Correio da Cidadania

Depredação da inteligência alheia

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Como verdadeiras pedras sendo arremessadas nas vidraças dos nossos cérebros, recebemos as grandes polêmicas da semana. Daquelas coisas emblemáticas, que serão tratadas com escárnio nas redes sociais, para depois desaparecer nos seus históricos virtuais.

O primeiro episódio da semana foi a aparição de duas múmias na televisão dominical (28/01). Antes fosse uma reexibição do velho enlatado hollywoodiano, mas foi Silvio Santos que recebeu Michel Temer no seu decadente e homônimo programa. O roteiro era de uma entrevista – claramente a fim de vender o peixe da Reforma Previdenciária que o Governo Federal quer aprovar custe o que custar.

No final, Silvio até atropela Temer e dá, com seu jeitão engraçado que o Brasil conhece, a conclusão de que Temer iria dizer com seu perfeito português formal dos anos de 1910.

Os dezoito minutos de participação do presidente no Programa Silvio Santos começaram com fortes requintes de crueldade para quem tem alguma memória. Já na música na abertura: uma gravação do grande Bezerra da Silva – que entre outras canções nos alertava para os “políticos caô-caô” ainda nos anos 80. Escolheram o samba a dedo para vender a austeridade: “apertar o cinto”.

Ao final da canção, o velho Silvio aparece com seu “revólver da fortuna” que atira notas de 20 e de 50 para as pessoas – gerando um efeito como quem joga migalhas de pão para pombos num banco de praça que pode ser a minha, a sua ou a nossa. É assim que tratam a inteligência do povo brasileiro, como se tivéssemos cérebro de pombo aceitando migalhas de humoristas bisonhos que sentam em bancos de praça cenográficos.

A introdução do Silvio Santos e o teor da entrevista com Temer em si são impublicáveis. Foi um grosseiro resumo do discurso oficial do governo que todos já conhecemos. Aquele enfoque no medo da quebra que houve em Portugal ou na Grécia acontecer por aqui, mas enfim, sem qualquer profundidade.

O destaque vai para a fanfarronice de um debate sobre “déficit da previdência e novas realidades” ser travado entre um bilionário com mais de 80 anos e um presidente da República de 77 aposentado aos 55. A culpa do déficit, óbvio, é do povo que agora vive mais e continua fazendo muitos filhos. Dos bilionários que compõem o oligopólio midiático nacional e as mesas diretoras de grandes bancos é que não pode ser, óbvio. Do governo, tampouco! Imagina, pessoal! O Silvio é boa gente.

E no final da participação fomos presenteados com uma cereja no bolo. Temer joga uma nota de 50 na mão do Silvio Santos a fim de fazer uma brincadeira com o quadro em que o apresentador dá dinheiro para a plateia. Que lindo gesto de amizade!

Antes de fechar o assunto, é preciso trazer à luz o que Gustavo Gindre, jornalista e pesquisador, nos lembrou nas redes sociais: “para retribuir a concessão pública, Silvio Santos levava o ditador Figueiredo ao seu programa. Para se salvar da quebra do Banco Panamericano, SS apoiou Lula. Não há, portanto, nenhuma novidade no uso de sua concessão pública para prestar favor ao poderoso de plantão”.

Pois bem, vamos para a segunda-feira (29/01).

Cristiane Brasil, filha de Roberto Jeferson (ele mesmo!), acabou sendo indicada no final do ano passado a assumir o Ministério do Trabalho e logo impedida por conter, na Justiça, processos trabalhistas contra sua ínclita pessoa.

E o que era para ser a defesa do óbvio se tornou um surrealismo colossal. Um verdadeiro esperneio partiu do lado da indicada e sua família. Até o pai  deu declarações na imprensa afirmando a honestidade da filha. Fosse o Brasil um país com alguma memória, o argumento incriminaria ainda mais suas pretensões.

Eis que no domingo um vídeo de Cristiane, em um passeio de lancha com quatro homens corpulentos e sem camisa, caiu na internet. Na obra cinematográfica ela dizia resumidamente que responder a processo trabalhista é normal, que todo empresário tem de lidar com isso e não entende quem abre processos trabalhistas. Tudo com a chancela dos homenzarrões de bem ao seu redor.

Obviamente, a reação nas redes sociais foi tremenda. Comparações com sets de filmagem da indústria pornográfica pipocaram em toda a rede, mas a verdadeira “safadeza” estava mais no discurso do que na exibição do ostentador estilo de vida. Tanto que papai Roberto deu uma bronca na filha no dia seguinte (30/01).

“Uma figura pública deve se comportar como figura pública”, foi como Jeferson chamou a atenção de Cristiane, em declaração publicada pela imprensa paulista – provavelmente lembrando-se do conselho de Romero Jucá em gravação que dizia para retirar as baterias dos celulares nas horas de farra.

Sobre o episódio cibernético da quarta-feira, no qual “viralizou” uma declaração da atriz Maitê Proença dada a um jornal de São Paulo sobre como lavar privadas seria libertador, em sua excursão espiritualista à Índia, deixo o leitor com as palavras do jornalista Leandro Iamin, diretor de conteúdo da nossa companheira de guerra Central3, via redes sociais.

“Os mais chegados sabem de meu ‘apreço’ por Maitê Proença. Alertado por uma amiga, me remexi na cadeira antes de ler a sua entrevista à Folha. Vejam vocês que esta desgraçada nos contou, com aqueles olhinhos verdes brilhantes de dondoca, a receita da liberdade: foi a um retiro espiritual na caótica Índia e, lá, conheceu a ‘meditação do trabalho’, esta atividade realmente misteriosa cujo ápice foi ter a chance de limpar uma privada. ‘Transformador’, disse ela, que afirmou querer ter limpado a dita cuja com a língua de tanta alegria. Para limpar uma privada não precisava ir até a Índia, sua cretina. Bastava pedir para uma de suas empregadas a chance de se sentir livre como elas. Maitê, aquela do 1 milhão e 600 mil reais escondidos no escândalo do HSBC, aquela que pediu para que ‘machos selvagens impeçam a eleição da Dilma’, aquela que não casa para não perder a Bolsa de 24 mil reais por mês que o papai juiz militar deixou de herança quando se suicidou. Em breve, na sua TV, Maitê contará à Angélica em mais detalhes como foi essa experiência incrível de limpar uma privada(...)”.


Raphael Sanz é jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania.

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