para a estabilidade das plataformas geladas.



O volume de gelo da Antártica contém água suficiente para elevar o nível global do mar em cerca de 60 metros, caso derreta totalmente. Evidentemente, isto não vai ocorrer nos próximos séculos. Mas o derretimento de apenas 5% significa um aumento de 3 metros no nível do mar, o que seria desastroso para as cidades litorâneas e para bilhões de pessoas que vivem ou dependem da dinâmica econômica das áreas litorâneas.

O Mar de Amundsen, ao largo da costa ocidental da Antártida, está esquentando cerca de três vezes mais rapidamente do que a taxa histórica. Isto levará a um derretimento muito mais rápido das plataformas de gelo. Existe uma grande preocupação com a geleira Thwaites que deságua no Mar de Amundsen. Thwaites, por vezes referida como “A geleira do Juízo Final” é altamente vulnerável ao aquecimento global e caso colapsasse totalmente, aumentaria o nível global do mar em cerca de 65 cm. Sua linha de aterramento – o ponto onde o gelo perde contato com a rocha e começa a flutuar – já está recuando mais de 1 km por ano em alguns lugares.

Em 2021, o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), divulgou as suas últimas estimativas sobre a futura subida do nível do mar. Previu uma subida média global do nível do mar entre 0,28m e 1,01m até 2100. Evidentemente, o aumento do nível do mar de cerca de um metro colocaria centenas de milhões de pessoas em todo o mundo em risco de inundações costeiras, ameaçando a infraestrutura, as benfeitorias urbanas e as áreas agricultáveis.

O gráfico abaixo mostra que o degelo da Antártica bateu todos os recordes históricos em 2023. Nunca a área de gelo marinho, na referência anual, foi tão baixa e nunca o continente meridional esteve tão ameaçado.