São Paulo, abertura da Copa: 'Foi uma das manifestações mais violentamente reprimidas que já vi'

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Pablo Ortellado
13/06/2014

 

 

Dois protestos haviam sido marcados para a manhã da abertura da Copa: uma manifestação contra os impactos da Copa do Mundo e uma manifestação organizada pela Conlutas em apoio aos metroviários demitidos. As duas aconteceriam na zona leste, a quinhentos metros uma da outra e mais de dez quilômetros da Arena Corinthians.

 

A Polícia tinha orientação para não deixar a manifestação acontecer. Mais de trinta policiais recebiam os manifestantes ainda na catraca do metrô e os revistava ou já detinha. Do lado de fora, pelo menos duzentos policiais da choque esperavam os que conseguiam passar. Na concentração, sem que nada tenha acontecido e quando apenas algumas centenas de manifestantes tinham conseguido chegar, a tropa atacou com bombas de concusão e gás lacrimogêneo. Quando o ataque acabava e as pessoas respiravam, ela, sem motivo algum, atacava de novo. Havia mais de uma centena de jornalistas estrangeiros e isso não parecia inibir a arbitrariedade da polícia. Umas dez pessoas devem ter se ferido neste momento, quatro deles jornalistas.

 

Não havia nenhuma possibilidade de sequer reunir os manifestantes e as pessoas que tinham conseguido chegar no protesto se deslocaram para o sindicato dos metroviários, onde cerca de duas mil pessoas apoiavam os demitidos na greve. O ato dos metroviários só foi permitido pela polícia com a condição de que não se movesse. A tropa de choque, que já estava bloqueando a saída para a Radial Leste, logo cercou as demais saídas.

 

A polícia começou a atacar os manifestantes que tinham se unido aos metroviários e os dois grupos se misturaram na correria, o que gerou muitos conflitos entre os metroviários e partidos que queriam respeitar o acordo com a polícia e os manifestantes anti-Copa que queriam exercer o seu direito de livre manifestação.

 

Por cerca de uma hora, a manifestação, que, somada, deve ter reunido 3 mil pessoas, foi atacada com bombas de concusão e gás lacrimogêneo. A maior parte dos manifestantes se protegeu no prédio do sindicato, mas muitos ficaram de fora. Acredito que tenhamos tido outros vinte feridos neste momento.

 

Depois de muitas idas e vindas, a polícia "autorizou" que a manifestação se dispersasse e os manifestantes se dirigissem de volta ao metrô. Enquanto as pessoas se dirigiam à estação, muitas bombas eram jogadas para acelerar a dispersão. Tivemos vários feridos novamente.

 

Com a chegada de muitos manifestantes no metrô Tatuapé, os protestos retomaram por lá, assim como a ação repressiva da polícia. Não consigo estimar os feridos, mas deve ter havido algumas dezenas, talvez tenham passado de cem. A polícia atacou gratuitamente e com muita violência - não há duvida que as garantias dadas pelo Governador Geraldo Alckmin e a presidenta Dilma Rousseff de que o direito de manifestação seria respeitado não foram cumpridos.

 

Foi uma das manifestações mais violentamente reprimidas que já vi. E como a ação repressiva foi articulada pelo governo estadual e federal, podemos esperar aquele silêncio político que uniu petistas e tucanos na repressão ao MPL durante a luta contra o aumento das passagens em 2013.

 

Boa Copa a todos e todas.

 

Pablo Ortellado é professor da Universidade de São Paulo (USP).

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