Correio da Cidadania

Padre Geraldo: “essa homenagem eu ganhei pelos excluídos”

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Senti muito por não estar presente pessoalmente na sessão solene extraordinária da Assembleia Legislativa (do dia 21 de setembro, à noite), na qual - por iniciativa do deputado Karlos Cabral (PDT) - foi entregue o Título de Cidadão Goiano ao Padre Geraldo Marcos Labarrère Nascimento (jesuíta), “em reconhecimento à sua luta em defesa dos Direitos Humanos e da Juventude ao longo dos mais de 20 anos que viveu em Goiás”. Considero Padre Geraldo um verdadeiro irmão, amigo e companheiro de caminhada.
    
O deputado Karlos Cabral, em seu discurso, destacou o trabalho de Padre Geraldo na Casa da Juventude Pe. Burnier (CAJU). “Homenagear o Geraldo é fazer jus à sua luta e à pregação do Evangelho. Essa luta é muito bem representada pelo Geraldo, que é mineiro, mas se fez goiano de coração. Eu conheci o Geraldo na Casa da Juventude (Caju), um espaço que por mais de 30 anos se fez uma casa de oportunidades e transformou centenas ou milhares de jovens. A Caju marcou muitas juventudes sendo lugar de resistência, de debates, de empoderamento e de proteção”.
    
Em 2006, Padre Geraldo ajudou a criar a Campanha “A Juventude Quer Viver”, que defendia a implantação de políticas públicas de juventude e lutava contra a redução da maioridade penal. No mesmo ano, participou da fundação do “Comitê Goiano pelo Fim da Violência Policial”, quando começou a receber inúmeras ameaças.
    
Karlos Cabral lembrou que - depois da transferência de Padre Geraldo para São Paulo, por causa de perseguições sofridas (devido a denúncias contra a violência policial) e também (acrescento eu) por causa de “interferências religiosas” não esclarecidas - a Caju foi fechada. Com palavras fortes, o deputado afirmou: “Mataram a Caju, e apagaram a vida de muita gente junto, mas não mataram a semente que caiu no chão e dessa semente nasceu o Cajueiro”, que com muita garra e criatividade continua hoje o mesmo trabalho.
    
A ex-vereadora Cidinha Siqueira, militante dos Direitos da Pessoa com Deficiência e propositora da Lei que concedeu ao Padre Geraldo a cidadania goianiense, afirmou: “é uma grande alegria poder estar aqui e falar do Padre Geraldo pois ‘tudo colabora para o bem daqueles que amam a Deus’. Geraldo ajudou a derrubar barreiras do preconceito, da comunicação para as pessoas com deficiência. Em nome de todas as pessoas com deficiência eu agradeço a sua história de vida, o quanto você semeou dignidade da pessoa humana e isso significa muito para nós”.

Carmem Lúcia Teixeira, amiga de Padre Geraldo, disse: “faz tempo que ele está exercitando para ser goiano. Quando o acolhi em Goiás percebi o quanto ele se entusiasmava com tudo que ele fazia e isso nos entusiasmava também. Uma das coisas que percebemos na Caju é que, quando você trabalha com jovens e pobres, terá muitas barreiras pela frente. Ele nos ensinou a enxergar mais longe, porque ele foi educando nosso olhar com sua sensibilidade. Aprendemos com ele que precisamos ter esperanças mesmo que não haja como tê-las”.

A deputada Adriana Accorsi (PT) salientou: "Essa homenagem é importante, corajosa e nos inspira nesse momento que o país passa, não apenas pelo golpe que tira direitos, mas pelo ódio e o preconceito que estão sendo disseminados. Homenagear o Padre Geraldo é muito importante para nos dar coragem e nos inspirar a continuar a nossa luta".

O ex-deputado Mauro Rubem falou da luta do Padre Geraldo. “Você conhece ele na hora do sofrimento, da dor, na hora do velório. Ele não abaixa a cabeça e levanta a voz”.

Por fim, Padre Geraldo agradeceu dizendo: “a gente não se dá conta de que o mundo está andando, que a gente agarra em um anzolzinho e continua agarrado. Eu só trabalho com gente excluída, vamos imaginar uma homenagem aos excluídos. Essa homenagem eu ganhei pelos excluídos, pessoas excluídas estruturalmente e intencionalmente. Não temos que viver pagando pedágio para os outros, nós somos um povo quase adulto, temos que pensar nas pessoas que vivem aqui. O mundo está crescendo e evoluindo, temos que nos adaptar às situações atuais, ao povo, ao respeito. A gente aprende com o povo, com os torturados, com os gays. Nós temos que acreditar que o mundo vai melhorar, mas não na teoria, temos que acreditar na prática. A gente acha que as pessoas são merecedoras de caridade, mas elas são merecedoras de direito. Pessoas merecem respeito, independentemente de quem sejam”.

Para o Padre Geraldo e todos(as) que lutamos por outro mundo possível, a vida não nos pertence, é vida doada. Por isso, o que conta não é o título recebido, mas as pessoas homenageadas: os nossos irmãos e irmãs excluídos e excluídas. Se fosse o título, tenho certeza que padre Geraldo - e todos(as) nós como companheiros(as) dele - ficaríamos sem jeito e até envergonhados(as) por estarmos em companhia de tantas pessoas “não gratas” (más companhias) - como o golpista Michel Temer - que também receberam o título de cidadãos goianos.

Somos felizes, porque atualmente Padre Geraldo mora e trabalha na cidade de Goiás (Fraternidade da Anunciação - Mosteiro da Anunciação do Senhor) e presta assessorias sobre Direitos Humanos em todo o país.

Padre Geraldo, parabéns pelo seu testemunho de vida! Você e eu somos jovens há bastante tempo, mas continuamos na luta. Que Deus nos abençoe e Nossa Senhora da Terra nos acompanhe!

Ver mais: https://portal.al.go.leg.br/noticias/ver/id/153838/cidadao+goiano

Frei Marcos Sassatelli é frade dominicano, teólogo e professor aposentado da UFG.

 

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