Correio da Cidadania

Pior crise hídrica?

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Saneamento: Governo decreta situação de emergência hídrica na RMC e no  Sudoeste - Agência Estadual de Notícias
No Brasil, quando tragédias são vislumbradas no horizonte, além das tardias medidas atenuantes, os dedos apontam vários culpados. Primeiro se tenta a estratégia do exagero (“é só uma gripezinha”). Depois o remédio inútil (Cloroquina) e, só quando já é tarde (600.000 mortos) o governo toma alguma providência.

Apesar de estar relacionada a uma mudança do clima do planeta, a chance (cada vez mais alta) de termos um racionamento de energia é tratada do mesmo modo.

Primeiro, tenta-se negar o evento e, culpando o consumidor, faz-se propaganda tentando nos convencer que somos esbanjadores. Depois, a falsa informação de que a atual crise hidrológica é inédita, culpando São Pedro. Muitos culpam o operador nacional do sistema (ONS). Só nos resta aguardar para ver se outros técnicos do setor reconhecem que o que está faltando é a vacina do investimento.


Para apontar a mentira da frase “a pior crise hídrica de 91 anos”, basta consultar os dados históricos das “energias naturais” (afluências dos rios em unidades energéticas) do sistema Sudeste e Centro-oeste. Como se vai ver, esse triste “campeonato” precisa de um exame do VAR!

Atenção! O que estamos mostrando no gráfico abaixo é que, usando os dados históricos do período 1950 – 1956 (7 anos seguidos) sobre o sistema de geração atual, a situação é pior do que a “inédita” crise hídrica 2014 – 2020 (7 anos). Em outras palavras, se ocorresse o dado histórico, a situação seria mais grave. O primeiro dado (linha azul) é conhecido como “período crítico”.

Para deixar claro que a série azul é pior do que a vermelha, a média das energias naturais de 1950 – 1956 é de 30.390 MW médios. A média da crise atual é 35.149 MW médios, 15% mais alta do que a da década de 1950.

Mesmo que fosse o inverso, o que se pretende informar é que, ao contrário do repetido discurso das atuais autoridades, ainda não dá para culpar a hidrologia de São Pedro. Vejam que a década de 1950 não tinha o desmatamento recente e, mesmo assim, evidencia uma crise pior do que a atual.

Além disso, nos “softwares” de simulação da geração aprovados pelo sistema, utiliza-se um modelo estocástico que estende a amostra de energias naturais para 2.000 anos! Nessa série, ocorrem situações piores do que o período crítico.

Como parece que 2021 será ainda pior, pode ser que esse indesejado “campeonato” seja vencido pela “crise inédita”. Mesmo assim, é absurda a ideia de que a situação atual seja “inesperada”.

Conclusão

Na realidade, o que falta é investimento em novas fontes de energia. Se nossos rios não são mais como eram, hipótese até agora por demonstrar, precisamos de mais usinas em outros rios. Ou eólicas e solares, onde estamos completamente atrasados. O que não precisamos é de mais usinas térmicas, pois de 1995 até 2020 multiplicamos por 6 nossa capacidade e, em função do alto preço, temos continuamente preferido usar a água da reserva. Por isso esvaziamos!

Será que é preciso lembrar que a Eletrobras vai ser privatizada vendendo usinas prontas e faturando alto? Têm certeza que vai haver investimento suficiente nesse cenário?

Roberto D’Araujo é engenheiro, ex-assessor da Eletrobrás e diretor do Instituto Ilumina.

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