Tenotã-mõ, de Oswaldo Sevá

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Rodolfo Salm
20/06/2008

 

Tive, há alguns meses, a imensa satisfação de receber, do professor Oswaldo Sevá, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, o livro "Tenotã-mõ – Alertas sobre as conseqüências dos projetos hidrelétricos no rio Xingu".

 

Tenotã-mõ, da editora International Rivers Network, é uma leitura obrigatória para quem se interessa tanto pelo desenvolvimento quanto pela preservação da Amazônia. Sóbrio, didático e organizado, é robusto como se fosse ele próprio adentrar as trincheiras da batalha pelo rio Xingu. E vai, passando nas aldeias de mão em mão, na bagagem de pesquisadores, subindo rios de canoa, pois o professor Sevá também enviou uma cópia do livro para que seja depositada na coleção da base de pesquisas do Pinkaití. O livrão de 344 páginas está dividido em 11 capítulos assinados por 20 autores, versando sobre aspectos técnicos, históricos, jurídicos e humanísticos dos projetos hidrelétricos; como o assédio da Eletronorte (ou "Eletro-morte" como se brinca por aqui) sobre o povo e as entidades na região de Altamira e as pressões desta companhia sobre os autores do Estudo de Impacto Ambiental; os interesses por trás da necessidade de aumento da oferta de energia elétrica no Pará, que não têm nada a ver com possíveis melhorias na qualidade de vida do povo paraense, mas com a crescente demanda das atividades da mineradora Vale do Rio Doce, que é maior que o Estado (como explica Lúcio Flávio Pinto no capítulo 4); os gases do efeito estufa que seriam emitidos por tais hidrelétricas (capítulo 8, de Philip Fearnside) etc.

 

Tenotã-mõ, na língua dos índios Araweté, do médio Xingu, é uma palavra-chave que significa "ação livro_tenotamo.jpginauguradora" e foi escolhida como título em referência ao gesto da índia kayapó. Uma escolha absolutamente adequada para um livro contestador, que lembra, já em sua mensagem de abertura (assinada por Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu), como os índios Arara do igarapé Penetecaua, que viviam onde hoje passa a rodovia Transamazônica, foram perseguidos por cachorros, e como os que não foram extintos à bala morreram de gripe, tuberculose e malária no início dos anos 1970 com a abertura da rodovia.

 

Acima de tudo, Tenotã-mõ é um nome adequado, pois ele próprio, o livro, também é um gesto inaugurador, para sintetizar uma luta que já dura vinte anos e se prolongará por outros tantos mais (por vários governos e novas edições do livro). Pois, se por um lado, barrar todos os rios é uma "obsessão da engenharia mundial", como observaram Glenn Switkes e o professor Sevá no resumo executivo do livro, por outro, os xinguanos não vão permitir que seu rio de praias de areia branca e corredeiras seja desfigurado em um sistema de lagos assim tão facilmente.

 

Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi.

 

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