Correio da Cidadania

Pobre Roraima

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O Brasil parece não ter consciência da situação, mas está vivendo a maior crise humanitária da sua história. Para infelicidade dos roraimenses, é em seu Estado, o menos populoso e o mais setentrional do país, com o menor de todos os PIBs, distante três mil quilômetros de Brasília, que essa crise acontece.

A Folha de S. Paulo de domingo, 6, publicou artigo no qual a governadora de Roraima, Suely Campos, grita por socorro e dá uma ideia mais real da tragédia ao estabelecer um paralelo com o Estado e a cidade mais ricos e populosos do Brasil.

Convertidos para a realidade do estado de São Paulo, os 50 mil venezuelanos que entraram em Roraima nos últimos três anos seriam 4,4 milhões de novos habitantes, à média diária de 700 imigrantes daquele país. Na capital paulista, equivaleriam a 1,2 milhão de novos moradores. Seria um Deus-nos-acuda.

Na outra extremidade do território nacional, essa avalanche sem paralelo vira vaga referência, apesar das cenas dramáticas de famílias inteiras acantonadas em condições sub-humanas em Boa Vista, que concentra dois terços da população do estado. Já representam 10% dos 522 mil habitantes do estado e mais de 15% dos moradores da capital.

A insensibilidade do governo Temer agrava esse caos, para o qual dá sua contribuição o silêncio conivente da esquerda, principalmente a abrigada sob a bandeira do PT. O partido, à frente seu chefe, Lula, entoou loas ao bolivarianismo de Chávez e Maduro. Mas não assume qualquer responsabilidade pelo mais nefando dos seus efeitos, a diáspora dos cidadãos do país no rumo dos vizinhos, em especial o Brasil.

Não são apenas índios e pobres, embora constituam a maioria do contingente. Pessoas com profissão definida, formação universitária e qualificação técnica caminham dezenas ou centenas de quilômetros pela única via de acesso ao Brasil atrás de qualquer emprego.

Não importa o salário que se lhes seja oferecido, o menor salário, o mínimo, será muito superior ao que tinham – ou já não têm mais. Para as mulheres, até a prostituição é considerada alternativa “menos pior” do que permanecer na terra natal, o que dá uma ideia pungente da gravidade do problema.

Mesmo sendo do PP, da base aliada do governo federal, a governadora Suely Campos se sentiu ofendida pelas declarações do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e do próprio presidente da República, Michel Temer, a respeito da ação civil pública que propôs perante o Supremo Tribunal Federal.

Seu objetivo é restringir temporariamente ou impor limites à entrada de mais venezuelanos “até que a União assuma o dever constitucional de promover medidas na área de controle de segurança, saúde e vigilância sanitária”.

Ela diz que o governo estadual exauriu seus recursos. Recebeu de ajuda federal 480 mil reais, enquanto a União Europeia doou R$ 10,6 milhões ao Alto Comissariado da ONU para refugiados, só para a atuação na fronteira.

A governadora reconhece que alguns dos principais centros do país “começam agora a se dar conta da gravidade da situação”, mas lembra que a convivência dos roraimenses com essa crise remonta a três anos. Aliás, a muito mais, se considerados os fatores internos.

A despeito do avanço da frente econômica num espaço composto por todos os biomas amazônicos, que fazem de Roraima o mais representativo estado da região, a pobreza continua a ser a sua marca. Não por acaso, às vésperas do início do verão na área, o estado bateu o recorde de desmatamento em abril. Menos recursos naturais com menos riqueza é um problema para o qual os venezuelanos em nada contribuíram – mas a governadora, sim.

Lucio Flavio Pinto é jornalista. Publicado originalmente no site Amazônia Real.

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